Amália celebrou o seu terceiro aniversário na Segunda que passou. Como seria de esperar, houve muito choro e muita birra mas também aquela doçura de menina e aquela insistência chata de querer tudo em cor de rosa.
Às vezes penso (mesmo a sério) que ela veio ao mundo com o objectivo de me educar a mim e, em última instância, de me atazanar tanto o juízo que começo a ver tudo vermelho. Passámos estes últimos dias com os meus pais que, mais uma vez, puderam comprovar que ela chora por tudo e por nada: não quer acordar, não quer ficar na cama, não quer um vestido, não quer calças, não quer leite, não quer sopa, não quer ver bonecos, não quer ver estes bonecos, não quer lavar os dentes e, mesmo para acabar o dia, não quer dormir.
É a filha do meio e é mulher, ainda por cima, dizem-me por aí. Eu compreendo esta coisa do filho do meio ser meio esquecido: o mais velho já se desenrasca sozinho; o mais novo ainda precisa de nós para tudo. O filho do meio precisa e não precisa, tudo ao mesmo tempo. Mas a necessidade de atenção desta pequena Amália é tal que uma pessoa fica fora de si. Várias vezes por dia. Ora passa o dia a cuspir, ora bate em todos os colegas da creche, ora aperta o pescoço do bebé com os seus abraços descuidados, ora arranca das mãos do irmão mais velho tudo o que ele consegue apanhar. Foge quando queremos mudar-lhe a fralda, exige cuecas para fazer chichi nas mesmas segundos a seguir, salta na cama quando os dois irmãos já adormeceram.
Talvez a minha luta seja porque ela é mulher e eu lido mal com os constantes desafios. Respiro fundo muitas vezes e tento dar aos seus comportamentos a importância que realmente merecem mas depois de minutos a fio de choro descontrolado, de gritos e inflexibilidade, a coisa dá-se. Como outros miúdos, de manhã não quer ficar na creche e à tarde não quer ir para casa. Às vezes não quero acordar nem regressar a casa para não me deixar abater por aquilo que muitos chamam personalidade forte e eu chamo apenas teimosia pura.
Mas Amália é uma doçura também, com aquela ingenuidade de uma menina de três anos que me pergunta se o passador serve para caçar borboletas. Não pode ver-me a chorar que chora ela também por solidariedade. Não pode passar sem o seu 'Centinho (quer saber onde está, quando regressa da escola, se também vai dormir) para o bem e para o mal. Ri-se de tudo o que ele se ri, imita-o em tudo e segue-o pela casa fora. No outro dia, fez o seu primeiro puzzle pela primeira vez e ficou super orgulhosa. Desenha muito melhor do que o irmão com a mesma idade e faz tudo com muito mais cuidado do que o irmão: com três anos, quase pode tomar duche sozinha.
Não herdou a feminilidade da sua mãe, infelizmente. Mas chega a casa e só quer vestidos de princesa, tudo deve ser cor de rosa, quer o laço e os sapatos da Minnie. Gosta de fios e pulseiras, quer cremes como gente grande e anda a chatear-me para furar as orelhas. É um balanço muito curioso entre todas as coisas de meninas e dois irmãos que não estão obviamente para aí virados. Amália tanto joga à bola como está pela casa varrendo o chão, divide a atenção pela Princesa Sofia e pela Patrulha Pata - no fim, guarda o melhor de dois mundos.
Eu sei que me queixo muito dela. Eu examino as minhas reacções e reconheço que talvez dê demasiada importância às coisas más em detrimento de todas as coisas boas que a nossa filha faz, traz e é. Muitas vezes o cansaço não ajuda nada. Muitas vezes há um irmão que precisa de ajuda nos trabalhos de casa e outro que precisa de colo para acalmar os dentes que aí estão. E ela está no meio, a precisar do mesmo colo, a precisar que cantemos com ela ou que nos sentemos a ver um livro com calma. E eu sei que os outros também precisam de mim mas o meu compromisso é também com ela, para que ela nunca se sinta posta de parte e perca, finalmente, este síndrome de filho do meio.
1 comentário:
Querida, a Amália tem o comportamento normal de uma menina de 3 anos para mais sendo a do meio...
Beijinhos e a recomendação é apenas, paciência, embora saiba que nem sempre é fácil.
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