"Disponível para amar", de Kar Wai Wong (2000). A história desenrola-se em Hong Kong, onde uma mulher e um homem (com respectivos marido e mulher) alugam apartamentos lado a lado. A suspeita de que ambos os cônjuges mantém relações extra-matrimoniais cresce todos os dias, assim como o fascínio que parecem exercer um sobre o outro. Su Li-zhen Chan (interpretada pela belíssima Maggie Cheung) encarna o amor platónico, reservado e tímido, nunca disposta a quebrar as regras do casamento. Chow Mo-wan (interpretado pelo sedutor Tony Leung Chiu Wai) encarna o amor-desejo, curioso e menos contido mas respeitador.
O fim, longe de ser um "happy ending" mas também não propriamente sendo triste, abre caminho para a também aclamada sequela - "2046". Partindo de um argumento quase inexistente, Kar Wai Wong assina um ensaio onírico sobre a traição, explorando o mundo de quem é traído. Pouco (nada?) se sabe sobre os motivos pelos quais ambos os casamentos não funcionam, apenas sabemos o que liga Chow e Su: o isolamento dentro de um casamento (aparentemente) disfuncional, o interesse mútuo por revistas de artes marciais ou o facto de ambos irem buscar noodles a um restaurante perto de casa.
A banda sonora é bastante boa e, conjugada com os sequências em câmara lenta, resulta em momentos verdadeiramente mágicos. Nem os meus receios (infundados) de não gostar do cinema produzido no Oriente conseguiram impedir de achar o filme uma delícia.