Este ano, e para ser um bocadinho diferente das visitas até aqui, resolvemos ir de carro para Portugal nas férias do Verão. Não vamos em Agosto, é certo e por isso se perde alguma daquela mística, mas os dois mil quilómetros cá cantarão outra vez em cada direcção. E claro, sempre se poupam uns seiscentos euros em bilhetes de avião, a que se sumariam uns cento e cinquenta de um carro alugado, o que é sempre de considerar
Primeiro tínhamos pensado em fazer a viagem pelo Sul de França e de Espanha. Pegávamos no carro e íamos pela costa, parando nas praias onde nos apetecesse tomar banho, suspirando com as piturescas aldeias à beira mar. Mas depois, quando pensávamos no número de dias que tínhamos para fazer as viagens e em todas as coisas que gostávamos de fazer em Portugal, a conclusão pareceu-nos óbvia: é impossível, estamos malucos ou quê? Então refizemos o percurso (ainda nada verdadeiramente decidido) e agora está claro que vamos direitos como uma seta a nosso rectângulo mais querido.
Vou já dizer: não vamos de Mercedes. Nem de BMW nem outro carrão so género. Chegaremos a Portugal no primeiro carro novo que pudemos comprar com o nosso dinheiro, feio ou bonito, potente ou a soluçar pelo caminho. Não pretendemos impressionar, apenas poder chegar a casa e encher a mala com as coisas que nos têm feito falta aqui. Na minha cabeça, uma imagem: três garrafões de azeite, um frasco de tempero de açorda, bacalhau. É o lugar comum mais verdadeiro da vida de emigrante, parece-me. São coisas difíceis de encontrar aqui ou, se se podem encontrar, vendidas a preços astronómicos e com bastante menos qualidade. Também queremos dar uma volta a todas as coisas que deixámos para trás quando decidimos sair. Naquele dia em que me meti ao caminho com o nosso amigão, tinha na mala da velha carrinha apenas aquilo que considerávamos essencial para recomeçar. Vivemos até aqui sem muita coisa que ficou em Portugal e daremos tudo o que acharmos dispensável, que imagino ser grande parte. É uma ideia libertadora e que pode certamente ajudar pessoas que precisam.
Então e fazer uma viagem com o gaiato reguila de três anos? Pois, não sei. Eu confio nos poderes da canetas de feltro, dos lápis de cera, dos desenhos animados para distrai-lo das longas horas de viagem. A ansiedade seria muito maior se ele fosse mais pequeno e mais irascível, acho que dificilmente arriscaríamos fazer uma viagem destas. Mas dizer-lhe que vamos a caminho de Portugal, a caminho da nossa casa e das casas dos avós, a caminho da praia e da piscina, a caminho de algum Sol (que espero dure até que voltemos) deve chegar para o acalmar de vez em quando.
Ainda faltam uns dias mas claro, a minha cabeça já está em contagem descrescente. E de vez em quando vou-me lembrando de coisas que quero mesmo trazer para cá. Que pena não conseguir arrumar o meu país na mala espaçosa do nosso carro.