abril 13, 2016

Sete anos de muita coisa

Faz hoje sete anos que começámos a namorar. Acho que não o sabia muito bem nessa altura mas já estava a acontecer. O meu avô paterno fazia oitenta e muitos anos neste dia mas já não estava em condições de celebrar. O meu avô materno havia de morrer dois dias mais tarde e nunca me hei-de esquecer de como aquele que é hoje o meu marido tentou amparar-me a queda e prepara-me para o que estava a acontecer. Enviou-me uma mensagem, com todo o amor e carinho que sempre lhe conheci, dizendo que me devia preparar e que a partida do meu avô estava para breve. Um mês antes disso, a sua mãe tinha também partido.

Comemorar o nosso dia nesta data traz-me mixed feelings. Por um lado, a alegria serena de saber que estou com a minha pessoa, a mesma que nunca desistiu de mim, que insistiu e peserverou até roçar o chato, que decidiu que iríamos ter filhos juntos (mesmo quando eu gritava Que horror!), que sempre gostou de mim de uma forma desinteressada e aberta, que nunca desapareceu. Por outro lado, é impossível esquecer a atmosfera em que vivemos este começo: tanto luto, eu e ele, o meu avô materno quase a morrer, o avô paterno debilitado por acidentes vasculares cerebrais consecutivos, a mãe dele já a olhar por nós noutro sítio melhor, as igrejas frias, a comida que os amigos nos levaram a casa como conforto, a chegada a casa noite cerrada e toda a gente à nossa espera para podermos chorar abraçados.

Foi difícil não confundir o princípio da nossa relação com a profunda carência afectiva de que sofríamos os dois naquela altura. Foi difícil distinguir o que era o abraço amigo e o sólido apoio moral do que era o romance que se insinuava entre nós há algum tempo. Mas a verdade é que passaram sete anos e nós continuamos aqui, enquanto os meus avôs e a sua mãe nos espiam lá de cima. Eu não quero misturar as coisas, nem quero tirar importância a tudo o que vivemos naquela altura mas a verdade é que, no meio do nosso bem querer, havia muita dor.

Nunca tive uma relação tão longa. Sete anos impressionam-me, especialmente se prestar atenção ao padrão do que são as relações hoje em dia. Sete anos passaram num instante, mesmo que nos dias maus o tempo pareça não se mover. Sete anos, dois filhos, uma mudança de país, uma nova casa, muitas viagens - talvez o meu marido seja mesmo a minha maior riqueza. É a pessoa mais lúcida e justa que conheço (pai e mãe, vocês não contam, tá?), é o marido mais realista. É engraçado mesmo quando não tem graça nenhuma e a isso devo não ficar zangada com ele por longos períodos de tempo. Quando éramos amigos, muita gente não o entendia e eu ficava triste. Agora, se alguém não o entender, não me importo porque eu sei exactamente como ele é e acho que quem não o compreender é que perde. Tem os seus defeitos (olá, divisão igualitária das tarefas domésticas!) mas nós divertimo-nos tantos com as pequenas estupidezes do dia a dia que nos vamos arranjando como podemos. Às vezes ele quer estar sozinho e nós perseguimo-lo porque gostamos muito de estar com ele - ele chateia-se um bocado mas logo se desfaz em graças para a pequena e em desafios para o mais velho.

Não sei se vamos estar casados para sempre mas gosto de pensar que sim. Não sei se a vida nos vai mudar, se vamos deixar de querer fazer planos a dois, se vamos continuar a rir das mesmas coisas mas espero que estejamos juntos por muitos e longos anos. Porque eu acho que só eu é que aturava um chato destes e só ele é que podia aguentar com a montanha russa de emoções que foram este sete anos para mim. E por isso, sinto que estamos feitos um para o outro, mesmo nos dias em perco um pouco a fé no amor. Não no nosso, mas no que vejo por aí. Pelo sim, pelo não abrimos hoje uma garrafa de vinho e celebramos as bodas de lã :)

5 comentários:

Dalma disse...

Querida, que estes 7 se multipliquem por outros 7. Bjis

Helena Barreta disse...

Muitos parabéns. Viva o amor.

Dalma disse...

Querida, passo assiduamente no "segundo capítulo" mas ainda não acertei no "como comentar" por isso digo-te aqui de como acho belíssimos os teus textos! Muito, muito cuidados!
Bjis

Joana disse...

Uma bela homenagem. Que venham mais sete!

ana cila disse...

"Foi difícil não confundir o princípio da nossa relação com a profunda carência afectiva de que sofríamos os dois naquela altura. Foi difícil distinguir o que era o abraço amigo e o sólido apoio moral do que era o romance que se insinuava entre nós há algum tempo."

Às vezes penso isto sobre pessoas que se aproximam ou que eu me aproximo. E normalmente fujo. Tenho o meu sistema emocional tão defeituoso que já só reajo em desajuste e parvoíce. Por isso, tão bom ler isto. Duas pessoas que foram além, viram e sentiram além. É isso o amor. Esta tua descrição (de todo o post) é a minha definição de amor.

Parabéns a ambos. <3