março 03, 2014

Os meus pais (se por acaso restarem dúvidas)

Os meus pais são a razão de eu estar onde estou. Não emigrada, entenda-se, mas consciente do difícil que é trabalhar, lutar, procurar sempre uma vida melhor. É o seu exemplo que tenho na minha cabeça quando me avalio profissionalmente e é apenas deles o orgulho que me importa receber por todos os passos que dei.
 
Estou-lhes grata, para sempre. Não só por todos os sacrifícios que fizeram por mim (e pela minha irmã mas desculpem lá, este texto é meu), mas também por, em tempos melhores ou piores, terem acreditado em mim, nos meus desejos, nas minhas capacidades de adaptação. Não fui uma filha fácil, eu sei. Mas em minha defesa também não fui do pior que se via na altura em que cresci. Fiz muitas asneiras, tive demasiada vontade de crescer à pressa e eles mesmo assim me compreenderam e travaram a tenpo. Muitas vezes quis levar a minha avante: uma vezes consegui, outras nem por isso - foram tempos de muitas lágrimas, resultado da chorona que sou e sempre fui.
 
Reconheço que muitas vezes não lhes soube demonstrar o quanto aprecio a sua ajuda, o seu afecto, a sua compreensão e a culpa é inteiramente minha. Fechei-me sobre mim numa altura muito difícil da minha vida, isolei-me com a ideia de que ninguém me iria compreender, nem mesmo eles e fazer o caminho inverso, abrir-me e deixar que eles me ajudassem foi sinónimo de muita dor. Mas sinto que com o tempo fui melhorando e os incluí na maior parte das minhas decisões, buscando sempre a sua opinião, experiência e ponto de vista. É deles a aprovação que me faz falta. Estou longe, em todos os casos, de ser perfeita nisso.
 
Estar longe dos meus pais é difícil porque sei exactamente do que os estou a privar e porque já não se trata apenas de mim mas também do meu filho. É verdade que já vivia longe deles há mais de dez anos antes de vir mas dois mil quilómetros estão longe dos duzentos que nos separavam até então. A única maneira de estar longe e manter simultaneamente a minha sanidade mental é relativizar as coisas e não pensar demasiado nisso. É uma forma de protecção: o que seria de mim se pensasse todos os dias na vida que deixei para trás, nas pessoas que me fazem falta, na distância que existe agora entre nós? Talvez seja uma manobra inconsciente de racionalização da dor, a mesma que me diz que sim senhora, a distância é horrível mas é pelo melhor. Eu quero sempre acreditar que sim.
 
Tenho muitos exemplos na minha cabeça dos momentos em que foram tudo para mim, em que esqueceram as minhas imbecilidades, em que gostaram de mim acima de tudo. E também sei que não fiz ainda o suficiente para lhes agradecer estes momentos e que cada hora que passo longe diminui as possibilidades que tenho de fazer isso acontecer. Mas o que não posso deixar passar é a oportunidade de lhes dizer que eu sou a sua criação e não me parece que se tenham saído muito mal. Eu amo-os, mesmo com todas as discussões que tivemos, com todas as vezes (e não foram poucas) em que não estivemos de acordo, com todas as minhas dificuldades de expressão. Talvez se isto ficar escrito se possa tornar numa declaração mais verdadeira, talvez assim já não se possa apagar. Muitas vezes sinto que nunca lhes poderei agradecer convenientemente o que fizeram por mim e o que continuam a fazer, todos os dias, mesmo tão longe de nós. E por me saber tão imperfeita, faço a única promessa com que me posso comprometer: de tentar ser sempre melhor e nisto cabe, obviamente, ser melhor filha. Lá em casa costuma haver muito drama mas a mesma dose de gargalhadas e boa disposição. Que o prato da balança possa pender sempre mais para este lado, é tudo o que desejo.

2 comentários:

M de M disse...

: D faz questão de lhes dizer isso as vezes que forem necessárias e de lhes agradecer, que é algo que por ser tão evidente por vezes nos esquecemos de o fazer e que faz aquela pequena e gigante diferença.
*

(que sorte...)

Helena Barreta disse...

Sim, dizer muitas vezes do quanto estamos agradecidas, seja pelos pais, pelo amado, pelos filhos, dizer muito o quanto é bom estarmos unidos pelos afectos, abraçar muito e transmitir o que nos vai na alma, as juras de amor, os ralhetes, não deixar nada por fazer e por dizer.

Estou certa que os seus pais têm muito orgulho em si e estão felizes por os ter tornado avós.

Um abraço