fevereiro 02, 2015

Dizer adeus


Com muito alívio, depois de muito esforço escadas acima e abaixo, ontem deixámos finalmente aquela que foi a nossa primeira casa no Luxemburgo. Não foi uma despedida especialmente emocional (pelo menos para mim) porque a única coisa que queria era ocupar-me em exclusivo da casa que é agora nossa, sem ter que me dividir entre limpezas e arrumações nas duas.

Mesmo assim, ver a casa vazia levou-me de volta ao dia em que aqui cheguei, depois de um dia e meio de caminho com uma carrinha Mégane (que já ia dando as últimas sem sabermos) completamente carregada com o que decidimos ser o essencial para recomeçar. Foram dois mil quilómetros feitos com um bom amigo que se ofereceu para me acompanhar nesta aventura, sem saber muito bem o que me esperava mas certa de que, fosse o que fosse, íamos com vontade de pôr mãos à obra. Depois de um mês longe do meu amor, depois de um mês em que o miúdo, na altura com quase um ano e meio, pouco reagia à voz do pai tão longe, chegar ao nosso apartamento era bastante mais que um alívio: era a certeza que as coisas se estavam finalmente a recompor.

Lembro-me de pensar que as fotografias que tinha visto não lhe faziam justiça: era maior e mais aconchegador do que o anúncio fazia crer. Tinha aquele charme das janelas que deixavam olhar o céu, a varanda que nunca chegámos a usar muito, tudo o que precisávamos para começar de novo. E foi exactamente isso que fizemos. É tão difícil conseguir uma casa (decente, num sítio decente, com uma renda decente) no Luxemburgo! Há quem não goste de alugar a estrangeiros, há quem não queira crianças como inquilinos, há quem simplesmente peça um valor irreal por um espaço exíguo - as condições multiplicam-se e complicam-se, acima de tudo. Por isso, conseguir aquela casa (naquela sítio, por aquele preço) pareceu-me sempre um pouco um milagre ou, pelo menos, um belo golpe de sorte que guardámos durante três anos mas do qual tinha chegado a hora de nos despedirmos.

Repito que saímos com o alívio de quem encontrou finalmente um sítio ao qual chamar seu. Aprendemos, à força, que aquele mito da mudança fácil porque afinal nem temos muitas coisas é mesmo só isso - um mito - e não quero mudar-me nunca mais dos próximos vinte anos. Não nos mudámos para muito longe (na verdade, apenas algumas ruas de distância), por isso não sentiremos propriamente saudades dos três anos que passámos ali. O vizinho de baixo vai certamente festejar a nossa saída (uma criança a brincar normalmente às onze horas da manhã de um Domingo era coisa para o incomodar...), as nossas vizinhas velhinhas vão sentir saudades do Vicente e eu vou recordar com serenidade os nossos vizinhos cem por cento luxemburgueses. Que as novas inquilinas façam bom proveito! Nós cá vamos continuando a dar um pouco de ordem ao caos que é despejar uma vida de uma casa para a outra. Com a vantagem que desta é que é :)

1 comentário:

Helena Barreta disse...

Que sejam muito felizes na vossa nova casa.