julho 01, 2011

Ser pai (nove meses depois)

Como é óbvio, eu sei perfeitamente o que sente uma mãe durante todas as fases que atravessa desde o dia em que sabe que está grávida. Só não fui como aquelas mulheres que sabem que vão ter um filho muito antes do primeiro teste o confirmar: talvez o meu instinto não tenha funcionado plenamente nessa altura, confundindo muitos sinais. Mas o que realmente me deixa curiosa é essa sensação de ser pai.

Como já o disse muitas vezes, tive a sorte de escolher para o meu filho o pai que eu considero ideal e por isso sempre me senti acompanhada desde o primeiro instante em que descobri que tinha uma sementinha de vida dentro de mim. E, apesar de fazermos um esforço para materializarmos as nossas frustrações, medos e dificuldades, a verdade é que não sei exactamente o que sente um pai quando pega no seu filho.

O amor de mãe tem necessariamente um fortíssimo background físico: afinal, foi o nosso corpo que carregou um bebé durante nove meses. O choro do bebé desperta em nós os instintos maternais, a sua imagem apenas conseguia estimular a produção de leite durante a amamentação. Mas e o pai? Estas ligações estão-lhe vedadas pela biologia. É certo que foi ele o primeiro a pegar no bebé Vicente e é verdade que, depois de voltarmos a casa, todas as tarefas relacionadas com o bebé (alimentação, banho, fraldas…) lhe saíam mais naturalmente a ele do que a mim. Muitos pais se sentem afastados das suas mulheres ou namoradas depois do nascimento dos filhos porque passam necessariamente para segundo plano durante uns tempos.

Escrevo sobre a paternidade depois de ler este post (num blog que passei entretanto a adorar). Fiquei quase emocionada com a forma como ele descreve as suas impressões sobre a paternidade: o facto de não se ter sentido logo tão próximo do filho quanto gostaria, os estados de alma quase bipolares da mulher, o medo de que ela passasse instantaneamente a gostar mais do bebé e a evolução que podemos ler nas entrelinhas – ele deixou de ser apenas um homem e passou a ser também um Pai.

Às pessoas que me perguntam se partilho com o pai do Vicente as tarefas quotidianas relacionadas com o bebé Vicente, eu respondo com alguma admiração porque as dividimos com o maior gosto. Parece que esta participação do homem nos primeiros meses do bebé é ainda um tabu para muitas pessoas, que julgam que cabe à mãe a maior fatia das responsabilidades. Fala-se sempre tanto nos sentimentos das mulheres, no instinto maternal, nas maravilhas da maternidade mas às vezes os pais são ignorados no meio deste tornado chamado Filhos. E as pessoas esquecem-se que, apesar de não terem dado à luz nem terem sentido uma pulguinha a crescer dentro de si, os pais também têm sonhos e planos para os seus filhos e têm, acima de tudo, vontade de participar. E por isso as fronteiras entre Pai e Mãe estão hoje cada vez mais diluídas. Os nossos filhos ficam a ganhar com estas mudanças e, se calhar, estamos a criar futuros adultos com maior consciência e a lançarmos possíveis sementes de civismo. Pelo menos, assim esperamos…

2 comentários:

Helena Barreta disse...

Eu sou do tempo em que ao pai se exigia que trabalhasse para sustentar a família e à mãe que ficasse em casa a tratar dos filhos. Apesar de ser este o modelo adoptado, também, pelos meus pais, sinto-me privilegiada por ter tido um pai sempre presente.

E sim, também acho que as nossas crianças, e toda a família, ficam a ganhar com o facto de os homens terem outra abordagem em relação aos filhos.

Beijinhos e bom fim de semana

|b| disse...

Aqui tens um bom documentário sobre o assunto:

http://www.youtube.com/watch?v=jZ0RJaezYwk