Sabem aquela
sensação que se tem em Lisboa em pleno Agosto e a cidade está praticamente
vazia? Então agora imaginem a mesma sensação mas ao nível de um país! É engraçado
pensar que todos os habitantes do Luxemburgo caberiam em metade da minha Lisboa
e portanto as proporções são todas um bocadinho diferentes.
Os portugueses
são já un quinto da população do Luxemburgo mas, mais importante ainda,
perfazem um quarto da população activa do país, o que é um número um pouco
impressionante. Muitos homens portugueses trabalham na construção civil que,
baseada num contrato colectivo de trabalho, pára por completo durante quatro
semanas no Inverno e outras quatro no Verão. Isto por si podia explicar o
cenário dos últimos dois, três dias: trânsito calmo, nenhuma fila para chegar
ao trabalho, supermercados apenas suficientemente frequentados, sem muitas
confusões de última hora. Os portugueses que ficam já se tinham abastecido nas
semanas anteriores: era vê-los carregar as caixas de bacalhau como se fossem
guitarras, encher os carrinhos com caixas inteiras de Licor Beirão e outras
bebidas espirituosas, preparando a noite de consoada. Aposto que muitos ainda
tentarão encontrar as couves essenciais entre hoje e amanhã (digo já que fui
uma mulher prevenida e trouxe-as para casa no Sábado, não fosse o diabo
tecê-las).
Eu cá estou
pronta: a minha mãe fez-me o favor de me mandar três belíssimas postas de
bacalhau, que demolham tranquilamente na nossa cozinha; as couves esperam a sua
vez e eu espero que não murchem totalmente até amanhã; escolhemos um bom vinho
para a Ceia; decidi que teremos apenas duas sobremesas (afinal, somos apenas
dois adultos mas uma mesa só com uma seria até um bocadinho triste). O que é
realmente estranho no meio disto tudo? É que, por estarmos longe, é o primeiro
Natal que eu tenho de organizar, em que tenho de ser eu a garantir que está
tudo em marcha. É um bom teste porque afinal somos nós os três e é também a
situação ideal para criarmos as nossas próprias tradições de Natal. Este ano
começámos com o calendário do advento, que o Vicente adora e que terá de
certeza já lugar no próximo ano. Também usamos os enfeites de Natal que ele faz
na creche para personalizar a árvore: no ano pasado eram de papel, este ano
sofreram um upgrade e são feitos de qualquer material parecido com gesso.
Montamos o presépio e deixamos que ele brinque com as figuras como quer (ontem
pôs ovelhas, vaca e burro a pastar em cima da mesa, enquanto o Pai Natal
chegava ao acampamento numa carrinha 4x4!).
Não vamos ter as filhozes e azevias da minha avó, o tronco de Natal que sempre temos à mesa, o chocolate depois da meia noite, o vinho novo que o meu pai sempre ia comprar ao produtor, as azeitonas retalhadas e temperadas dias antes de festa, o doce de ananás da outra avó, eu e a minha irmã vestidas de novo no dia de Natal, os vizinhos que passam para dizer olá e se sentam a beber um copo, os presentes chegando a casa em sacos enormes que se escondem da nossa vista nos quartos.
Não pensar muito
nisto tem ajudado mas às vezes bate aquela tristeza por saber que ficamos cá.
Por exemplo no Sábado, quando regressávamos das compras, e vi uma família
apressada e carregada de malas, certamente a correr para o aeroporto. Queria
que também nós pudéssemos partir mas náo faz mal: ao mesmo tempo, vai-nos saber
muito bem ter uns dias de férias sem precisarmos de perder tempo com malas,
aeroportos, carros alugados – simplesmente estarmos os três, sem compromissos e
sempre a poder pegar no carro e fugir para qualquer lado.
Acho que chegou a
altura de vos desejar um feliz Natal, esperando que todos possam encontrar
algum conforto nesta festa de família. Sei que para muitos será mais difícil
este ano mas que possamos usar este tempo para celebrarmos as coisas mais
simples, os gestos aparentemente insignificantes, os pequenos prazeres, o tempo
que os outros nos dedicam. Nós vamos estar longe mas felizes por saber que em
muitos sítios, espalhados por parte da Europa, há gente que nos estima e a quem
queremos bem. Festas muitos felizes, vos desejo eu. De coração.
2 comentários:
Beijinhos M e boas festas. Também ja passei uma vez o Natal longe da familia, compreendo muito bem este texto. Vais passar o Natal bem acoimpanhada e com boa comida. E o espirito natalicio mora dentro de ti. Vai tudo correr bem ! :)
FELIZ NATAL, Marisa e que 2014 todos os teus sonhos se realizem!
Enviar um comentário