setembro 23, 2016

Acreditar em histórias de amor

Não posso ficar imune a esta história do divórcio mais mediático dos últimos tempos. Desde que Angelina e Brad decidiram divorciar-se que a minha wall no Facebook é um multiplicar de anúncios, artigos, análises a qualquer coisa que devia ser privada mas que, mercê do seu estatuto de estrelas, se tornou numa coisa pública. Mesmo que eu não queira saber detalhes sobre esta separação, diversos orgãos de comunicação social que eu (de livre vontade, é claro) subscrevi insistem em dissecar as razões, as cronologias e, pior, as culpas de cada um neste processo. E depois, além disto que me parece mau o suficiente, ainda existem as centenas, os milhares de comentários em todos eles, acusando um e outro de coisas impossíveis de provar e muito menos de saber - afinal, de onde é que os conhecemos assim tão bem?

São então vários os motivos que me levam a deitar este divórcio pelos olhos: a multiplicação das "notícias", a especulação sem a qual a imprensa dificilmente viveria, os comentários inflamados da pessoa dita "normal" que acha que pode julgar e condenar duas pessoas que não conhece em praça pública só porque são, claro está, figuras públicas. Mas há ainda outra coisa que me aborrece ainda mais nesta história: o facto de que muitas pessoas a consideravam o maior exemplo das histórias de amor. Um dos comentários mais frequentes que já li por aí é "Ai, se até eles se separam, o que há-de acontecer ao comum dos mortais?", como se eles fossem o exemplo a que todos devemos aspirar no que a amor diz respeito.

As únicas razões para as pessoas acharem que esta é uma linda história de amor, acima de qualquer suspeita e certamente livre de qualquer defeito, é o facto de serem duas pessoas muito atraentes e o facto de serem estrelas de cinema à escala mundial. É incrível que se pense que apenas essas duas condições podem constituir a garantia da felicidade, da fidelidade, possam construir as fundações do amor. Todas as pessoas se esquecem que os nossos ídolos têm (mais vezes do que gostaríamos) pés de barro e que, bem lá no fundo (se retirarmos as estreias, as lantejoulas, os milhões), são apenas pessoas como nós. 

Para mim, histórias de amor são como a dos meus pais, por exemplo, que depois de quarenta anos continuam casados, bem ou mal, com mais ou menos dias difíceis, atravessando todo o tipo de dificuldades (especialmente as criadas pelas filhas...) e ainda encontrando o que conversar todos os dias. Tem glamour, esta história? Não, nenhum. Tem rios de dinheiro a correr entre cada vitória ou entre cada discussão? Infelizmente não tem. Mas tem todos aqueles componentes das verdadeiras histórias de amor: paciência, amizade, humor, convicções, lutas, momentos de verdadeiro desespero e verdadeira superação, fezlimente não documentados para metade do mundo opinar, como se esse fosse um direito fundamental. A história de amor de Angelina e Brad pode mesmo ter sido isto tudo, com a diferença de estar precisamente debaixo do spotlight. No fundo, não creio que eles tenham culpa que tanta gente tenha idealizado a sua história de amor.

Bom, bom era que as mesmas pessoas que consideravam que esta era a relação-modelo olhassem à sua volta e percebessem que o Amor está em todo o lado, nas mais variadas formas, nos mais pequenos gestos e que é tudo menos perfeito. Talvez assim estes dois pudessem divorciar-se em paz e nós pudéssemos não ser bombardeados com tanta informação inútil e tanta opinião infundada.

2 comentários:

м disse...

Concordo em absoluto. Só porque são bonitos, famosos e têm dinheiro, não quer dizer que tenham o que é necessário para a vida em conjunto e para um amor sem fim. Uma relação é muito mais que isso. Penso que é precisamente por serem bonitos, famosos e cheios de dinheiro que a coisa tem mais potencial para correr mal. São constantemente alvo de atenção, de escrutínio, de calúnias e falsos affairs só porque sim. Ser giro, famoso e rico é meio caminho andado para o mundo querer ver o que há de mau na vida deles e levarem isso ao extremo. É necessário terem ambos uma força psicológica muito elevada e um sentido de amor e confiança no outro ainda maior, para sobreviver a esta pressão constante.

Não me choca nada que eles se tenham divorciado e, sinceramente, nem quero saber (para lá da empatia obvia que sinto por um casal humano que passe pela mesma situação). Relações começam e acabam todos os dias e ninguém se dá conta nem quer saber. Pior seria um casal que eu conhecesse, com quem privasse, ou até mesmo eu e ele, os meus pais, sei lá. Que me interessa particularmente a separação de um casal com quem nunca privei? O problema é que as pessoas vêem neles um exemplo, a história de amor a seguir, quando deveriam era olhar para os seus, os pais, os amigos, os tios, pessoas normais com dificuldades várias e que conseguem levar isto do amor até ao fim dos dias. Isso sim, é de louvar!

Dalma disse...

Só porque há pessoas que "vivem as vidas alheias" através das revistas mais ou menos cor de rosa é que há este sururu!