"It's clear that I will have to compromise between the Amercian identity I'd like to give Bean and the French one she is quickly absorbing. I get used to her calling Cinderella Cendrillon and Snow White Blanche-Neige. I laugh when she tells me that a boy in her class likes Speederman - complete with a gutteral "r"- instead of Spider-Man. But I draw the line when she claims that the seven dwarfs sing "Hey Ho", as they do in the French voice-over. Some things are sacred."
Pamela Druckerman em "Bringing up Bébé: one Amercian mother discovers the wisdom of French parenting"
O meu maior medo quando decidimos emigrar era apenas um: será que o Vicente se vai adaptar? Como pode ele ir para uma creche ouvir Francês ou Luxemburguês se ele ainda nem sequer domina o Português? Será que vai perceber o que lhe pedem? Será que vai brincar? Será que vão entender quando ele tiver fome, sono ou frio? Tudo o resto me parecia mais ou menos fácil de encarar naquela altura e, mesmo ouvindo toda a gente que me garantia que os miúdos se adaptam melhor, eu tinha dúvidas.
O Vicente foi para uma creche francófona. Apesar de algumas funcionárias serem portuguesas, fala-se sempre Francês. Talvez fosse benéfico ter ido para uma creche onde se falasse Luxemburguês mas a necessidade falou mais alto. Até as funcionárias portuguesas se dirigem a nós em Francês e não há nada a fazer. A maior parte dos meninos que estão na creche com ele são filhos de pais portugueses, brasileiros ou cabo-verdianos - não a escolhemos por isso mas acabou por acontecer. A maior parte fala outra língua em casa mas Francês durante muitas horas diariamente.
Nós falamos Português em casa. Não podia ser de outra maneira, seria uma traição vil às nossas origens. Eu já fiquei triste porque o Vicente nasceu em Lisboa e não é alentejano mas agora ter um Luxemburguês em vez de um menino que nasceu em Santa Maria dos Olivais era um bocadinho demais. Só que o Francês domina a maior parte do seu dia e de repente ele estamos no banho e ele diz que tem "três voitures" na banheira ou estamos na pintura e ele chama os lápis pelas suas cores ("Noooir, marron, orrrange...") e eu fico sem saber o que dizer. Algumas vezes tento dialogar com ele em Francês mas ele, talvez por um mecanismo de defesa, recusa e mantém-se na sua língua materna. É como se ele pudesse saber qual é a diferença e soubesse exactamente quando se deve usar uma e outra.
Apesar das facilidades que os Portugueses podem sentir aqui, nós queremos que o nosso filho se possa integrar facilmente, que seja aceite e que respeite os costumes do país onde escolhemos viver. Para ele tudo é tão natural, tão simples que não será um problema. Mas este ano (ou no próximo, assim decidam os serviços comunais), ele começará com o Luxemburguês. E depois, quando chegar a escola primária, com o Alemão. E, mesmo admirando a capacidade que o meu filho tem de se adaptar a tanta mudança, às vezes penso se isto não são coisas a mais. E penso que se calhar vai chegar um dia em que o Português já não lhe diz nada e que, mais cedo ainda, o meu Francês não vai chegar para o acompanhar. Tenho medo de perder este comboio, acho que é isto. Ele vai puxar por mim (por nós) mas eu fico sempre com medo de não chegar. Pelo sim pelo não, temos uns dicionários pela casa e umas gramáticas à espera de serem usadas. Depois de o ouvir contar até dez também em Inglês, já começo a pensar se aquela cabecinha não vai dar de si. Até lá, derreto-me toda quando o ouço dizer "Oh não, o comboio a parti" ou "Mamã, les pantalons!". É metade orgulho cego de mãe e metade de alguém que pensa que algum dia vai ser Francês a mais.
* é mais multilingue mas eu nem sei se esta palavra existe e ainda estou para ver como vai ele desenrascar-se com as outras.