Pela quarta vez em 8 anos, mudei de casa em Lisboa. E agora mudei para onde nunca me imaginei a morar: sou menina de Telheiras, agora. O meu coração estará para sempre ligado à zona de Arroios e dos Sapadores, zonas que não são apreciadas por muita gente. Diz-se que são zonas escuras, sujas, pobres mas talvez sejam apenas mais reais. Mesmo a rebentar pelas costuras com os imigrantes que aparecem de todo o lado, aqui há lojas com fruta verdadeira, cafés bem tirados e esplanadas com caracóis dos bons. A zona que circunda a minha nova casa tem pastelarias mais finas, hipermercados e, desgraça das desgraças, o estádio do Sporting quase sempre no horizonte.
É claro que posso alegar que a casa é mais barata. E que, finalmente, moro numa vivenda (horrível mas vivenda). E que até tenho um super ginásio quase à porta. Mas este mundo é muito menos habitado que a Morais Soares. As pessoas moram aqui mas não estenderam aqui as suas raízes, só aqui estão porque há espaços verdes e as crianças podem andar no ballet e no inglês e na informática e porque o eixo Norte-Sul passa aqui ao lado. Quem nasceu verdadeiramente em Telheiras deve ter hoje 15 ou 16 anos, cabelo irritante a cair sobre a testa e gostar de frequentar essa epidemia chama Cup&Cino (ou lá como se escreve o nome desta cópia portuguesa do Starbucks). Mas não vou lutar contra isto tudo. Já lá estou, quero continuar a estar, vou só deixar que tudo me passe ao lado.
Outro mal das mudanças é que temos que agarrar (quase literalmente) na nossa vida e levá-la para outro lado. E quem, como eu, já está fora de casa há oito anos sabe como é difícil carregar toda a tralha que se junta numa casa, em duas casas, três casas... A fase de escolha do que se vai levar é sempre penosa: enchem-se sacos com roupa que já não nos serve, amarrotam-se bilhetes de cinema que não se sabe muito bem porque foram guardados, esvaziam-se gavetas empenadas com inutilidades. Depois é preciso contar com a ajuda masculina (que, além da força, oferece também aquela magnífica capacidade de se saber exactamente como devemos arrumar coisas na mala de um carro), com mais mulheres dispostas a limpar o rasto de destruição que vai ficando (porque uma mudança é um ataque terrorista a um pedaço de via que já estava a ser edificado) e uma certa capacidade de lidar com o Novo. Finalmente, recomenda-se uma boa capacidade de ignorar, com elegância e convicção, os momentos bons que se passaram na casa que vamos deixar (para não rebetarmos em lágrimas inúteis) e esperar apenas pelo bom que a nova morada pode trazer. E como quando saio de casa todos os dias o que vejo é isto, sei que vai de certeza ficar tudo bem.
É claro que posso alegar que a casa é mais barata. E que, finalmente, moro numa vivenda (horrível mas vivenda). E que até tenho um super ginásio quase à porta. Mas este mundo é muito menos habitado que a Morais Soares. As pessoas moram aqui mas não estenderam aqui as suas raízes, só aqui estão porque há espaços verdes e as crianças podem andar no ballet e no inglês e na informática e porque o eixo Norte-Sul passa aqui ao lado. Quem nasceu verdadeiramente em Telheiras deve ter hoje 15 ou 16 anos, cabelo irritante a cair sobre a testa e gostar de frequentar essa epidemia chama Cup&Cino (ou lá como se escreve o nome desta cópia portuguesa do Starbucks). Mas não vou lutar contra isto tudo. Já lá estou, quero continuar a estar, vou só deixar que tudo me passe ao lado.
Outro mal das mudanças é que temos que agarrar (quase literalmente) na nossa vida e levá-la para outro lado. E quem, como eu, já está fora de casa há oito anos sabe como é difícil carregar toda a tralha que se junta numa casa, em duas casas, três casas... A fase de escolha do que se vai levar é sempre penosa: enchem-se sacos com roupa que já não nos serve, amarrotam-se bilhetes de cinema que não se sabe muito bem porque foram guardados, esvaziam-se gavetas empenadas com inutilidades. Depois é preciso contar com a ajuda masculina (que, além da força, oferece também aquela magnífica capacidade de se saber exactamente como devemos arrumar coisas na mala de um carro), com mais mulheres dispostas a limpar o rasto de destruição que vai ficando (porque uma mudança é um ataque terrorista a um pedaço de via que já estava a ser edificado) e uma certa capacidade de lidar com o Novo. Finalmente, recomenda-se uma boa capacidade de ignorar, com elegância e convicção, os momentos bons que se passaram na casa que vamos deixar (para não rebetarmos em lágrimas inúteis) e esperar apenas pelo bom que a nova morada pode trazer. E como quando saio de casa todos os dias o que vejo é isto, sei que vai de certeza ficar tudo bem.
(Obrigada D.)
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