(contrastando com o tom menos optimista do último post...)
Nesta coisa dos filhos tenho visto (e sentido na pele) que não vale muito a pena deitar foguetes antes da festa. Já vi muita coisa a andar para trás desde que o Vicente nasceu e basta-me pensar no sono dele para saber que não se pode cantar vitória com toda a certeza do mundo. Mas sinto, com toda a precaução que me é possível, que as coisas começam a ser menos terríveis. Certamente que o mérito é de filho e pais e, na verdade, não saberia explicar qual é a fórmula se um dia ma pedissem.
Um dos grandes avanços nesta história (parece-me a mim) é a crescente empatia que ele demonstra pelos sentimentos dos outros e que o faz compreender um pouco melhor as consequências das suas acções. É claro que muitas vezes ainda continua um destravado que salta e trepa por nós acima, que cerra os dedos num belisco mais ou menos voluntário mas já se ressente quando percebe que fez alguma. Se vê uma expressão menos alegre ou mais preocupada, pergunta o que se passou e tem até alguns gestos de carinho na sequência disso. Compreende melhor a noção de causa-efeito ("se queres ver estes desenhos animados, precisas de arrumar os brinquedos no quarto primeiro") e já colabora mais ou menos voluntariamente nisto. Fica muito contente quando vê que correspondeu exactamente às nossas expectativas e por isso tende a colaborar bastante connosco! Brinca muito sozinho, fala e fala e fala numa mistura entre Francês, Português e Vicentês, gosta de cantar e tocar bateria com os tachos. Consegue-se perceber que já tem alguma imaginação (constrói os seus próprios meios de transporte, que faz depois passar por situações que ele criou) e infelizmente alguns medos que lhe incutiram na creche (ainda lutamos contra a ideia de uma Madame, que o aterroriza algumas vezes e que se calhar apareceu primeiro para que ele comesse).
Só ao nível mais físico, mais biológico da coisa, vá, ainda não vamos tão bem. Agora regrediu um bocadinho na comida (de vez em quando pede que lha demos, quando antes só queria comer sozinho), ainda não largou as fraldas e não demonstra nenhum interesse por isso, de vez em quando ainda acorda de noite. Mas estamos a anos-luz do Vicente de há uns seis meses, impossível de conter, acordando várias vezes por noite. É uma verdadeira delícia vê-lo a crescer assim, também porque isso acaba por influenciar a nossa disposição e diminuir o nosso cansaço. Continuo a lutar para ser uma mãe mais positiva e dou-lhe alternativas sempre que posso (a proposta para o banho, por exemplo, "vens sozinho ou queres que a mãe te leve?" resulta quase sempre), explicamos-lhe o porquê de algumas decisões mas às vezes é não porque não. É o trabalho mais difícil que alguma vez terei em mãos mas o mais recompensador e feliz. Só gostava de poder preservar-lhe a ingenuidade e a pureza indefinidamente mas isso seria desviá-lo do curso natural das coisas. Prepará-lo para o mundo, é tudo o que quero fazer.