maio 31, 2010

Coisas que me alegraram os últimos dias de férias

O olho dele segue-me para todo o lado.

Vá, tirando o pequeno pormenor (enorme para mim, é a verdade) da total proibição de comer morangos e do regime ditarorial que me queriam impor (apenas três peças de fruta por dia e não pode comer fruta que não se possa contar...), tenho sido abençoada com um fim de Primavera tão rico em boa fruta que me cresce água na boca só de pensar. Espero estar já a contribuir para a educação da criança, para que ela cá fora lamba os beiços de satisfação sempre que a mãe lhe apresentar uma frutinha cozida.

(Entretanto, regressei ao trabalho para os últimos sessenta dias antes do apocalipse final. Esta semana de férias foi uma belíssima amostra do que serão os meus dias antes do Vicente nascer. Até me deu para passar a ferro (umas três máquinas de roupa!), motivo pelo qual a minha mãe ia chorando de alegria e eu ia morrendo de tédio. Já preparei o meu calendário para ir riscando os dias que faltam até se fechar este capítulo da minha vida, que, a avaliar pelo primeiro dia, vai ser mais longo do que eu desejava. Há poucas coisas a ocupar-me o pensamento - sardinhas, caracóis, dias de praia, a barriga cada vez maior, a minha pessoa preferida. E eu fujo de quem me quer desafiar a falar de contratos de trabalho e indemnizações e injustiças sociais porque, para me deprimir, basta ligar a televisão. E neste momento eu quero é ser positiva e acreditar que, como o Earl, o karma se encarregará de me devolver o que mereço. Se calhar já começou mesmo a devolver...)

maio 26, 2010

O Vicente vai à Aula Magna pela segunda vez!

O pai do Vicente tem um olho que só ele.

Ontem lá fomos nós, já uma família inteira composta por pai, mãe, filho, tia e tia postiça, até à Aula Magna para ver os The xx. A minha logística de concertos agora é bastante mais específica: já não me chega ficar longe das multidões e das confusões. Agora, preciso de estar perto das casas de banho dos sítios, pronta para voar se necessário for. E bem, também já não me vejo naquele sufoco da toda a gente à minha volta, portanto lugares sentados são a minha cena.

O concerto... Nós adorámos. O jogo de luzes estava impecável e criava a atmosfera certa para esta espécie de soturnidade dos The xx. Tocaram versões mais dançáveis e potentes das músicas do único álbum, num som mais cru e com graves que me fizeram temer pelo descanso do Vicente. Pareciam genuinamente surpreendidos pela recepção calorosa do público e agradeceram timidamente os aplausos e o entusiasmo entre músicas. Acho que resultam bastante bem como trio, mesmo estando à espera de ver pelo menos quatro pessoas em palco. O Vicente também deve ter gostado porque dormiu muito sossegadinho!

maio 23, 2010

Nem sim nem sopas

É dele, o olho atrás deste diafragma.

Esta coisa de estar grávida é muito gira, sim senhor, mas torna-se um bocado complicada se surgirem alguns problemas de saúde. Como estou proibida de fazer qualquer tipo de medicação sem consultar a médica (e mesmo consultando-a, que medicamentos e gravidez não combinam), ando há uma semana a gastar lenços de papel em menos de duas assoadelas, a tentar dormir completamente entupida e com os olhos pequeninos que dói. Esperava que a praia tivesse algum efeito benéfico mas a verdade é que, à parte de estar um pouco menos congestionada, continua tudo na mesma. Hoje fomos apanhar ar para a Baixa e para a Estrela mas até a meteorologia parece estar contra mim: depois do calor dos últimos dias, uma descida brusca das temperaturas lembrou-me outra vez do que é ter frio. E já não sei o que quero: se estar imobilizada, a bufar com o calor, se voltar a recorrer ao casaquinho de malha.

maio 22, 2010

Querido Vicente,

talvez tenhas sentido a minha enorme satisfação quando ontem comecei esta semana de férias. Neste estádio, em que já estás mais crescido, em que fazes umas acrobacias na barriga da mãe e em que já ultrapassámos a metade do tempo, saber-te sempre comigo deixa-me serena e tranquila porque sei que nunca, nunca mais estarei só. O pai saiu para trabalhar e é verdade que lhe sentimos a falta mas mesmo assim levei-te à praia. Bem cedinho, conseguimos fintar filas de trânsito e multidões e foi assim que tomaste o teu primeiro banho de mar antes das nove da manhã. Talvez a água esteja fria e eu ainda não saiba como evitar as ondas na perfeição mas antes só tinha que me preocupar comigo e agora existes tu e preciso aprender muitas coisas novas. Bem gostava de te ter nos meus braços mas contento-me com uma barriguinha que cresce a olhos vistos. Vamos descansar muito esta semana e tratar das coisas para que sejas bem recebido e amanhã levamos o pai à praia também!

