junho 11, 2017

Dia da Mãe para mim, que sou muitas mães diferentes

É amanhã que se comemora o dia da Mãe aqui no Luxemburgo. Como as escolas estiveram de férias esta semana, as prendas vieram antecipadas, porque os miúdos não quiseram perder tempo. Antes das férias, ainda fui uma manhã à escola do Vicente participar na tradicional actividade do dia da Mãe. Este ano assistimos a uma canção que eles ensaiaram durante umas semanas, tomámos o pequeno-almoço juntos e eu comecei a magicar no que vai acontecer quando os outros dois também tiverem actividades destas. Como vou multiplicar-me para participar em três celebrações diferentes?

Desejos de ubiquidade à parte, a verdade é que eu sou mesmo três mães diferentes. Sou a mãe mais paciente, melhor ouvinte e deslumbrada com o mais velho. Ele foi o único filho durante quatro anos, três dos quais passámos aqui, longe de tudo, apenas uma ilha de três. Ele teve muita da nossa atenção indisputada, ele teve brinquedos feitos de cartão inventados por nós, teve o nosso amor concentrado num ser pequenino e sempre de coração na boca. Ele teve direito a mil fotografias, a um blog só dele, ele foi o nosso primeiro teste de força.

Depois sou a mãe autoritária e disciplinadora com ela, que sofre da síndrome do filho do meio. Ela foi muito esperada e desejada: tínhamos o rapaz, ela vinha fazer o pleno e realizar aquele sonho banal de ter um casalinho. Ela esgotou-me as forças e fez-me bater fundo, obrigou-me a pedir ajuda e fez-me desejar estar sozinha. Ela é absorvente, insistente, ela é teimosa, ela desafia-nos a todos os minutos, ela quer e ela tem de ter. Dizem que é por ser menina, não sei. Só agora está a começar a conseguir expressar-se (em paralelo com o Português e o Francês, o mundo começa a fazer sentido naquela cabecinha dela) e só agora mostra algumas atitudes espontâneas de carinho. Ainda ontem fez uma birra tal que o empregado do hotel me sugeriu que podíamos esperar com os miúdos lá fora - é este o género. É a menina do papá e isso às vezes magoa-me

E finalmente sou a mãe do bebé, do pequenino que veio desequilibrar as contas. Do filho que dorme melhor, que é mais mansinho e que mais precisa de mim agora. Do bebé a quem beijo talvez mais do que ele gostaria mas é necessário porque ele é o meu último bebé e não vou poder mais beijar bochechas pequenas assim. Sou a mãe que o trata como porcelana, que ainda tem perguntas sobre coisas de bebés mas que já confia (um bocadinho) mais no seu instinto.

Também sou a mãe mais desequilibrada que conheço: tão depressa tenho dias em que sinto que consigo tudo - tratar da casa, resolver problemas, tratar dos miúdos sem pestanejar - , como tenho dias de nervosismo e exaustão, em que tudo me parece impossível e em que me sinto uma falhada em qualquer passo que dê. Se há coisa que os meus filhos me deram, foi a capacidade de olhar para as minhas conquistas e as minhas fraquezas com muita transparência e sentido auto-crítico. O que (infelizmente) não me deram foi a capacidade de perdoar os meus próprios erros, a habilidade para distinguir o que é obrigatório do que é supérfluo, a aceitação da realidade: é impossível estar em todo lado, o tempo todo, com as minhas qualidades intocadas.

Estas férias deixaram-me fragilizada, especialmente no papel de mãe. O cansaço, o desfasamento entre o comportamento que eu desejava nos meus filhos e aquele que eles realmente têm, uma alergia dos diabos a qualquer coisa que ainda não sei o que é levaram-me ao limite. A fragilidade teve o seu pico numa estação de serviço alemã, quando eu enfiei a chupeta da miúda no bebé e não conseguia encontrá-la. Chorei desalmadamente quando percebi a dimensão do meu cansaço, enquanto eles riam a bandeiras despregadas - afinal, aquilo era divertido! E descarreguei um valente pedaço de stress mas ainda não o suficiente para me sentir normal outra vez. Ter parido três filhos faz-me sentir uma super mulher mas educá-los traz-me de volta à realidade. Mesmo em silêncio, hei-de celebrar o dia da Mãe porque não há nada, mesmo nada na minha vida tão importante e tão difícil ao mesmo tempo.

2 comentários:

Dalma disse...

Como não havias de estar exausta depois do vosso périplo Escandinavo com 4 crianças tão pequenas! As viagens são sempre stressantes, digam o que disserem!

Dalma disse...

3 crianças queria eu dizer!