março 11, 2014

Buergbrennen

(e agora para provar que a minha cabeça não são apenas desastres aéreos...)



No Domingo, além do dia maravilhoso de que pudemos disfrutar, tivemos direito a um final de tarde bastante diferente também. Ficámos um bocado surpreendidos por só sabermos disto este ano (afinal já é o terceiro início de Primavera a que assistimos no Luxemburgo) mas acho que demora um pouco até estarmos mais atentos ao que se passa à nossa volta e, no final, termos vontade de participar.
 
Ficámos surpreendidos por encontrar em vários pontos do país cruzes enormes feitas de palha, madeira ou outros materiais inflamáveis. Depois vimos uma fotografia que mostrava uma destas cruzes perto da nossa casa e decidimos investigar. Num caminho rural, ladeado por pastos e vacarias onde os animais se repousavam tranquilamente, dezenas de pessoas caminhavam em direcção à cruz sem iluminação a não ser a magníficia luz do final do dia. A comuna tinha montado duas barracas para servir os comes e bebes (sim, mesmo aqui não se faz nada sem se poder comprar a bela da salsicha no pão e uma cervejinha fresquinha), onde inclusivamente tinham montado um ecran gigante para quem não quisesse estar lá fora a ver.
 
Escolhemos um sítio suficientemente perto para que os três pudessem ver. Olhando o horizonte à nossa volta, mais fogueiras se iam acendendo na noite já escura. A anteceder o ritual propriamente dito, um espectáculo de fogo de artifício bastante impressionante, quase melhor do que o que vimos no final do ano. E depois o lançar de fogo ao monstro gigante, como lhe chamou o Vicente (que no início tremia literalmente de medo mas depois aceitou e até gritou com entusiasmo). A ideia é queimar o que resta do Inverno, afugentar o espírito que nos torna os dias tão gelados e cinzentos e sombrios e chamar a Primavera. Este site descreve-o muito bem como "o triunfo do calor sobre o frio, da luz sobre as trevas". É uma celebração com origens pagãs e que se calhar faz mais sentido aqui por terras mais a Norte porque os Invernos costumam ser longos e escuros (mesmo que este ano tenhamos tido um dos melhores dos últimos tempos, com apenas UM dia de neve).
 
Achei o momento muito especial. A temperatura da noite parecia mais de Primavera do que outra coisa, a falta de luz artificial contribuiu para que fosse um momento místico. Havia banda sonora com temas grandiosos (alguns demasiado contemporâneos, é verdade) e a simbologia daquilo tudo tocou-me: mais do que o regresso do Sol e do calor, o início de um novo ciclo, o regresso da luz, o fim da atmosfera depressiva que é ter um céu cinzento sempre sobre nós. Desde então, mais dois dias de Sol que, embora não possamo aproveitar porque trabalhamos, fazem incrivelmente bem à alma!

1 comentário:

Helena Barreta disse...

É uma forma bonita de se entrar nos dias mais quentes e maiores.

Viva o sol, viva a Primavera que está a chegar.