julho 12, 2012

Capital de província




Às vezes lembro-me que já passaram quase quatro meses desde que chegámos. Digo às vezes porque sinto que me habituei a este país, a esta cidade, a este subúrbio mais depressa do que imaginava. A minha rotina, a nossa rotina, apesar de ser muitas vezes rígida e difícil de gerir, sabe-me bem. Ajuda muito que as coisas tenham corrido sempre com uma fluidez a que não estávamos habituados na confusa e burocrática república portuguesa. Não é cedo para olhar para trás e rir-me daquelas três ou quatro semanas antes da nossa partida, uma família partida em dois, ansiosa por recomeçar, nervosa com o salto, de coração meio partido por deixar tudo para trás. Ajuda muito já estarmos habituados a ser apenas três e a gerir o nosso tempo sempre com isso em mente. Mas ainda dói um bocadinho, não vou mentir.

O que eu mais gosto aqui no Luxemburgo é que há campo por todo o lado. Há campo a poucos metros da porta, há campo a rodear centros comerciais e escolas, a campo dentro da cidade. Cada vez que passo na ponte Adolphe parece que estou mesmo noutro mundo e não sou capaz de não impressionar com todo o verde que divide estas duas partes da cidade. Há percursos pedestres no campo, o centro de reciclagem está rodeado de prados verdes, há passeios onde a erva nos passa a cintura. Nem quero que o Inverno chegue para me apagar estas cores.

A cidade do Luxemburgo é uma capital europeia e, mais que isso, aloja algumas das instituições europeias mas não é realmente uma metrópole no que diz respeito a habitantes ou a dimensão. Há muitíssima gente a entrar e sair do país todos os dias para trabalhar, há demasiados carros para um país e uma capital tão pequenos, há transportes públicos que nunca mais acabam mas no fim sinto que isto está a milhas de Berlim, de Londres, que raios, de Lisboa! Só que, em contrapartida, aqui há muito sossego e as pessoas ainda se cumprimentam aqui e ali. Muitos dos meus colegas optaram por viver nos países à volta, especialmente atraídos pelas baixas rendas mas perdem umas duas horas por dia em transportes e perdem algumas regalias sociais. É, até agora, um bom sítio para viver.

(eu ia acabar isto sem falar do tempo mas não posso, não consigo. 12 graus a meio de Julho? Chuvas torrenciais e nuvens negras todos os dias? No Inverno ainda se aceita, faz parte, mas agora? É o gigante defeito deste país, especialmente para quem vem de um país com tantas horas de Sol e de uma cidade com Verões tão quentes. Custa olhar para a rua todos os dias mas há que pensar em tudo o que há de bom. O tempo é apenas um pormenor - isto sou eu a tentar convencer-me...)

5 comentários:

Ana Costa disse...

M., à uns anos atrás estive no Luxemburgo a visitar uma amiga. Lembro-me perfeitamente do dia em que às 8 da noite estavam 40ºC. Não desesperes, ainda vão viver dias de verão por aí!! :D
Beijinhos todos

Helena Barreta disse...

Começo a achar que aqui em Portugal é mesmo só o sol e as temperaturas boas que nos aquecem.

(Há muito que não via o que acabou de me suceder, uma mulher com uma criança, penso que filha, a pedir esmola no prédio onde trabalho).

Bom fim de semana, bons passeios por esses bosques.

Katy disse...

Se servir de consolo acredita que o verão nem sempre é sempre assim: no ano passado estava cá nesta altura (ainda não em definitivo, apenas a gozar a licença de maternidade) e quase todos os dias jantávamos na varanda.

E quanto aos tons de verão: vais descobrir como o Luxemburgo fica maravilhoso pintado com as cores do outono e com o branco da neve no inverno ;-)

beijinhos e um xi-quentinho, para esquecer o inverno que está lá fora :-)

Catarina

Maria Helena Pereira Pires disse...

Marisa, há uns dias que não passava por aqui pois tenho estado de babysitter aos meus netos, e tu que, sendo mãe nova, sabes a energia que isso gasta e o tempo que gastas, imagina agora uma avó de 67!!
Li com gosto as tuas reflexões sobre o viver daí e aí e compreendo que sintas a falta do nosso sol alentejano se bem que até agora as temperaturas aqui têm sido mais de primavera! Ser imigrante não é fácil mas com alguma força psicológica aguentamos...
Muitos beijinhos
A tua professora

Anónimo disse...

Marisa, estou a escrever do meu iPad mas que ainda não domino e por isso o comentário anterior saiu com o nome da minha irmã.
A tua professora
Dalma