maio 19, 2010

Hoje é o primeiro dia... blá blá blá

Bem, hoje é realmente o primeiro dia não do resto da minha vida, mas do meu percurso profissional nesta empresa. Ontem foi a comunicação oficial da data do fim e também o dia em que fiquei familiarizada com a figura jurídica do despedimento colectivo. O acontecimento foi essencialmente pacífico porque já era conhecido de todos, se bem que a data ainda estava no segredo dos deuses. E desde então me sinto dividida entre dois sentimentos radicalmente opostos: por um lado, uma incrível sensação de alívio por não ter que demorar muito mais tempo aqui, a ideia de dois meses de Verão plenos para disfrutar o meu filho às voltas na minha barriga, as primeiras férias a três antes de o ter cá fora; por outro lado, a incerteza gigante de não saber o que me espera, o facto de estar prestes a tornar-me mãe e desempregada ao mesmo tempo, o afastamento involuntário do mundo do trabalho.

Para mim, é evidente que não quero reter um posto de trabalho apenas por estar grávida: gostava de ser apreciada pelo meu esforço, por tudo o que aprendi nestes quatro anos, pela diplomacia e força de vontade, pela entrega mesmo quando me apetecia desistir. Não é exactamente a ideia de uma indemnização (que será mínima) que me está a seduzir nem também a ideia de castigar a empresa por uma alteração de mercado e negócio impossível de controlar. É que acho que, no meio disto tudo, há aqui uma grande falta de gratidão e de reconhecimento que eu pensava que merecia. Só que o mundo é mesmo assim e agora já não pessoas insubstituíveis: há apenas pessoas mais baratas e mais maleáveis, capazes de acrobacias incríveis para manter um posto de trabalho mal pago. Compreendem se disser que não tenho podido aguentar o noticiário nos últimos dias: a crise e o desemprego e a gritante e crescente falta de oportunidades, um mercado de trabalho em permanente sufoco não me fariam levantar da cama. Para isso, olho literalmente para o umbigo e penso neste Vicente sempre a crescer - havemos de ser os três muito felizes, no resto da nossa vida.

maio 16, 2010

A Naifa (uma e outra vez)

As fotos (nem precisava dizê-lo) são dele.

Este namoro já vai muito longo. São cinco anos a musicar-me os desgostos, os Sábados cheios de Sol na Estrela, os dias de folga durante a semana, as viagens diárias para o trabalho, as alturas em que mais precisei de esperança. E esta paixão não esmoreceu nem arrefeceu com o passar dos anos, antes foi sendo cada vez mais definitiva, mais madura. Cada música carrega já memória sobre memória, cada música já foi cantada por mim como se algum dia pudesse emular a entrega e o calor da Mitó, cada poema foi já admirado pela forma certeira como me falou ao ouvido. E só não continuo tão apaixonada como na primeira vez porque abro sempre o coração para me deixar conquistar de raíz.

Esta sexta-feira foi noite de os ver uma vez mais, agora sem João mas com a Sandra e foi um reconforto ver a música d'A Naifa a erguer-se novamente em cima dum palco, primeiro tímida, depois segura de si mesma. Gostei dos três momentos do espectáculo que entendi como o luto inicial, o regresso à vida a e a homenagem ao João, merecida e muito sentida por todos quantos estavam naquela sala. A Naifa resiste porque é uma personalidade com direito próprio, alimentada pelo espírito dos que a idealizaram tão única e tão especial, imune à passagem do tempo. Com a belíssima oportunidade de falar um pouco com o Luís Varatojo, fiquei rendida à simplicidade com que se cria por aqueles lados e muito descansada porque sei que A Naifa, como a gente, vai continuar.

maio 12, 2010

O Vicente foi a banhos

Ontem fui à minha primeira aula de hidroginástica para mamãs (sim, ouvi tantas vezes esta palavra ontem que acho que não consigo designar-me de outra forma), só para experimentar. Já que não me convém correr na Estrela como era costume e eu preciso mesmo de alguma disciplina e exercício, tentei esta modalidade e acho que até gostei. A desvantagem é ser uma aula de grupo (não muito grande, é certo) e como tal promove-se aquele tipo de convívio um pouco artificial sob o pretexto de que temos todas algo em comum: sermos futuras mamãs (cá está!). O instrutor é muito simpático e preocupado com as condições em que decorre a aula e gosta de fazer as alunas rir, o que só abona a favor da experiência.

