Ter conseguido uma casa mobilada e, na perspectiva de alguém que muda de país e precisa de um tecto rapidamente, absolutamente perfeita para recomeçar foi uma sorte. Tínhamos visto dezenas de casas ainda em Portugal mas alugar uma casa não é uma coisa que se possa fazer à distância: é preciso ver, imaginar in loco se nos vemos a morar ali, conhecer o senhorio, deixar que ele decida se gosta de nós, perceber se vale o nosso dinheiro, se a vizinhança nos agrada, se chegamos a todo o lado rapidamente. E por isso fiquei um mês em Portugal (que a mim me pareceu um ano) à espera que encontrássemos a casa ideal, a casa que poderíamos pagar unida à casa onde gostaríamos de viver. O mercado imobiliário aqui é absurdo: quase não há apartamentos alugados por menos de mil euros por mês, os senhorios pedem normalmente três vezes o preço da renda como caução e ainda se reservam o direito (que lhes assiste, é óbvio) de escolher quem querem a viver nas suas casas.
Agora, oito meses depois, esta é a nossa casa. Só que há coisas que eu queria mudar, queria deitar o sofá fora, compras tapetes e cortinas, queria cadeiras novas e mais armários, queria mais paredes com as nossas memórias mas parece que vou ter que esperar. Gostava de não sentir que é uma casa temporária, de passagem, gostava de não me sentir uma intrusa, de fazer realmente parte mas é difícil eliminar permanentemente esta sensação de estarmos numa ante-câmara da vida que está ainda para chegar. É claro que não queríamos ser já donos de uma casa aqui: não sabemos (ainda não sabemos, é verdade) o que nos trará o futuro e, apesar de boas perspectivas, não sabemos se o nosso lugar continuará a ser aqui. E então inventamos maneiras de nos sentirmos aconchegados, de chegarmos a casa e sentir que aqui pertencemos, que não estamos só de passagem. Afinal, casa é onde nós os três estamos.
2 comentários:
Acredito que na primeira frase, queiras dizer "tecto" e não "texto"... Beijinhos
O nosso lar é aquele onde nos sentimos felizes! Que essa tua casa seja o vosso lar!
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