Pela primeira vez em muitos anos, levantei-me cedo (não necessariamente por obrigação, mas especialmente porque perdi a capacidade para dormir até tarde) e fui à piscina com o meu pai. Já gozaram comigo, dizendo que me tornei numa menina exemplar. Mas não. Além do bilhete de borla, a boleia e a protecção (mesmo sendo desnecessária), esta manhã trouxe-me de volta algumas recordações. Eram coisas que odiava na altura e de que, mesmo passados muitos anos, não sei ainda se gosto. Estranhamente, o acto de recordar foi bom.
[...]Há muitos anos, as manhãs de Domingo estavam reservadas à ida familiar à piscina. Os meus pais ainda se divertiam com isso, a minha mãe preparava o lanche e íamos os quatro queimar os pés naquele pavimento que se transformava em fogo a partir das 11 da manhã. Não sei exactamente o que fazíamos lá mas sei que era divertido. A pior parte vinha depois. A hora do almoço dizia que tínhamos que voltar para casa e assistir ao Grande Prémio de Fórmula 1 da praxe. Isso era uma das coisas que estragava todo o fim de semana. Ainda hoje detesto a sensação de me deitar para a sesta, enquanto ouvia o barulho dos carros, em voltas aborrecidíssimas a um circuito fechado. Depois da sesta vinha a outra parte má: passear de carro, enquanto o meu pai ouvia os relatos de futebol do fim de semana. Parávamos em miradouros e abríamos as portas, para deixar escapar o tédio. Parece-me incoerente mas tenho saudades de uma coisa que sempre odiei [...]
Era cedo mas já estavam dois ou três madrugadores dentro de água, hoje. Pela primeira vez, naquela piscina, estendi a toalha numa espreguiçadeira e senti-me como uma turista num hotel de 5 estrelas. A água estava óptima, o sol estava indeciso. Chegaram os habituais miúdos, que jogam ao imita o dia todo e nunca se cansam. Eu só nadava, para trás e para a frente. O meu pai falava com velhos conhecidos, sobre o passado (claro!) e sobre o ano em que foi campeão de andebol (pensei 'O que mais não sei sobre ti, pai?'). Voltámos para casa, a hora do almoço tinha chegado depressa.