junho 02, 2015

Bem-me-quer, mal-me-quer

Nos últimos tempos tenho ouvido algumas histórias de relações que não deram certo. Não vou cometer o erro de considerar que os motivos foram sempre os mesmos mas, no geral, há uma característica que me parece comum a todas: há muitas pessoas que não sabem o que querem.

Pessoalmente sempre tive um problema: parti sempre para as minhas relações com a ideia de que aquela é que era. Mesmo nas relações mais fugazes, em que honestamente eu sabia que não tinha grande hipótese de ir a algum lado, eu investi muitíssimo em fazer tudo resultar. Acho que sempre levei tudo demasiado a sério, nunca fiz coisas só por fazer, sempre procurei ser a melhor versão de mim mesma. Mesmo por isso, vi-me enredada em algumas ilusões que eu mesma criei, sofri e, nesse aspecto, fui responsável for esse sofrimento. Mas, se existe alguma coisa de que me posso orgulhar, é o facto de sempre ter respeitado as pessoas que passaram pela minha vida.

Ouço histórias hoje em dia que me fazem temer pela minha própria relação: pessoas que estavam juntas há imenso tempo e que se separam pelos motivos mais absurdos, famílias que se constroem para logo cada um ir à sua vida, divórcios e separações litigiosas, surpresas um pouco tristes, até na minha perspectiva. Não tenho nada contra pessoas que não querem assumir compromissos, que querem ser livres. Mas então que o admitam, ajam de acordo essa sua filosofia de vida e poupem as outras pessoas do sofrimento desnecessário. Ouço histórias de pessoas que mudam radicalmente e um dia simplesmente deixam de gostar e tenho medo por nós.

Na maioria dos casos, acho que as pessoas se esquecem que uma relação a sério requere trabalho, empenho. Não é só feita de magia e daquela paixão inicial, ambas tão fortes e cegas. Uma relação a sério passa, a partir de um certo momento, a ser também composta daqueles momentos banais do quotidiano, sem glamour nem encantamento, dos defeitos do outro e dos nossos defeitos (tanto os que conhecíamos como os que vamos descobrindo), dos filhos se os houver, das vezes em que só pensamos em estar sozinhos. Não é fácil, muitas vezes não é inspirador, não é bonito. Não é só caras felizes nem fotografias perfeitas, não é toda a gente de acordo, uma rotina sem percalços. Não sei se há quem espere tudo isto mas eu acho que não existe nada assim. Mas sei que existem relações em que as pessoas cuidam uma da outra, em que o sentimento de segurança e tranquilidade é avassalador, em que a admiração e o orgulho pelo outro vão crescendo, em que o amor vence as quezílias mais mesquinhas com o sorriso gozão de quem sabe que ia ganhar. Felizmente, também conheço histórias de amor duradouras, de preserverança e empenho. E a única coisa que desejo é que todos possam encontrar alguém por quem valha a pena lutar, com quem valha a pena discutir, com quem possam ser verdadeiros e por quem se sintam valorizados. Eu bem sei que muitas vezes parece qualquer coisa verdadeiramente rara e inatingível mas talvez com um pouco de paciência e o olho bem aberto a pessoa certa esteja bem perto. E se não estiver, continuo a acreditar que mais vale só que mal acompanhado.

4 comentários:

M de M disse...

hum...tem muito que se lhe diga. Eu acho que muitas das vezes só não encontramos a pessoa certa. Acomoda mo nos demasiadas vezes. Sujeita mo-nos a coisas que não condizem de todo com o que somos. Deixamos de ser verdadeiros, só para agradar a gregos e a troianos. Considero também um erro, tentar mudar alguém à nossa medida. Há paixões que nunca passam disso e não vale a pena insistir. Há Amores que não resistem a tudo e esse tudo é sempre algo para o qual nem cada um de nós está preparado. Respeito e verdade , nua e crua, sobretudo para connosco mesmo.

Beijos

Dalma disse...

Marisa, receita que resulta há 46 anos:
. Nada de egoismos
. Reconhecer, qd é o caso, que erramos.
. Nada de crítica permanente

Bjis
D.

Anónimo disse...

Ao ler as tuas palavras, revi-me nelas..não sei o que quero,ou talvez tenha receio de passar à acção..mas cada dia que passa sei o que NÃO quero..e por vezes é mt dificil desprogramar uma cabeça e coração que pensavam que aquele Amor seria para o resto da vida..desprogramar 19 anos...o pensar que iriamos envelhecer juntos..que seria para sempre..a dedicação, os bons e maus momentos..os obstaculos que fomos ultrapassando..e dps mais tarde, com o passar dos anos cada vez mais sozinha..infelizmente descobri que ao fim de tantos anos..nao temos mt em comum??..e que nao tenho um amigo,companheiro..em que fiquei tao cansada de tudo..que agora ajo em piloto-automático..até um Dia.. ;)

ana disse...

Penso tanto nisso. Mas o que resta quando já se esgotaram todas as possibilidades? Quando já se tentou conversar e explicar aquilo que sentimos e do outro lado não há um bocadinho de interesse em tentar melhorar? Nada, não é?