maio 30, 2016

Luxemburgo-Lisboa-Portalegre-Lisboa-Luxemburgo


É muito mais fácil queixarmo-nos, eu sei. É tão mais fácil sucumbir à crítica pela crítica, deixarmo-nos afogar num mar de pessimismo, esquecimento e ingratidão. Deixei de comer na cozinha com outros colegas exactamente para não ser arrastada para esta espiral de queixumes em que se tinham tornado os meus almoços. Não sou pela corrente de optimismo e crença profunda no karma mas a experiência tem-me ensinado que mais vale apreciarmos o que temos, mudar quando não nos sentimos confortáveis, agir sempre que for necessário - em vez de chorar a falta de mudança. Mesmo este ano, quando estive menos certa daquilo que estava a fazer, comecei a mover-me para encontrar uma alternativa que, no fim, não foi necessária. Mas procurá-la era fundamental para sentir que estou no controlo da minha vida. Não sou cega nem sou tão facilmente influenciável que chegue a pensar que trabalho na empresa ideal. 

Trabalho aqui há quase quatro anos e vi muitas coisas a acontecerem, outras tantas a mudarem - muitas drasticamente. Pessoas entraram e saíram, o negócio deu uma cambalhota ou duas mas a essência dos seus princípios e, acima de tudo, a competência e humanidade dos seus funcionários raramente foram abalados. Muitas vezes desejei não trabalhar com certas pessoas ou achei que a estratégia não seria a mais acertada mas se fiquei, foi porque acredito neste projecto e porque, uns dias mais, noutros menos, sinto-me em casa. Posso vir trabalhar descansada porque o ambiente não é hostil, porque a competitividade pouco saudável não existe, porque entendem que às vezes a família fala mais alto, porque há quem acredite em mim. Deixar tudo isto só para ir procurar mais dinheiro ou um status social diferente seria um erro. Ainda bem que parei a tempo. E depois há sempre aquela coisa espectacular de ter de viajar em trabalho... para Portugal. Ser responsável por um mercado que coincide com o meu país de origem é mais do que podia pedir num emprego no estrangeiro. Poder falar a minha língua, conhecer bem a realidade do país, orgulhar-me do que já conseguimos fazer in loco - isto não tem preço. 

Na semana passada, pude passar quatro dias em Portugal, em que dois foram turismo puro, porque coincidiram com o fim de semana. Abracei a minha família, vi alguns amigos, comi bem e até quase não aguentar mais, trabalhei sempre que pude e trouxe boas notícias para casa. Só não trouxe o bom tempo, o peixe fresco, as festas de Lisboa, as festas de Portalegre, os filhos dos meus amigos, a minha irmã e os meus pais, a minha rua e os meus vizinhos que, depois de dez anos, ainda são capazes de não me conhecer quando nos cruzamos na rua. Não trouxe o silêncio de Portalegre, o humidade de Lisboa, os turistas a perder de vista e as esplanadas onde apetecia estar - em troca, voltei para as trovoadas, a chuva forte, a Primavera que teimou em não aparecer e o Verão que parece ainda estar longe. Mas voltei para os braços da minha pequena família, que já sentia a minha falta. E voltei para o escritório onde, uns dias mais, outros menos, a gente me quer bem. 

Há-de haver mais viagens, mais negócios à minha espera, hei-de poder juntar mais vezes o útil ao agradável. E agradecerei, sem floreados e crenças no destino, poder continuar assim a trabalhar. Porque às vezes é preciso estar no sítio certo à hora certa. E noutras há que trabalhar para agarrar essa fortuna.

1 comentário:

Helena Barreta disse...

Também sou pelo agradecer, valorizar e apreciar o que temos do que o queixume do que não se tem.

Que bom que deve ter sido regressar a casa com o coração cheio de afectos.

Um abraço