novembro 06, 2013

Trinta e quatro considerações aos trinta e quatro anos

😪1. Continuo a ter muita inveja das pessoas que fazem anos no Verão. Sempre quis ter nascido num mês de calor, acho que até a passagem do tempo me pareceria mais leve. Mas não: os trinta e quatro chegaram num dia em que céu estava carregado, cinzento e quase a tocar no chão.
2. Este ano quase me esquecia que fazia anos. Às vezes andava a antecipar o dia nas semanas antes, excitada com a festa ou simplesmente com a data mas este ano quase só me apercebi disto no dia. Não senti nenhuma euforia, nada. É como se de repente percebesse que a ocasião quase não traz nada de novo. Acho que deve ser a indiferença que se sente antes de se deixar de gostar de aniversários definitivamente.
3. O dia teve três pontos altos: comemos sushi no carro, enquanto chovia torrencialmente; visitei o pior supermercado de que me lembro pela primeira vez; o meu filho trouxe-me flores. Empolgante, eu sei.
4. Às vezes sinto que vivi muita, muita coisa e que aprendi outras tantas. Outras parece que cheguei agora ao Mundo e ainda estou no início da aprendizagem. No geral, o balanço entre as duas não me deixa arrependida de nada.
5. A minha maior riqueza é o meu filho. O amor que sinto por ele e a forma desmesurada e desinteressada como ele gosta de mim fazem-me esquecer todas as noites que não dormi, todos os momentos de pânico que vivi por não saber o que fazer, todo o cansaço e birras por que passámos até hoje.
6. Passaram trinta e quatro anos e continuo a não gostar muito de pessoas. É claro que conheço bons espécimes e gente que não cabe nessa categoria mas a pessoa comum com quem me tenho cruzado deixa muito a desejar. Claro que isto vale especialmente para as pessoas com quem me cruzei profissionalmente, afinal é com elas que passo grande parte do tempo.
7. Já sinto os efeitos do generation gap. Muitas vezes já me perguntei se sou eu que sou velha ou se há gente muita maluca por esse mundo. Seja como for, às vezes apetece-me mesmo dizer "Antes é que era...".
8. Afinal, gosto de queijo, vinho e cerveja.
9. Se pudesse voltar atrás, mudaria apenas uma coisa na minha vida: escolhia um curso mais útil, mais pragmático, com mais saída profissional. Mesmo que o resultado fosse o mesmo. Sinto que perdi tempo e fiz perder tempo e dinheiro aos meus pais para chegar ao fim e não ter sequer uma profissão, apenas um diploma que me custou mas que de pouco me serve.
10. Hoje beijei mais colegas de trabalho do que gostaria.
11. Tenho a sensação que a vida me reserva ainda alguns sucessos.
12. Não gosto de viver na era em que se passa constantemente a ideia de que toda a gente é especial e talentosa: não devemos ter vergonha de ser normais. Não há espaço para tanto prodígio.
13. Acredito que pequenos gestos têm muita importância na vida de toda a gente. Sigo esse lema, nem que isso signifique só deixar passar um carro num cruzamento.
14. Se soubesse o que sei hoje, seria cozinheira.
15. Sou do tempo em que os professores ainda eram exemplos e não uns chatos quaisquer. Eu acho que não era marrona nem demasiado mal comportada: estava exactamente a meio do espectro e acho que ouvir bem o que me dizem me poupou muitas horas de estudo.
16. Gosto de comprar livros simplesmente pela capa.
17. A minha mãe passou-me o sindrome da limpeza e não posso parar antes de arrumar o que posso. Felizmente, entendi que não posso fazer tudo o que há para fazer e isso poupa-me imensos esforços. Mas desarrumação só porque sim é que não.
18. Desisti de tentar ter uma vida/família/casa imaculada e aceito que vivemos da melhor maneira que podemos a maneira mais real e simples possível.
19. Neste ponto da minha vida, viajar é a nossa maior conquista.
20. Aos trinta e quatro anos, continuo a ter na cabeça que hei-de escrever um livro. Não consegui ainda idealizar o estilo, o tema ou a estrutura mas sinto que vive qualquer coisa dentro da minha cabeça.
21. Dá para funcionar sem café mas é chato.
22. Apesar de gostar muito de escrever, adorava saber se tenho realmente nem que seja uma ponta de talento para qualquer actividade ou se sou simplesmente um cepo, criativamente falando claro.
23. Deixar de fumar há nove anos foi das melhores decisões que tomei na vida. Às vezes ainda. E dáassim uma moinha, especialmente depois das refeições, mas não há nada a fazer: tornei-me numa chata ex-fumadora.
24. Sou casada há quase dois anos mas ainda me custa falar no meu marido. Ele há-de ser sempre o meu namorado. E o melhor do Mundo, ainda por cima.
25. Cresci no meio de muitos rapazes e por isso acho que eles ficam, enquanto as raparigas se vão perdendo pelo caminho.
26. Sinto-me como uma velha senhor sempre que aqui me tratam por Madame.
27. Tenho trinta e quatro anos e a sensação que sou um ser imperfeito e inacabado.
28. Todos os dias que passo no Luxemburgo servem para fazer crescer uma certa raiva que sinto pela classe política do meu país e debato-me com um grande dilema para mim: o orgulho de ter um filho português mas a quem posso alargar os horizontes e mostrar mais um bocadinho de Mundo. Custou-me tanto afastá-lo do país e de quem mais gostava dele mas estes dois anos têm provado que foi a decisão certa.
29. Eu odeio neve e já estou em alerta para os primeiros flocos do ano.
30. Três anos depois e consegui finalmente recuperar um pouco da pessoa que era antes: já consigo ler bastante e até ouvir música.
31. Dava tudo para voltar a Portugal mas não quero por nada sair daqui.
32. Aos trinta e quatro anos estou-me mais ou menos marinbando para o que os outros pensam de mim e até consigo sair à rua sem um pullover a tapar o rabo.
33. Tenho bons amigos activos mas também belos amigos passivos e gosto deles de qualquer das maneiras. Às vezes estar visível não é tudo o que importa.
34. São trinta e quatro anos de certezas e de outras tantas dúvidas a nascer. Estou grata por tudo,em tirar nem pôr mas por favor não me quero tornar numa optimista oca ou numa pessimista deprimida. Quero apenas e só ser normal.

