dezembro 23, 2013

Ele está quase aí!

Sabem aquela sensação que se tem em Lisboa em pleno Agosto e a cidade está praticamente vazia? Então agora imaginem a mesma sensação mas ao nível de um país! É engraçado pensar que todos os habitantes do Luxemburgo caberiam em metade da minha Lisboa e portanto as proporções são todas um bocadinho diferentes.
 
Os portugueses são já un quinto da população do Luxemburgo mas, mais importante ainda, perfazem um quarto da população activa do país, o que é um número um pouco impressionante. Muitos homens portugueses trabalham na construção civil que, baseada num contrato colectivo de trabalho, pára por completo durante quatro semanas no Inverno e outras quatro no Verão. Isto por si podia explicar o cenário dos últimos dois, três dias: trânsito calmo, nenhuma fila para chegar ao trabalho, supermercados apenas suficientemente frequentados, sem muitas confusões de última hora. Os portugueses que ficam já se tinham abastecido nas semanas anteriores: era vê-los carregar as caixas de bacalhau como se fossem guitarras, encher os carrinhos com caixas inteiras de Licor Beirão e outras bebidas espirituosas, preparando a noite de consoada. Aposto que muitos ainda tentarão encontrar as couves essenciais entre hoje e amanhã (digo já que fui uma mulher prevenida e trouxe-as para casa no Sábado, não fosse o diabo tecê-las).
Eu cá estou pronta: a minha mãe fez-me o favor de me mandar três belíssimas postas de bacalhau, que demolham tranquilamente na nossa cozinha; as couves esperam a sua vez e eu espero que não murchem totalmente até amanhã; escolhemos um bom vinho para a Ceia; decidi que teremos apenas duas sobremesas (afinal, somos apenas dois adultos mas uma mesa só com uma seria até um bocadinho triste). O que é realmente estranho no meio disto tudo? É que, por estarmos longe, é o primeiro Natal que eu tenho de organizar, em que tenho de ser eu a garantir que está tudo em marcha. É um bom teste porque afinal somos nós os três e é também a situação ideal para criarmos as nossas próprias tradições de Natal. Este ano começámos com o calendário do advento, que o Vicente adora e que terá de certeza já lugar no próximo ano. Também usamos os enfeites de Natal que ele faz na creche para personalizar a árvore: no ano pasado eram de papel, este ano sofreram um upgrade e são feitos de qualquer material parecido com gesso. Montamos o presépio e deixamos que ele brinque com as figuras como quer (ontem pôs ovelhas, vaca e burro a pastar em cima da mesa, enquanto o Pai Natal chegava ao acampamento numa carrinha 4x4!).
Não vamos ter as filhozes e azevias da minha avó, o tronco de Natal que sempre temos à mesa, o chocolate depois da meia noite, o vinho novo que o meu pai sempre ia comprar ao produtor, as azeitonas retalhadas e temperadas dias antes de festa, o doce de ananás da outra avó, eu e a minha irmã vestidas de novo no dia de Natal, os vizinhos que passam para dizer olá e se sentam a beber um copo, os presentes chegando a casa em sacos enormes que se escondem da nossa vista nos quartos.
Não pensar muito nisto tem ajudado mas às vezes bate aquela tristeza por saber que ficamos cá. Por exemplo no Sábado, quando regressávamos das compras, e vi uma família apressada e carregada de malas, certamente a correr para o aeroporto. Queria que também nós pudéssemos partir mas náo faz mal: ao mesmo tempo, vai-nos saber muito bem ter uns dias de férias sem precisarmos de perder tempo com malas, aeroportos, carros alugados – simplesmente estarmos os três, sem compromissos e sempre a poder pegar no carro e fugir para qualquer lado.
Acho que chegou a altura de vos desejar um feliz Natal, esperando que todos possam encontrar algum conforto nesta festa de família. Sei que para muitos será mais difícil este ano mas que possamos usar este tempo para celebrarmos as coisas mais simples, os gestos aparentemente insignificantes, os pequenos prazeres, o tempo que os outros nos dedicam. Nós vamos estar longe mas felizes por saber que em muitos sítios, espalhados por parte da Europa, há gente que nos estima e a quem queremos bem. Festas muitos felizes, vos desejo eu. De coração.

2 comentários:

Carla R. disse...

Beijinhos M e boas festas. Também ja passei uma vez o Natal longe da familia, compreendo muito bem este texto. Vais passar o Natal bem acoimpanhada e com boa comida. E o espirito natalicio mora dentro de ti. Vai tudo correr bem ! :)

Dalma disse...

FELIZ NATAL, Marisa e que 2014 todos os teus sonhos se realizem!