Já comecei a escrever dezenas de posts na minha cabeça, durante a noite, enquanto trato da miúda e tento não fechar os olhos. A existir uma entidade divina, não me abençoou com a dádiva dos bebés que dormem muito e bem e por isso, quase à beira dos cinco meses, a menina Amália continua a acordar durante a noite e, se bem que não chora, requere alguma manutenção. O meu sono está esfrangalhado como de costume e, embora já soubesse como era antes dela nascer, não me está a custar menos por isso. É por isto que começo os posts no escuro, às três, quatro ou cinco da manhã: não tenho normalmente forças (nem tempo suficiente) para me sentar ao computador e escrever um post a sério.
Em jeito de resumo, as coisas que me têm ocupado a mente nos últimos tempos:
- a Grécia e a política europeia no geral. Eu sempre disse que não percebo nada de política e, quanto mais tempo passa, mais sinto que isto é verdade. Mas, depois do que li e vi entre o referendo grego e a humilhação a que a Europa sujeitou a Grécia, percebo porque não quero entender a política: é um meio demasiado sujo e desumano. Não quero acreditar nas teorias da conspiração que muitos sugerem porque isso seria o equivalente a enloquecer de vez mas como é que se podem ignorar essas coisas?
- estou um bocado cansada das pessoas que se indignam por tudo e por nada e das outras, que acham que ninguém tem o direito a indignar-se assim. Desde quando é que só existem os dois extremos radicais? Já ninguém tem direito a indignar-se só assim-assim? Também me inquieta o ódio, a mesquinhez e a maldade que tomam conta das caixas de comentários à menor oportunidade e normalmente sem qualquer justificação. Como é que estas pessoas conseguem viver na vida real com tanto fel dentro de si?
- o miúdo vai mudar de escola e ela precisa de uma creche. A parte da escola é pacífica, é mesmo ao pé de casa e automaticamente assignada pela comuna, é a creche que me deixa a cabeça em água. Volto ao trabalho em Janeiro e por isso ainda não estou em pânico mas confesso que, aos poucos, aquele sentimento de que terei de abandoná-la nas mãos de alguém que não conheço e não a conhece toma conta de mim. Ele entrou para a creche aos cinco meses e sobreviveu, ela entrará aos dez meses e também há-de sobreviver. O coração de mãe é que leva umas chapadas nos entretantos.
- no outro dia saímos e eu levei uns boiões para a miúda comer. Escolhi-os com base na indicação da idade (eram indicados a partir dos quatro meses) e não li convenientemente os ingredientes. Acontece que os dois continham leite de vaca e ontem as reacções não se fizeram esperar: alguma dor de barriga, muitos gases e muita impaciência. Como se uma pessoa não tivesse já razões de sobra para se sentir culpada, ainda fui arranjar mais uma e injustificável, ainda por cima. Serviu de lição, enfim...
- Daqui a cinco dias partimos para Portugal. Já tenho algumas coisas apontadas para não me esquecer mas desta vez vamos ficar tanto tempo que o mais natural é esquecer-me de alguma coisa. Marquei o hotel para meio do caminho há umas semanas para me certificar que não temos que andar às voltas à última da hora. Como me dizia um amigo há uns tempos, a viagem pode ser muito boa ou muito má, já que depende de uma criança de cinco meses. Eu estou a descair para o lado optimista mas a rezar para que seja mesmo assim...