Já não sei quantas vezes mudei o início deste
post e realmente nem sei como começar.
Este fim de semana ocorreu-me que não estava
preparada para ter um filho. Que, apesar, de ter encontrado o melhor pai que
podia, que apesar de ter a certeza de termos reunidos as condições afectivas e
materiais para tomar esta decisão, eu não estava preparada para ter um filho. É
uma conclusão alimentada por muita frustração, cansaço e desepero. É a
conclusão de quem não sabe mais como educar e amar o seu filho de uma forma que
o torne numa pessoa estável, tranquila e feliz. É a conclusão de quem procura
respostas nas aflições de outros pais, nos conselhos de outras famílias mas
nunca as poderá encontrar senão dentro de si.
Este fim de semana olhei muitas vezes para o
meu filho e perguntei-me o que será que fiz mal nestes seus dois curtos anos de
vida. Olhei para ele e comparei-o com a criança que eu imaginava que ele fosse,
mesmo sabendo que ele não merece estas comparações e que essa ideia só está na
minha cabeça. Ao mesmo tempo, tentei olhá-lo como um estranho olha para uma
criança e consegui ver um miúdo cheio de vida, independente e destemido, cheio
de vontade de abraçar o mundo inteiro. Debato-me constantemente com a forma
como o vejo como mãe e com um olhar mais imparcial que me obrigo sempre a ter.
Não quero desculpar-lhe tudo mas também não quero demonizá-lo e a linha entre
estas duas maneiras de o olhar é demasiado ténue.
Este fim de semana, em que também trabalhei a
partir de casa, o meu filho deixou-me à beira da exaustão e sem trunfos para
fazê-lo entender o que é aceitável e o que não iremos tolerar no seu
comportamento. Não é que não lhe
consigamos mostrar o que está errado no seu comportamento, simplesmente não
conseguimos fazê-lo da maneira que tínhamos idealizado. A paciência, a
tolerância e a calma, como outras coisas, esgotam-se. Às tantas, depois de
tentar explicar-lhe tudo dando-lhe o exemplo, depois de falar calmamente e
demonstrar-lhe o que estamos a querer dizer, a serenidade esgota-se. E no final
do Domingo sentia-me como se a minha cabeça fosse do tamanho do Mundo, capaz de
explodir a qualquer instante com tanto cansaço e desilusão. Desilusão comigo,
claro, por não ter arranjado uma maneira de chegar até ele, por não ser eu
exemplo suficiente que ele possa espelhar e repetir, por me sentir a falhar na
missão mais importante da minha vida.
Há muito tempo que decidi deixar de ler
histórias de vida perfeitas. Não posso lidar com a frustração de sentir-me
incapaz de ser um modelo de pessoa, com um modelo de casa onde vivo com um
modelo de família. Com filhos pequenos que não são menos que exemplares,
adultos em ponto minúsculo com um sentido de timing e de responsabilidade desde
o berço. Com mães de conjuntos imaculados, cabelo e unhas arranjadas, com tempo
para brunchs, formações indispensáveis e dias passados na praia e ainda com
tempo para tratar de uma casa e dos filhos. Não posso ler ouvir ver histórias
destas sem me sentir um pouco mais miserável e duvidar das minhas capacidades
de organização, de parentalidade, do meu sentido estético. Não é inveja, é
simplesmente não entender o que é que me falta a mim para ter tempo para ter
uma vida. E também saber que debaixo de tanta perfeição tem que haver alguma
coisa que não está certa.
Ter um filho é mudar de estratégia
constantemente, isso eu já sabia. Mas também é poder cometer erros que se vão
reflectir para sempre na sua vida. Quero poder ter a certeza que estamos a
criar um ser humano tolerante, consciente da sua liberdade, aberto ao mundo - só
que nesta coisa da sua educação nunca há segundas oportunidades. Ou pelo menos
é difícil desfazer o que já foi feito.
Mas depois acordei e era Segunda-feira. E,
quando nos permitimos um espaço para respirar, olhar para trás e ver que nem
tudo é negro, a coisa melhora. São lições atrás de lições, já sei. Tomara poder
lembrar-me disto a toda a hora.