7 comentários:

Nuno Guronsan disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nuno Guronsan disse...

Acredito profundamente na décima terceira consideração. E olha que viver os últimos três anos em Portalegre (tu sabes do que estou a falar ;), ajudou ainda mais a acreditar nessa convicção de que "the big things are in the little details".

Feliz aniversário!

Dalma disse...

Querida, muitos parabéns! Adorei ler as tuas 34 considerações, com especial relevância para a 15ª já que fui tua professora e deixo aqui o meu testemunho de que eras realmente uma aluna exemplar!
Beijinhos e uma vida cheia de êxitos

Unknown disse...

Tenho gostado tanto de ler os teus últimos posts e este em particular. Esta lista deu-me que pensar e acho que isso é talento que nem toda a gente tem :)

Beijos e muitos parabéns!

Tati disse...

Algumas considerações sobre alguns dos teus pontos:
1. Se tivesses nascido no Verão não eras tão boa pessoa, pá, não digas isso!
2. este ano também não dei a importância que costumo dar, estarei a ficar velha?
3. Aniversário chuvoso, Aniversário abençoado!
6. idem idem aspas aspas. ás vezes penso se sou eu que sou socialmente menos capaz.
9. Apesar de tudo eu não. Se tivesse coragem e um certo tipo de tempo, tirava era outro, isso e se achasse que isso fosse ajudar-me profissionalmente. Neste momento acho que não.
10. Eu ontem tb, deixa lá.
12. Tu és talentosa e um exemplo a seguir.
20. Hás de fazer tudo no momento certo. Algo me diz que, assim como o mestrado, assim como o Vi, também esse projecto virá no tempo certo. Será?
21. Eu é a diferença entre log on e log off :P
22. yes you have
23. Parabéns. Keep up the good work.

Vera Cruz disse...

Se estivéssemos no tumblr reblogava já, porque isto é tão o meu gpoy ('gratuitous picture of yourself').

Helena Barreta disse...

Muitos parabéns. Excelente post.