Acontece que chegou aquela altura do trimestre em que é suposto eu avaliar e discutir os desempenhos das pessoas da minha equipa. Há um formato criado internamente para que todos possam ser avaliados segundo os mesmos critérios e para que assim seja mais fácil e mais justo pontuar aquilo que consideramos importante. Não vem ao caso o facto destas avaliações (descobri nos últimos tempos) não terem quase nenhuma repercussão em recrutamentos internos - alguém tem que as fazer e esse alguém sou eu.
Se antes, apesar de um pouco contrariada pelo número de colaboradores ou pelos prazos apertados, me dava algum gozo a pô-las de pé, neste momento elas assumem verdadeiramente o carácter de inutilidade sobre o qual já antes me tinham avisado. Não tenho nenhum caso especialmente grave a nível disciplinar e as avaliações são, no geral, até bastante boas. A única coisa que me está a custar é que não servem absolutamente para nada: não posso ajudar ninguém a progredir, a crescer dentro da empresa simplesmente porque esse futuro não nos está reservado. E então escrevo uma série de palavras ocas, ocasionalmente de louvor, noutras vezes sobre áreas a desenvolver, avalio o trimestre inteiro de pessoas que não sabem, na verdade, o que lhes vai acontecer. Que reacção espero eu delas? Pois que se estejam nas tintas para aquela hora de conversa e que queiram saber quando é que o fim é o fim.
Tenho muita, muita pena que o estado de graça da minha gravidez tenha que ser partilhado com o absoluto desastre da minha vida profissional do momento. Tenho medo que, quando um dia voltar a olhar para trás, as desilusões constantes desta recta final, o estado de apatia do qual não posso fugir possam manchar aquela que é muitas vezes descrita como a melhor altura da vida de uma mulher. Tenho medo de confundir as coisas e não recordar a felicidade extrema que sinto quando vejo a minha barriga a crescer, a ansiedade de ver esta pulguinha e ouvir o seu coração de cavalinho - tudo em troca de ter sido apanhada nesta trapalhada a que chamam mundos dos negócios. Eu sei que, quando se fecham portas, abrem-se janelas. Mas abrem-se exactamente para o quê?
3 comentários:
O que queremos é sempre diferente do que precisamos, quando as janelas se abrem, abrem para o que precisamos e nem sempre para o que queremos...sem soar conformista...ou pollyana, + o fato da barriguinha estar crescendo...ahhh as janelas já estão escancaradas...
curta!
bjus
No caso em análise podes sempre optar por acreditar que os caminhos do Senhor são misteriosos e que o "timming" da tua gravidez colidiu com um contratempo na actividade laboral que desempenhavas previamente. Tudo isto para que possas conceber a gestação de um Ser no teu interior como um acto transcendente e que enche de alegria aquilo que, na existência de tão importante acontecimento, seriam momentos vazios ou sem sabor.
Atenção: não confundir o que escrevi com "prémio de consolação".
Nunca me passaria pela cabeça adjectivar uma gravidez dessa forma. Afinal de contas, eu sou bestial e não uma besta.
(adenda: onde se lê "existência" deveria obviamente ler-se "ausência". :\
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