(Este post foi uma sugestão da Ana, deixada uns comentários mais abaixo.)
A nossa mudança para o Luxemburgo implicou, como é evidente, deixarmos para trás os nossos amigos e família. Ao contrário da maior parte dos emigrantes portugueses, não tínhamos cá nem família nem amigos (OK, eu tenho um primo mas, por ser afastado, não temos qualquer ligação). Temos visto aqui que essa estrutura de apoio (quando existe) é absolutamente essencial para a integração. Há muita gente que vem sem emprego e sem casa e acaba por se ajeitar em casa de gente conhecida até que se conseguir novamente ter de pé.
Mas nós chegámos sem ninguém. Arrendar uma casa foi primeiro um pesadelo, depois uma agradável surpresa. Os senhorios têm muitas reservas em alugar a casa a estrangeiros e, arriscaria a dizer, a portugueses ainda mais. Nem demonstrando que se pode pagar a caução (muitas vezes exorbitante) e que tem contrato de trabalho - o início da procura foi doloroso e desencorajador. Mas depois veio a surpresa e conseguimos um bom apartamento num subúrbio da cidade do Luxemburgo a preços incrivelmente baixos para o que estávamos habituados a ver. No nosso prédio vivem maioritariamente idosos luxemburgueses e um jovem casal alemão que só cá está esporadicamente. Às vezes sinto que nós viemos destabilizar e acabar com todo este silêncio.
De início ainda conhecemos algumas pessoas de Portalegre que se mostraram interessadas em ajudar-nos mas que cedo deixaram bem claro que esse interesse não era real. E então desenvolvemos uma habilidade que já trazíamos de Lisboa: passámos a viver bem só os três. Eu entendo que isto possa fazer confusão a muita gente mas no geral nós bastamo-nos no dia a dia e nos dias mais especiais. Planeamos viagens, fins de semanas com outros amigos espalhados aqui por perto, fazemos planos com outros bons amigos quando vamos a Portugal. Eu tenho gente no trabalho com quem me dou muito bem e o M. também mas ainda não fizemos transbordar essas relações para fora dos respectivos escritórios. Talvez esta semana o façamos, convidando a sua chefe para jantar mas será a primeira vez.
Eu sou um bocado bicho do mato mas o M. não, pelo contrário. Só que, além do trabalho, não encontrámos ainda pessoas com quem partilhamos interesses, convicções. Não nos damos com Portugueses só porque também somos Portugueses, nem com outros estrangeiros só porque somos emigrantes - nunca forçámos estes encontros ou relações. Vejo amigos na nossa situação e vejo como se adaptaram e criaram relações e não me faz confusão nenhuma, acho normal. Mas tudo depende do país onde se vive, da profissão e dos interesses extra-profissionais e tudo isto é diferente para todos nós. Os Luxemburgueses (os verdadeiros, nascidos e criados aqui) não são muito abertos, parece-me aliás que se fecham num círculo um pouco elitista (que eu até entendo, dada a percentagem esmagadora de estrangeiros que vivem no seu país).
Às vezes isto custa, não podemos mentir. Às vezes precisávamos de caras amigas para relativizar e esquecer a rotina, uma mão amiga que nos ficasse com o miúdo enquanto tratávamos de espairecer um pouco, a companhia para nos sentarmos à mesa e beber e comer enquanto as horas passam sem se fazer notar. Já nem falo da família, que poderia ver o V. crescer e participar activamente desse crescimento com o seu amor desinteressado e a sua disponibilidade. Mas nós aceitámos a inexistência de tudo isto quando decidimos vir e às vezes o peso é enorme mas no fim a escolha é sempre nossa. E assim aqui andam os três da vida airada!