Como já há muito tempo que a vida não se encarregava de me presentear com novidades, hoje foi dia de festa - e não no bom sentido da palavra. Um dos meus deveres de desempregada é comparecer em entrevistas/concorrer a vagas que me são indicadas pelo Centro de Emprego. Pela primeira vez, recebi indicação de uma vaga bem perto de casa, com um ordenado sofrível mas com outras vantagens (nomeadamente a localização, que me deixaria, por exemplo, almoçar em casa). Devia então, segundo o Centro de Emprego, deslocar-me à empresa onde a vaga estava disponível, a fim de demonstrar o meu interesse e comprovar a presença no local. Teria três dias úteis para o fazer, sob pena de, caso falhasse, me ser cancelado o subsídio de desemprego e anulada a inscrição no mesmo centro.
Fui recebida, desde logo, com as chamadas sete pedras na mão e deixada à espera numa sala sozinha durante cerca de meia hora, em que conseguia ouvir as conversas na sala ao lado. Má primeira impressão, pensava eu na altura, que nunca gostei de deixar ninguém à espera mas não imaginava o que se seguiria. A excelentíssima gerente da empresa começou por me dizer que eu não tinha nada que estar ali, nem bater à porta se não tinha sido chamada. Eu, cordialmente, expliquei que cumpria os meus deveres com o Centro de Emprego e que queria saber mais sobre a vaga. A excelentíssima gerente disse que não queria ter nada a ver com os meus papéis, que gente como eu só os quer assinados e trabalhar nada, fim de citação. Apenas olhando para mim, concluiu que não teria capacidades de chefia e que não perceberia nada de contabilidade, admitindo depois que nem sequer tinha lido o meu currículo. A partir daí, o que se seguiu foi basicamente ela a expulsar-me do gabinete e eu a insistir que me assinasse o comprovativo de presença, sem o qual posso perder o subsídio.
Muitas considerações poderia tecer sobre o estado em que se encontra este país, sobre os centros de emprego, sobre os patrões que se julgam acima de quaisquer direitos dos trabalhadores, sobre pessoas que desprezam quem se encontra em situações difíceis, sobre a forma como os nossos direitos são espezinhados uma e outra vez, sem qualquer tipo de contemplação. Muito poderia dizer sobre pessoas que se acham no direito de tratar o próximo abaixo de cão apenas porque o dia lhes correu mal, sobre as soluções que nunca chegam para o país sair da crise e aumentar a produtividade, sobre pessoas mal formadas e sobre a falta de humanidade crescente que se vê por aí. Mas não o vou fazer. Estou só cansada e profundamente desiludida mas a aprender. A vida ainda se vai encarregar de me mostrar cada vez mais como estou enganada sobre as pessoas.
10 comentários:
Um relato inacreditavel. Nao chega dizer que o azar deles (se bem que sim, o azar e deles). Mas o azar e tambem teu e do pais inteiro. E meu que, apesar de estar a trabalhar fora, num pais onde sinto que os meus direitos sao bem mais respeitados, gostava de ouvir dizer que o meu pais estava empenhado em mudar.
Afinal nao esta. E que pena que tenho disso, porque sei que so estao a empurrar ca para fora gente cheia de talento que, em vez de ajudar o pais, sai a procura de quem os valorize.
Embora seja da opinião de que há muitas pessoas no desemprego "encostadas" ao subsídio, não creio que seja humano incluir tudo no mesmo saco.
Há com cada uma!
filha de uma grande vaca. e tenho dito.
Inacreditável! Estou parva! :o
Uma vergonha! E fazeres queixa dela?!
Estou sem palavras mesmo!
Big kisses
ML
Se há coisa que me deixa fora de mim, é a prepotência. É um relato deveras chocante.
Lamento que nem lhe tivessem dado a palavra, fico triste que a tenham tratado assim, mas a vida dá muitas voltas, não se deixe desanimar. O seu valor há-de ser reconhecido.
Um abraço apertadinho
Começo a achar que as boas pessoas estão a entrar em extinção. Este relato é revoltante.
ora então e o nome da empresa?? Quero saber quero saber! Ao menos faz alguma justiça expondo o nome da empresa...
Essa "coisa" precisa urgentemente de ir pastar... Bjs
Querida, sabes que existe o chamado LIVRO DE RECLAMAÇÕES e que é obrigatório ter. Eu já o usei várias vezes e tive sempre resposta. Por duas vezes me foi recusado e como eu ameaçasse de contactar a ASAE, ele acabou por me ser entregue. Na próxima vez faz isso, pois no caso tornava-se prova de que tu lá tinhas estado mesmo que não te assinassem o papel!
A tua professnaçãora que comunga da tua indignação.
O nome da empresa vai permanecer um mistério mas eu aprendi à custa disto e numa próxima vez (que eu espero que nunca aconteça), seja onde for, o livro amarelo vai sair! Oh se vai!
Enviar um comentário