As provações continuam. No dia em que pai e mãe planeavam voltar ao trabalho e o bebé Vicente à creche, vimo-nos a caminho do hospital a meio da madrugada. Ele novamente com dificuldades respiratórias, nós incapazes de perceber o que temos feito de errado. Desconfiamos que esteja tudo relacionado com dois dentes que começam a aparecer timidamente, o que poderia explicar a sucessão de diagnósticos diferentes no espaço de algumas semanas. Tem sido uma luta e temos trabalhado para fazer os tratamentos certinhos, tudo a horas mas é um pouco frustrante, olhar para trás e sentir que o que fazemos pouco tem importado para a melhoria da saúde do bebé Vicente. Temos portanto mais três dias em casa a tentar curá-lo e pô-lo fino para que possa(mos) voltar à vida normal.
Hoje, num mail da minha mãe, li duas frases que fizeram todo o sentido: Só aprendemos a ser filhos depois de sermos pais e Só aprendemos a ser pais depois de sermos avós. Sentir que estou a falhar perante tantos desafios consecutivos tem sido desgastante. E tudo isto tem impacto no resto da minha vida, no resto das minhas relações. Por transferência, parece que tudo em que me sinto inútil ou inadaptada no papel de mãe passa também para o resto das minhas relações e mina aquilo que antes funcionava com normalidade. Que o primeiro filho acarreta doses industriais de falhanços, erros e aprendizagem eu já sabia: tenho-o sentido na pele desde o nascimento do Vicente. Mas que o impacto dessa inadaptação transbordasse para o resto da minha vida - para isso não estava definitivamente preparada. E todos os dias desejo que ele passe rapidamente à próxima etapa, como se isso fosse apagar os meus erros e acabar com as minhas preocupações. Mas sempre existirão mais, sempre mais: as tropelias depois de andar, o largar da fralda, a primeira escola, as primeiras más decisões... Assusto-me tanto com o que ainda aí vem que penso que é agora que preciso parar, inspirar profundamente e voltar a tomar conta da minha vida, sem deixar que o stress, o medo e a insegurança alterem radicalmente a minha forma de lidar com o Mundo. E eu, a pensar que era só vê-lo crescer, dou comigo a crescer duma forma completamente imposta e forçada. E neste momento só espero não ceder.