Trabalho numa equipa onde sou a única mulher. É verdade que a minha empresa é maioritariamente masculina, dada a natureza do negócio, mas a minha equipa é das mais afectadas pelo desequilíbrio de género. Dela faziam parte no passado outras duas mulheres mas, como trabalhavam a partir do escritório de Londres, eram como que invisíveis para mim.
Sempre gostei de trabalhar com homens. São, no geral (e sublinho no geral, porque sei perfeitamente que existem as excepções à regra), menos complicados, mais focados no trabalho e menos distraídos com os fait-divers pessoais e profissionais. Nos meus dez anos de trabalho, a competição menos saudável a que pude assistir teve sempre origem em mulheres mas se calhar tive azar. Ou sorte, depende da perspectiva.
Mas cheguei ao ponto em que tenho uma ponta de saudades de trabalhar com mulheres. Tenho saudades da sensibilidade e ponderação, tenho saudades da humanização dos números e gostava de não ser a única mulher da equipa. Ser uma mulher numa área comercial que se especializa em hardware e, especialmente, em software é extremamente difícil. Entra-se para reuniões e é preciso combater os olhares que desconfiam que sejamos competentes para a posição com a única postura possível: a de que somos as melhores, de que não existem dúvidas que nos atormentem, que somos profissionais capazes, mesmo quando a coisa se torna tecnicamente mais complicada. Na minha responsabilidade geográfica (a Península Ibérica), os clientes que participam nas reuniões são também eles maioritariamente homens, directores de finanças ou de informática, gente que também já viu muito mundo mas que nem assim se consegue livrar da ideia de que a mulher é um bocadinho menos capaz do que o homem e que pede a presença de um técnico da reunião porque se sente "mais reconfortado". Mesmo que eu lhe pudesse explicar exactamente o mesmo.
É verdade que há aquele momento em que sinto a satisfação de poder levar o processo do início ao fim sem precisar de uma benção masculina e a euforia de ser tratada de igual para igual. Eu não devia sentir isto em 2016. Eu devia apenas ficar feliz quando cumpro as minhas funções como esperado e eufórica quando supero as minhas expectativas. Mas nem tudo é mau e é claro que muita gente me considera suficientemente competente na minha área. Só que às vezes ponho-me a pensar que, se para mim é difícil vingar numa posição privilegiada num país de primeiro mundo, para mulheres em situações verdadeiramente desfavorecidas deve ser o pesadelo total. Faço o que posso para lutar contra este estigma: preparo-me bem, admito quando tenho dúvidas, procuro respostas, raramente vacilo. Mas há dias em que uma mão feminina me fazia muita, muita falta. Nem que seja para falar da filharada mas para sobretudo eu sentir que não estou sozinha entre as feras.