setembro 07, 2015

Ver além do espelho *



Nota prévia: eu SEI que sou muito mais do que apenas o meu corpo.

Num destes dias, enquanto mostrava fotografias minhas antigas ao Vicente, encontrei algumas de 1994. Eu era assim em 94: tinha pouco peito mas uma barriga incrível e umas pernas tonificadas, coisas pelas quais estava disposta a pagar nos dias que correm.

Quando olhei para esta fotografia fiquei espantada: então mas um dia eu fui assim? Em 1994 tudo o que eu era parecia-me muito pouco, parecia-me insuficiente para os padrões exigentíssimos dos rapazes que eu conhecia e que, infelizmente para mim, definiam eles também o meu conceito de beleza. Em 1994 eu tinha um corpo impecável mas sentia-me deslocada, inadaptada, até rejeitada porque parecia que não tinha aquilo que era preciso (hoje penso nisso e não faço ideia do que era...). No entanto, eu tinha aquele encanto da juventude, a forma e a firmeza despreocupadas de quem não faz ideia do que trará a vida e alguns filhos depois. Eu era assim e fiquei com pena de mim com 13, 14, 15 anos porque nunca soube ver-me como realmente era.

Hoje já não dependo dessas ideias pré-feitas sobre como devem ser as mulheres: reconheço que continuam a existir ideais e padrões de beleza, compreendo que o meu corpo se afastou dos ideais mais generalizados do corpo feminino mas aceito, com algumas reticências, as mudanças do meu corpo. A tantos anos de distância (20 anos, caramba!) apetecia-me gritar ao meu eu com 14 anos: TU ÉS BONITA, SAUDÁVEL E SUFICIENTE! Mas como não o posso fazer, sinto que não vivi aqueles anos na plenitude de quem se olha com a dose certa de realidade e aceitação.

Hoje olho o meu corpo e vejo os sinais evidentes da idade de de duas gravidezes. Reconheço a necessidade de comer melhor e mexer-me mais. Relembro as minhas dores de crescimento, literais e metafóricas porque sei que essa história está escrita nas curvas a mais. E apesar de querer melhorar, apesar de querer aproximar-me do potencial que encerro em mim, sinto-me mais em paz e aceito com mais serenidade a passagem do tempo. Que bom teria sido perceber a mulher que era naquele tempo! Espero que daqui a uns anos possa olhar para trás, para os dias de hoje e objectivamente saber que era tudo o que poderia ser ou, pelo menos, saber que estava a caminho de me cumprir.

* um post com dedicatória à Ana, que olhou para a sua fotografia de há uns anos atrás e sentiu o mesmo que eu. Felizmente somos mais do que apenas isto :)

5 comentários:

Susana Abrantes Pereira disse...

Amiga,
É curioso como olhamos para trás e percebemos tudo aquilo que não víamos (e às vezes continuamos a insistir não ver). Confesso-te que, nessa altura, tinha inveja (mas não da má, desde que passámos a fase tonta em que não nos dávamos bem, sempre te senti como uma amiga de coração e das que mais prezo e admiro) de como eras. Lembro-me de um dia que vieste a Cascais e depois comentaste com o resto da malta as minhas pernas e senti-me envergonhada, porque eu achava-me tão pouco, e tu que me parecias o máximo estavas a fazer-me elogios.
Continuo a admirar-te profundamente, apesar da distância, apesar de não nos vermos, apesar de saber que as duas saímos não só da nossa cidadezinha mas também do nosso país e talvez dos sonhos de adolescentes.
Pronto, mais uma lamechice e calo-me: gosto muito de ti e adoro que exista internet para poder ver crescer os teus meninos e ver-te feliz.
Beijocas

Dalma disse...

Marisa, conheci-te como na fotografia e conheço-te agora, primeiro como professora e desse tempo guardo memória das tuas grandes qualidades. Agora conheço-te como amiga e mãe de 2. São tempos diferentes mas no nosso último almoço pensei para mim que contínuas bonita e com os mesmos olhos sorridentes de então! Bjis

Unknown disse...

É engraçado o que o crescimento de 20 anos nos faz..ainda há dias ,olhava-me no espelho e acho que nunca me aceitei tão bem como hoje me aceito..gosto do que vejo..é claro que se pudesse alterava uma coisa ou outra,mas não me foco nisso..gosto de ter um corpo que já "pariu" duas crianças..e sinto que estou em plena Paz comigo mesma..e isso é algo que em idade tenrinha ,nenhuma criança há-de compreender..acho que sempre será assim,e ainda bem..pois se assim não o fosse, que pensamento teríamos nós sobre o antes e o depois??não haveria o antes! ;)e o depois não seria valorizado como valorizamos hoje! beijo grande!

ana cila disse...

<3

M. disse...

Susana, não me lembro desse episódio nem sabia que te tinha marcado! Obrigada pelas tuas palavras. Tu, como eu, sabes que é preciso sair da nossa zona de conforto para conquistarmos algo mais! Ainda no outro dia passei pela casa da tua avó e lembrei-me de ti ;)

Querida professora, simpáticas palavras vindas de alguém por quem o tempo não passa! Obrigada por acreditar em mim. São coisas que não se esquecem :)

Natascha, sim, acho que precisamos de passar por tudo para podermos entender-nos melhor. E a idade traz esta paz de espírito que, apesar de não ser constante, já vai ficando mais vezes :)

Ana, <3 back at you :)