março 19, 2014

O trigésimo quarto dia do Pai

O meu pai viu nascer a primeira filha há trinta e quatro anos. Desde aí, muito lhe aturou, perdoou, ensinou e, espero eu, esqueceu.

Por termos feitios tão iguais, chocámos muito no passado. Eu queria muitas coisas, ele queria proteger-me de outras e acabávamos sempre às turras, com a minha mãe a deitar água na fervura. Mas tenho que dizer que lhe era difícil resistir ao choradinho que eu fazia sempre que queria muito ir sair, por exemplo - sempre fui uma menina do papá.

Agora sou adulta o suficiente para admirar o belo trabalho que fez (junto com a minha mãe) com duas miúdas, acho mesmo que é preciso ser mãe ou pai para reconhecer certas coisas que nos parecem despropositadas quando somos mais novos. E muitas vezes tenho pena de ter exigido tantas coisas dele (s) porque agora sei verdadeiramente o valor do trabalho e do dinheiro que daí vem. Ainda fico espantada por todas as calças Levi's que tive ou pelos cinco contos (se a memória não me falha) que me deu para levar para a Zambujeira do Mar pela primeira vez e que eu achava que era uma miséria. O que vale é que os pais têm tendência a desvalorizar esta nossa estupidez natural, também chamada de adolescência. Também posso agora apreciar como nunca me castrou, nunca me prendeu, protegendo-me sempre na medida ideal e deixando-me ser quem eu queria ser, mesmo se às vezes isso não tenha dado o melhor resultado. Cuidou sempre do meu bem estar sem me sufocar mas também sem me ignorar e, vejo agora, esse equilíbrio não é propriamente fácil de atingir.

O meu pai sacrificou-se bastante para dar o melhor à sua família, trabalhou longas horas, Natais e outros feriados incluídos. Lembro-me dele sair a meio da consoada para que outras pessoas não ficassem isoladas do Mundo, enquanto a nossa alheira de cação ficava fria. Ainda hoje me trata de tudo o que não consigo ou posso gerir: papelada, bancos, finanças - é tudo com ele e ele nunca se aborrece com isso. E já o disse noutras vezes mas na minha cabeça, entre tantos outros actos de amor, está acima de tudo a abnegação com que me perdoou a maior mentira e asneira da minha vida e como me ajudou a voltar a ficar de pé. Só posso imaginar a dor que lhe (s) causei e foi apenas com o seu empurrão que voltei ao caminho certo.

O meu pai tornou-se também num grande avô, como sempre imaginei que ele fosse. Tem uma paciência infinita, ama o meu filho incondicionalmente e trata dele como se fossemos nós. Só é pena que a vida nos tenha empurrado para longe ou poderia levá-lo mais vezes ao parque e ajudá-lo a tomar banho e fazer-lhe as vontades que só os avós sabem fazer. Feliz dia do Pai, é o que lhe desejo. E espero, como todos os filhos, que ainda possamos festejá-lo muitos e muitos anos juntos. Mesmo que a gente brigue e discorde e discuta, no fim entendemo-nos sempre e o meu pai é o melhor pai.

2 comentários:

Dalma disse...

Marisa, gostei muito, mesmo muito deste teu post e agora que és mãe compreendes como é importante um "não" mesmo que eles(pais) no fundo desejassem poder dizer"sim"!
Beijinhos

Helena Barreta disse...

"Quando fores mãe vais perceber", ouvia isto dos meus pais e irritava-me, mas é mesmo verdade.