abril 14, 2014

Introversão

Contrariamente à opinião mais comum, eu sou uma pessoa introvertida. Mesmo que não encaixe na definição científica da coisa, é assim que eu me sinto e isso dita por completo a maneira como me relaciono com as pessoas. Não quer dizer que uns bons anos de amizade e muita confiança não me façam sair da carapaça mas isso demora muito tempo e normalmente as pessoas não têm tempo a perder. Adorava trabalhar sozinha, sem precisar de ir ao escritório, sem ter que conviver muito e, especialmente, não depender de pessoas para fazer o meu trabalho.
 
Tendo dito isto, os meus novos (bem, já não tão novos mas enfim, desde Dezembro) colegas têm-me mostrado como é bom poder trabalharmos lado a lado e fazer do dia de trabalho também um momento de lazer. O ponto chave nesta nossa relação é bastante simples: não dependemos dos outros para atingir aquilo a que nos propomos, o que alivia a relação profissional que venhamos a estabelecer. Podia, em todo o caso, existir um clima de competitividade dada a natureza da profissão mas se existe ainda me passa ao lado e continuará a passar - eu não estou a querer ultrapassar ninguém, apenas garantir que a minha parte fica (bem) feita. Os meus colegas ajudaram a lembrar-me que não devo dar tanto valor às primeiras impressões e oferecer a toda a gente segundas oportunidades. Lembro-me de dois casos em particular: o colega número um, muito antes de trabalharmos na mesma equipa, deu-me um cartão de visita com um endereço na internet. Curiosa, cheguei a casa e fui ver de que se tratava: era uma espécie de seita religiosa! Assim que percebi, e de certa forma involuntariamente, formei na minha cabeça a ideia de que ele seria um fanático qualquer que tinha cometido o erro de misturar religião com trabalho. Já o colega número dois me tinha impressionado pela negativa, já que, ao contrário de todos os outros, não vinha cumprimentar o nosso departamento todas as manhãs. Com o tempo e um bocado de tolerância, acabei por perceber que o colega número um não mistura religião com trabalho, embora tenha as suas opiniões quase medievais sobre temas polémicos e é afável e divertido, ao contrário do estereótipo do alemão carrancudo. O colega número dois revelou-se uma pessoa extremamente dócil e prestável, que prefere concentrar-se no trabalho que tem pela frente em vez de perder tempo com situações que o deixam desconfortável.
 
Gosto muito de estar com estes colegas e é mesmo verdade que me divertem e ajudam a passar o tempo de uma maneira menos séria: às vezes é mesmo necessário. Só que acho que não gosto de estar com eles o suficiente para desejar que venha o novo dia de trabalho e continuo a achar que em casa é que estaria bem. Esta minha tendência preocupa-me um bocado: primeiro, porque honestamente não sei se sempre fui assim e segundo, caso não tenha sido sempre assim, não entendo o que me fez mudar de ideias. No fundo, acho que na minha cabeça se foram formando intuitivamente escalas sobre o que é realmente importante para mim e isso mexeu com a ordem das coisas. Ter tempo para fazer o que gosto, poder gerir os meus horários e poder alternar igualmente entre vida privada e profissional são coisas que de repente ganharam uma importância tremenda e que não são compatíveis com a vida de escritório das 8 às 5.
 
E depois há esta coisa da introversão. Cheguei finalmente a um ponto em já não me importo tanto com a opinião que os outros têm de mim. Claro que os amigos contam e a família conta mas de resto? Não me interessa minimamente e isto libertou-me daquela necessidade de procurar a aprovação dos outros a cada instante. E por isso posso ser apenas introvertida sem me chatear muito com isso. Também ajuda que aqui não se fale muito da vida privada no trabalho. Lembro-me que em Portugal isso se debatia constantemente, especialmente nos momentos de pausa, o que acabava por criar mais laços entre as pessoas. Temos então que encontrei o tempo e a profissão ideal para dar largas à minha natureza de bicho do mato. Só me falta entender como posso fazer isto jogar a meu favor sem parecer demasiado anormal mas lá chegaremos!

2 comentários:

Monia disse...

Tradutora. É a profissão ideal para ti :)

M. disse...

Pollijean, que pena não ter seguido tradução na faculdade. Se calhar agora era mesmo um caso a pensar. Vou investigar, de todas as maneiras :)