Esta foto já tem os seus aninhos. Mas eu olho para eles e continuo a ver miúdos belgas, a fazerem rock, a criarem uma 'cena' belga que nunca sonhei existir. Já toquei em alguns, já falei com eles, a minha primeira e única experiência perto daquilo a que eu chamo 'estrelas rock'.
Mais do que o facto de continuarem a ser cool e a espalharem amigos por Portugal (são conhecidas as saídas pós-concertos até ao Bairro Alto), a música deles marcou-me, melhor, musicou-me uma parte muito, muito importante da vida. Ouvi-os tocar a primeira vez numa garagem, no ensaio da banda do namorado, enquanto se fazia um intervalo e se jogava ao montinho a dinheiro e a copos de qualquer-coisa-com-muito-alcool. Disseram-me qualquer coisa como 'Como é possivel que ainda nunca tenhas ouvido?', frase acompanhada de um olhar de alguém em choque. Envergonhei-me e tratei de suprir essa lacuna (se bem que nessa altura, ainda não teria coragem de usar uma expressão assim...). Comprei cds, pirateei outros e *puf*, já estava viciada.
Depois, musicaram-me pedaços da felicidade que mais tarde atirei fora mas que, ainda hoje, nunca esqueci. Um fim de tarde, antes da partida para um festival, deitados no quarto, só a meia luz. Ouvíamos a 'Roses' e aquilo tomava conta de mim e o calor também e aquelas promessas todas. Noutra vez, ele sentou-me no sofá e disse-me 'Prepara-te, esta pode ser a música de uma vida...'. Sentou-se no chão e ficou a olhar para mim, como se da minha reacção fosse nascer qualquer coisa de novo. Éramos novos e pensávamos que não existia mais nada, senão aquela casa vazia, senão aquele fim de semana sem os pais, senão aquela cama pequena demais, paredes meias com o génio dele.
E a música deles também serviu para alguém demonstrar como era doentio e indesejado e arrependido. Ainda me lembro quando estava deitada naquela tenda e recebi uma mensagem de voz no telemóvel: 'Only 'cause of love'/Love's the only thing that makes me do this' e eu tremia com medo das investidas dele e do seu desejo de recuperar um amor doentio e fatal e de ele ter usado a 'minha' música para me assustar.
Não é só música. Há mesmo pessoas lá dentro. E eu vou ver os dEUS este Domingo, sozinha, num cantinho da Aula Magna.
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