Agora, a parte que verdadeiramente me incomoda é o pós-aula, nos balneários. Eu sou pouco social mas sou ainda menos social quando estou despida, é compreensível. Agora, se acrescentarmos a isto o facto de estarmos todas grávidas e os nossos corpos se comportarem de acordo com isso... Bem, you get the picture. Eu tento, porque tento, parecer natural e despreocupada mas a barriga e as imperfeições fazem-me ser demasiado auto-consciente. É claro que isto se supera e, acima de tudo, se ignora, caso contrário estaria a vedar a mim mesma este tipo de actividades sociais. Mas enfim, se os senhores da piscina pudessem pensar em compartimentos individuais para as mamãs (argh!) poderem trocar de roupa e poderem tomar banho a sós, aqui ficava uma barriga imensamente agradecida. Enquanto isso, eu lá vou sendo púdica para outro lado.

maio 10, 2010

Sobre a noite de ontem (ou a forma dissimulada de mostrar como me sinto orgulhosa)

Ao Vicente já prometemos dar total liberdade religiosa e clubística, especialmente tendo em conta as diferenças que conseguimos reunir cá em casa. Assusta-me a ideia de inscrever o pequeno na catequese e muito mais depois dos episódios de escândalos e de hipocrisia que se sucedem na Igreja Católica, apenas para falar na religião em que fui acolhida. Mas uma coisa não podemos ignorar: ele vai nascer no ano em que o Benfica volta a ser campeão e, apesar de estar longe de um facto cientificamente comprovado, costumamos simpatizar com o clube em maior maré de sorte enquanto crescemos.

[é agora que o pai da criança vai aos arames, depois de ontem ter - a custo e de modo pouco efusivo - celebrado a minha felicidade!]

maio 08, 2010

Subir às árvores

Até agora (e sublinho que é apenas até agora, visto que a gravidez se encontra exactamente a meio), ainda não senti nenhum desejo especial (bem, talvez por um bom frango assado) nem me apeteceu nenhum capricho a altas horas da madrugada (o que o pai da criança deve certamente agradecer). Mas tenho uma espécie de fixação com quase todo o género de fruta, mesmo tendo sido aconselhada por uma enfermeira do tempo da outra senhora a nunca comer mais do que três peças por dia (!). Ele é bananas, mangas, meloas cantaloupe, kiwis a monte, sumo de laranja todas as manhãs e, no outro dia, nêsperas.

É mais ou menos por isto que, quando espreito para os quintais nas traseiras da nossa casa, fico meio nervosa por ver aquelas árvores carregadinhas de frutos aparentemente maduros e com vontade de trepar árvore acima para encher os bolsos de nêsperas. E quem diz estas árvores diz as laranjeiras nos quintais à beira do nosso caminho para Lisboa, diz os morangos que ficam por apanhar, as cerejeiras que começam agora a florir. Consolo-me a pensar que podia ser pior: podia apetecer-me batatas fritas a toda a hora ou algo inusitado a altas horas da manhã. E vivo a pensar no dia em que poderei voltar a comer morangos. E sushi. E também já bebia uma mini, vá. Mas descasquem-me uma manga e uns dois kiwis e eu já fico contente.

maio 06, 2010

Chama-se Vicente

 
Tem dezoito semanas e um coração de cavalinho que bate a 152bpm. E sinceramente, depois de o ver hoje, tudo, tudo o resto me pareceu trivial.

maio 04, 2010

Nota 10

Acontece que chegou aquela altura do trimestre em que é suposto eu avaliar e discutir os desempenhos das pessoas da minha equipa. Há um formato criado internamente para que todos possam ser avaliados segundo os mesmos critérios e para que assim seja mais fácil e mais justo pontuar aquilo que consideramos importante. Não vem ao caso o facto destas avaliações (descobri nos últimos tempos) não terem quase nenhuma repercussão em recrutamentos internos - alguém tem que as fazer e esse alguém sou eu.

Se antes, apesar de um pouco contrariada pelo número de colaboradores ou pelos prazos apertados, me dava algum gozo a pô-las de pé, neste momento elas assumem verdadeiramente o carácter de inutilidade sobre o qual já antes me tinham avisado. Não tenho nenhum caso especialmente grave a nível disciplinar e as avaliações são, no geral, até bastante boas. A única coisa que me está a custar é que não servem absolutamente para nada: não posso ajudar ninguém a progredir, a crescer dentro da empresa simplesmente porque esse futuro não nos está reservado. E então escrevo uma série de palavras ocas, ocasionalmente de louvor, noutras vezes sobre áreas a desenvolver, avalio o trimestre inteiro de pessoas que não sabem, na verdade, o que lhes vai acontecer. Que reacção espero eu delas? Pois que se estejam nas tintas para aquela hora de conversa e que queiram saber quando é que o fim é o fim.

Tenho muita, muita pena que o estado de graça da minha gravidez tenha que ser partilhado com o absoluto desastre da minha vida profissional do momento. Tenho medo que, quando um dia voltar a olhar para trás, as desilusões constantes desta recta final, o estado de apatia do qual não posso fugir possam manchar aquela que é muitas vezes descrita como a melhor altura da vida de uma mulher. Tenho medo de confundir as coisas e não recordar a felicidade extrema que sinto quando vejo a minha barriga a crescer, a ansiedade de ver esta pulguinha e ouvir o seu coração de cavalinho - tudo em troca de ter sido apanhada nesta trapalhada a que chamam mundos dos negócios. Eu sei que, quando se fecham portas, abrem-se janelas. Mas abrem-se exactamente para o quê?