Estive quase a não poder embarcar no primeiro voo: indecisa entre o táxi e o autocarro, perco demasiado tempo a decidir e, quando finalmente consigo escolher, parece demasiado tarde para ir de autocarro. Mas não, consigo chegar cinco minutos antes da hora de embarque, o que, como não preciso facturar nenhuma bagagem, é basicamente o tempo ideal para nem sequer me sentar quando chego à porta destinada. Primeiro voo até Frankfurt, corrida entre terminais no aeroporto alemão, chegada à nova porta de embarque cinco minutos antes do seu início. Estou cheia de sorte, penso eu.
É a terceira semana consecutiva em que viajo e continuo a aperfeiçoar a técnica de organizar a minha bagagem de cabine. Já não trago o secador e tão pouco as meias para dormir - os hotéis estão sempre bem equipados e quentes para sequer pensar nisto. Escolho três ou quatro peças muito leves, uma data de livros enfiados no leitor digital, os chinelos. Posso deslocar-me melhor entre terminais de aeroportos, sem precisar de partir as costas com o peso das malas. O computador continua a pesar demasiado.
Quando chego a Barcelona, o céu está limpo. Mas é só mesmo quando aterramos, porque até aí as nuvens são tantas e tão instáveis que inicio um novo ritual para as viagens que ainda aí vêm: fecho os olhos e começo a gemer baixinho porque já não consigo conter o medo. É no mínimo irónico que a minha escolha para melhorar a nossa vida seja também responsável por aumentar a probabilidade desta terminar num desastre de aviação. Enfim, tema para outro post. Saio a correr do avião, páro a meio da manga para juntar o computador à mala de mão e sigo em direcção aos táxis. Estranhamente, não há ninguém à espera e calha-me um taxista nervoso mas muito educado.
No hotel, faço o check in em tempo recorde. Pela primeira vez, tenho alguém que me leva a mala (desisti de dizer que não preciso de ajuda, a minha insistência podia ser mal intepretada) e que me chama o elevador e me leva mesmo à porta do quarto. Não precisa de me explicar como funcionam as coisas porque já fiquei neste hotel no ano passado. Pela primeira vez, mesmo como nos filmes e deixando-me um pouco sem jeito, dou gorjeta ao senhor antes dele me fechar a porta do quarto e de eu finalmente respirar fundo. Antes, tínhamos falado sobre o facto de ser um quarto no décimo quinto andar: ele dizia-me que há quem não goste destes quartos devido à altura. Eu disse que a vista devia ser interessante mas logo percebi o que ele me estava a dizer: é realmente demasiado alto e faz-me sentir coisas no estômago mas o pior é o vento que assobia na janela e me faz pensar que vêm aí um tornado.Mas parece que não, parece que é mesmo assim.
Decido voltar à mesma cervejaria onde comemos na última visita. Estou-me nas tintas para o ditado que diz que não devemos voltar onde fomos felizes: eu podia lá esquecer-me do salteado de espargos e cogumelos ou das patatas bravas que comi ali. Pedi um copo de vinho branco e três raciones para acompanhá-lo. Um dos empregados parte um copo enquanto lhe puxa o lustro e cora quando vê que eu estava a ver. Eu rio-me, peço a conta e fico radiante quando vejo um táxi livre mesmo à porta. Parece-me uma semana inteira mas só cheguei há três horas. Amanhã quero mesmo ver o mar.