abril 20, 2011

Dias difíceis

Primeiro eram dias que depois se transformaram em semanas. Para começar, uma tosse como um velho fumador de setenta anos; depois, a verdadeira tosse de cão; e finalmente, a tosse mais seca que já lhe ouvi. Já devemos ser conhecidos lá nas urgências pediátricas: afinal, já são três visitas em duas ou três semanas. E não sei se tanta urgência é excesso de zelo mas a verdade é que é muito difícil arranjar uma consulta de pediatria num curto espaço de tempo.

Há duas noites que o bebé Vicente (e a sua mãe cansada) não dormia mais do que intervalos de dez minutos intercalados com algum choro e irritabilidade. Eu ia trabalhar sabe-se lá como, completamente de rastos por passar a noite a caminho do quarto dele, sempre a duvidar da minha capacidade de me levantar às seis e meia da manhã depois de noites de pesadelo. Pensávamos nós que eram os dentes, que só isso podia explicar o desconforto, o queixume constante mas afinal vai-se a ver e o bebé Vicente ontem entrou nas urgências já com dificuldades respiratórias. O diagnóstico? Bronquiolite, uma espécie de praga que já marcou muitos dos bebés que conheço.

Já somos profissionais dos aerossóis e vamos alargando a farmácia cá de casa. Agora que o Vicente começa a perder todas as defesas que juntou durante estes seis meses de amamentação, os pulmões dele pregam-nos esta partida. A educadora dele já nos tinha dito, há uns dias, que ele não parecia ele, que andava muito chocho e pouco sorridente mas nós pensávamos que era o tal resultado dos dentes. Agora, depois de saber o que ele tem, é um pouco assustador compreender que nem sempre conseguimos perceber quando ele tem dificuldades em respirar e é muito triste imaginar que passava as noites acordado com o esforço dos pulmões. As idas ao hospital são desesperantes: são imensas horas de espera entre triagem, radiografias e resultados finais; são demasiadas crianças aflitas, chorosas, febris no mesmo sítio e um conjunto de pais que vão buscar forças sabe-se lá onde para não perderem a paciência; são médicos fartos dos seus turnos, sem uma palavra de conforto, sem uma pinga de humanidade a funcionar em modo automático.

O bebé Vicente não pode ir para a creche porque precisa de descansar muito e fazer a medicação toda certinha. É claro que me sabe muito bem ficar com ele, cuidar dele para ver as melhorias em primeira mão. Mas não consigo evitar pensar: num país em crise, as mães trabalhadoras não são bem vistas, são apenas fardos para as empresas e, de repente, subiu-me um medo do futuro que só as palavras tranquilizantes do meu chefe puderam apaziguar. A maior parte das minhas colegas são mais novas do que eu, raparigas em fase namoradeira, ainda sem pensar em ter filhos e não consigo deixar de pensar em como isso as coloca em vantagem. Resta-me esforçar-me no regresso para compensar este tempo porque realmente não há nada a fazer: é o meu filho que precisa de mim. E mesmo estando muito choroso e impaciente, tem as melhores bochechas do Mundo e o sorriso envergonhado mais fofo que existe. Espero que tudo passe depressa. Não, mais depressa ainda.

10 comentários:

M disse...

Força!
Ele há-de melhorar e depois hás-de voltar em força...Quanto ao desespero de uma mãe trabalhadora, entendo o que dizes, mas aposto que teres o Vicente vale a pena essa preocupação com o trabalho.

As melhoras para o V e muita paciência para ti M.

Beijinhos

Filomena disse...

Tenho dois filhos já crescidos e ao ler o post revejo-me também nas noites sem dormir, na preocupação com as febres, diarreias,sarampos, varicelas e por aí. Hoje, com eles já homens , as minhas preocupações aumentaram,são os estudos,os empregos,os carros, as noitadas...enfim, olhando para trás vejo que hoje sofro bem mais.
Mas vale a pena! Aproveite todos os momentos do Vicente. As maiores felicidades.

Anónimo disse...

http://www.personalfisio.net/fisioterapia_respiratoria.html

isto pode ajudar e recomenda-se!

:)

Tati disse...

eu tive tanto disso quando era pequena!

as melhoras para o pequeno grande rafael e desejo que consigas recuperar as horas perdidas de sono.

força!

Helena Barreta disse...

As melhoras do bebé Vicente.

Qualquer pessoa de bem, seja o chefe ou outro, compreende que numa situação de doença dos filhos não há ninguém mais indicado para cuidar, mimar e prestar todos os cuidados, do que a Mãe (ou pai). Quando regressar ao trabalho vai, com certeza, compensar e trabalhar com competência, zelo e com o coração menos angustiado, pois o Vicente vai ficar bom e tudo volta ao normal.

As melhoras. Espero que consigam descansar.

Muitos beijinhos e miminhos ao Vicente.

Tati disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tati disse...

ai Marisa estou toda queimada...agora é que reparei que chamei Rafael ao Vicente...DESCULPA, já pareço a minha mãe e a minha tia a trocarem-nos os nomes todos...talvez seja porque o Rafael também esteve doente esta semana. Desculpa-me. Espero que o (e sublinho) Vicente esteja melhor.

beijinhos*****

Anónimo disse...

Querida, compreendo a tua dupla aflição, pelo Vicente e pelo teu trabalho! Se eu não te conhecesse, pois a qualidade, entre outras, a de seres responsável, tenho a certeza que a não perdeste!
Mas é assim com todas as mães que não têm uma mãe disponível por perto! As melhoras do Vicente.
A tua professora

Vera Isabel disse...

Espero que a esta altura o bebé V já esteja completamente bem! ***

Moka disse...

Mar!

Desejo as rápidas melhoras do puto V!Só tu sabes o que é andar nesta lufa lufa que desgasta a alma e o corpo..:( No trabalho..só têm é que dar graças a terem uma colaboradora como tu..profissional com P grande, mas que por enquanto tem uma prioridade maior...chamada Vicente..!
Logo..logo as coisas irão compôr-se..vais ver..:))

Um Beijo muito muito grande para ti, e para esse puto adorável e lutador chamado Vicente...

Muita força...sabes que sou tua fã..hoje, amanhã e sempre...:D