(Disclaimer prévio e óbvio: não percebo nada de política. Este post é menos sobre castigos políticos e mais sobre integração.)
No passado Domingo, os Luxemburgueses foram chamados às urnas para um referendo, onde lhes foram feitas três questões:
- está de acordo com o voto a partir dos 16 anos?
- está de acordo com o voto dos estrangeiros residentes (desde que habitem no Luxemburgo há pelo menos dez anos e tenham já votado em eleições comunais/europeias anteriores)?
- está de acordo com a limitação dos mandatos governamentais a um máximo de dez anos?
A questão sobre o voto dos estrangeiros incendiou as conversas e as redes sociais, ao mesmo tempo que trouxe para a discussão a ideia de que, apesar de muito se falar sobre tolerância e integração, os Luxemburgueses (grande parte, pelo menos, e a julgar pelos resultados do referendo) são xenófobos. Um pouco antes e depois desta consulta pública, dediquei-me a investigar os foruns online sobre o assunto e fiquei assustada e, simultaneamente, espantada com aquilo que fui lendo.
Primeiro, há que dizer que o Luxemburgo é um caso isolado no que diz respeito aos seus congéneres europeus: é o único país em que a percentagem de estrangeiros residentes está prestes a ultrapassar a percentagem de naturais do país. Do total de 563 mil residentes, 258 mil são já estrangeiros (donde 92 mil são Portugueses). Prevê-se que em 2020 o número de estrangeiros a residir aqui ultrapasse os naturais do Luxemburgo, a fazer crer no balanço migratório dos últimos anos. Isto quer dizer que em breve mais de metade de população deste país não terá direito a votar e terá que aceitar as escolhas de menos de metade da população.
Os Luxemburgueses contra o direito ao voto dos estrangeiros (quase 80% dos votantes neste referendo!) acham que todos os estrangeiros que querem votar devem pedir a nacionalidade Luxemburguesa. Para este efeito, é apenas necessário residir no país há pelo menos sete anos, frequentar um curso de instrução cívica e passar num curto teste de Luxemburguês (uma prova oral sobre assuntos do dia a dia). São estas três cláusulas que tornam alguém digno de poder votar neste país. Eu acho que saber Luxemburguês é desejável e devia ser encorajado mas num país com três línguas oficiais e em que as demarches administrativas são feitas maioritariamente em Francês e Alemão, não entendo a insistência. Falar e compreender duas das línguas oficiais, por exemplo, devia também valer alguma coisa.
Os Luxemburgueses querem, naturalmente, defender a sua língua, história e património. Evidentemente, sou a favor desta auto-preservação, que creio ser comum a todos os povos. Mas os Luxemburgueses acham que os estrangeiros apenas vêm para ganhar mais dinheiro que no seu país de origem e nada mais. Esquecem-se que esses mesmos estrangeiros também querem ficar porque gostam de viver num país mais justo, onde as melhores condições de vida não se resumem aos ordenados, onde há gente de centena e tal de nacionalidades, onde o património histórico e natural são verdadeiramente impressionantes e porque o país está exactamente no coração da Europa. Também se esquecem que os estrangeiros trabalham e, como tal, pagam as suas contribuições, sendo que muitas vezes ganham menos do que um trabalhador luxemburguês exactamente na mesma situação.
Muitos comentários que li diziam qualquer coisa como "Não gostam? Podem voltar para a vossa terra". Acho que estes comentadores se esquecem que sem nós, os estrangeiros que (ainda) não sabem falar Luxemburguês mas que vivem em pleno a sua vida no país não existiria construção civil, restauração, turismo, serviços. Sem nós, o país estaria muito mais atrasado e seria muito menos atraente. Era bom que, a curtos passos de nos tornarmos a maioria, os Luxemburgueses passassem a olhar para nós como parceiros em vez de potenciais ameaças. E que percebessem que uma língua não nos faz amar e valorizar mais o seu país.
4 comentários:
É precisamente o que a maior parte da raça negra sente no nosso Portugal. E muitos de nós, senão quase todos, portugueses de todas as classes sociais, em alguma idade das nossas vidas, já fomos igualmente xenófobos, muitas vezes à sombra de meras brincadeiras...
É estando do outro lado que se percebem muitas coisas...
Mas obviamente que anda por aí muita gente que simplesmente não se quer integrar... ponto.
Marisa, compreendo a tua indignação, mas é tal como diz o Anónimo das 11.44!
Há sempre racismo/xenofobia por mais que se diga o contrário, no fundo, no fundo está lá!
Bjis
Acho que um dos maiores medos dos Luxemburgueses "pure souche" se prende com o dominio emergente das linguas estrangeiras sobre o proprio luxemburgues. Aqui, tao perto da fronteira, quando vamos ao Knauf, so se ouve falar portugues... inclusivamente pelos empregados das lojas. Parece que estamos em casa! Os produtos portugueses nos supermercados muitas vezes nem sequer têm traduçao... Se isto nos parece estranho a nos, imagino a eles. (sorry pela falta de acentos tugas do meu teclado nordico!)
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