Eu acho mesmo que sim, que acontece o mesmo todos os Verões e aqui mais do que nunca. Há um momento que ainda não sei bem definir em que percebemos, com alguma melancolia, que o Verão acabou. Aqui esse momento aconteceu durante esta semana. As temperaturas mínimas já baixaram aos nove graus e ainda há (teoricamente) um mês de Verão pela frente, às nove da noite já está escuro e às seis da manhã o Sol ainda não nasceu.
Tive um Verão que, na prática, não o foi. Foram uns quinze dias de calor a sério, como manda a cartilha das estações e o resto uma mistura entre chuva torrencial, céus cinzentos e vento. Não houve praia, apenas dois dias de piscina, não estamos morenos, não comemos caracóis, não bebemos imperiais em esplanadas, não sentimos o gosto do sal. Não usámos ventoinha ou ar condicionado, não ficámos na rua até às tantas. Para alguém que vem de um país com tantas horas de Sol percebe-se que isto faz toda a falta do mundo. Tive saudades de ver as ondas de calor a subirem desde o alcatrão, do silêncio das tardes ser apenas cortado pelo vento e pelas cigarras, tive saudades do Agosto em Lisboa. Mas este ano não haverá mais Verão, nem nós seremos os emigrantes saudosos a regressar em autêntica peregrinação ao sítio que é nosso. Restam-me as memórias dos cheiros e do azul de Lisboa, dos quarenta graus pela manhã e planícies queimadas de Portalegre e eu aqui, longe de tudo, longe de todos.