Quando eu dizia que sentia que este bebé não chegaria às quarenta semanas de gravidez, não esperava que chegasse tão cedo. Uma coisa é ler histórias de bebés prematuros ou até mesmo conhecer quem tenha passado por isso mas ninguém nos prepara para um embate assim.
Antes de mais, devo dizer que o nascimento do Augusto não foi um caso extremo de prematuridade: afinal, ele já contava trinta e cinco semanas de gestação, estava mais ou menos pronto a nascer, tinha um peso muito aceitável. Não se pareceu, por isso, com os casos mais dramáticos de bebés prematuros que às vezes vemos. Ele não corria perigo de vida mas o protocolo do hospital obriga a que todos os bebés nascidos antes das trinta e seis semanas passem directamente da sala de parto para o serviço de neonatologia.
Esse foi o primeiro choque: eu tinha acabado de dar à luz um bebé que parecia saudável (um índice Apgar de 9) mas alguém entra na sala para o levar numa incubadora. Tive apenas direito a uns segundos de pele a pele, o bebé não pôde mamar - só tive tempo de lhe dar um beijo e deixei de o ver. Naquele momento, e apesar de me terem avisado logo quando dei entrada no hospital, atingiu-me um sentimento de perda gigantesco: se eu tinha dado à luz um bebé, por que raio estava agora sozinha na sala do recobro? Depois, talvez por falta de organização da maternidade ou talvez porque o protocolo assim o exija, esperei quase oito horas para poder rever o meu filho. As horas passavam e ninguém me vinha buscar para me ensinar o caminho até à neonatologia, o que só aconteceu quando o pai e os irmãos chegaram para a visita. Eu estava já perto de desesperada: sem voz, extenuada, a sentir que me tinham roubado tempo precioso com o meu bebé.
Como nos outros partos, sentia-me bem o suficiente para andar pelo meu próprio pé. Deve ser aquela adrenalina do parto normal, toda eu cheia da sensação de que posso tudo, dividida entre o orgulho de ter trazido um ser humano ao Mundo e do cansaço a que isso obriga. Com uma auxiliar, entrei pela primeira vez no serviço de neonatologia pelo meu pé e o meu coração caiu quando vi o meu bebé numa incubadora. Não sei o que esperava ver, para ser honesta. Não estava entubado, tinha apenas um cateter na mãozinha e eléctrodos que lhe monitorizavam os batimentos cardíacos, a saturação do oxigénio, a respiração. Era o meu bebé, ligado a máquinas, que às vezes disparavam em alarmes assustadores mas que garantiam a sua vigilância próxima. Ao terceiro dia, ele pôde sair da incubadora e ficou apenas numa cama aquecida, já que o seu estado de saúde evoluía satisfatoriamente.
Os meus dias passaram a ser um vaivém constante entre o meu quarto para comer, tomar banho e extrair leite e a neonatologia, onde tratava do meu bebé sempre que possível. Esta distância implicou que a amamentação tenha ficado para segundo plano mas apesar disso o leite materno é tudo o que o tem feito crescer. Durante aquela semana, ele bebia quantidades pré-estipuladas de leite a horas também previamente estabelecidas, sem qualquer possibilidade de livre demanda, como aconteceu com os dois irmãos. Ainda não desistimos de mudar isso mas temos precisado de ajuda e de uns shots de confiança externos.
O bebé Augusto está a crescer bem e num instante recuperou o peso de nascença. Ainda é muito pequenino (completaria hoje trinta e oito semanas de gestação), pouco mais faz do que comer e dormir. Mas é muito amado pela família, tem dois irmãos que querem sempre estar perto dele e faz as delícias das pessoas que espreitam para o nosso carrinho. Agora, é tempo de crescer cá fora. O pior já ficou para trás.