dezembro 13, 2013

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Às vezes ainda me dá para sentir-me um bocado só. São dias, toda a gente murcha um pouco de vez em quando. E nem sequer acho que alguém me poderia ajudar a não sentir-me assim.

É como se de repente estivesse a viver a minha vida toda outra vez ou a olhar para mim, ausente do meu corpo, em todo o tempo passado e no final questionar-me se era realmente preciso aquilo tudo para hoje chegar aqui. Eu gosto de pensar que sim, que valeu a pena toda a solidão, todo o isolamento que escondia, todo o sentimento de estranheza e aquela sensação de nunca encontrar o meu sítio, de nunca pertencer a nenhum grupo, de me sentir, de me colocar de parte.

Às vezes gostava de saber o que viam as pessoas quando olhavam para mim nesses anos passado. Uma miúda popular? Uma viciada em tristeza? Uma apaixonada patética? Uma rapariga medíocre? Quantas vezes as pessoas terão tido pena de mim? Quantas vezes terão desejado a minha vida? Quantas percebiam verdadeiramente o que me estava a acontecer? Mata-me perceber que nunca hei-de saber e que nunca vou entender como é olhar-me de fora. Dói-me chegar à conclusão que não sei o que vêem os outros olhos quando nos cruzamos por aí e que, quase certamente, isso já deixou de interessar.

Às vezes, muito de vez em quando tenho silêncio pelo tempo suficiente para me lembrar como era. Para fazer desfilar na minha cabeça os fins de tarde no terraço da casa em Telheiras, com vista para lá do Campo Grande sem ter a mínima ideia do que estava a fazer naqueles dias, as tardes vazias em Benfica, a ouvir a mesma música uma e outra vez, o pânico quando vivia na Penha de França por não entender o que estava a causar a mim mesma. Passei tantos dias à deriva, fechada sobre mim, repetindo um sofrimento que não sei de onde vinha até me sentir nauseada, sem vontade de acordar, sem força para estudar, sem coragem para admitir o que estava a acontecer. Hoje, por breves momentos, enquanto o nosso filho dormia para curar o cansaço de ontem, voltou-me tudo isto à cabeça e, pior, ao estômago, como se agora tivesse recuado dez anos e estivesse perdida e não soubesse como despertar desse torpor em que a tristeza me mergulhava.

Às vezes demasiado silêncio traz de volta os meus fantasmas. Feliz de mim, que agora, à custa de ter gerado uma vida que é cem vezes, mil vezes, milhares de vezes mais importante que a minha posso empurrar tudo isto de volta, como se a bagagem fosse demasiada mas a mala ainda assim conseguisse fechar. Espero que um dia não reste mais nada para me assombrar os dias cinzentos. Mas alguma vez estarei livre?

2 comentários:

M de M disse...

se achas que não consegues encontrar respostas nos outros, sabes que só te cabe a ti fechar e trancar essa gaveta e atirar a chave no fundo do mar. Aí estarás livre...

Um beijo gigante daqui
*****

Dalma disse...

Marisa, falando genericamente, há coisas que devemos fechar em gavetas, daquelas gavetas que estão sempre emperradas e portanto difíceis de abrir. Cá em casa existem e contém três anos de guerra nas florestas da Guiné. As minhas contém o medo... as da minha metade nem eu sei felizmente o que lá está pois nunca me foi deixado espreitar!
Fecha as tuas e mesmo que não queiras deitar a chave ao mar, deixa que emperrem por falta de uso!!
Um beijinho, Bom Natal mesmo que longe dos teus queridos e um Ano Novo com tudo o que mereces!