Aconteceu-me há umas semanas e eu demorei a perceber. Depois tudo se conjugou numa imensa cabala contra a recuperação: a exaustão chegou para ficar e depois Paris foi atacada, Bamako foi atacada e Bruxelas ficou em estado de sítio. Durante as últimas duas semanas consomi mais televisão do que gostaria de admitir. Foram horas de directos, as polícias a intervir, os especialistas e os generalistas a comentar, muito mais especulação do que alguém consegue digerir mas eu não consegui sair da frente da televisão.
Estou-me nas tintas para quem acha que é hipocrisia sentir tanto os ataques em Paris. Agora estou em Portugal e talvez não me possa sentir segura em mais nenhum lado mas no Sábado levanto voo com uma bebé de nove meses e volto quase para o centro da acção. Tudo o que eu não quero é passar a andar a olhar sobre o ombro, à procura da ameaça a todo o instante. Tudo o que eu desejo é que os meus filhos, como os filhos de tanta gente da paz, possam viver, crescer, ir aos mercados de Natal, correr nos parques sem que eu tenha de lhes explicar que a ameaça é real.
Como não sei parar, li todos os artigos a que consegui deitar a mão, na ânsia de encontrar respostas. Na ânsia de entender porque é que tanta gente inocente, tanta gente pacífica tem de morrer às mãos de selvagens que invocam a religião a cada ataque. Não consegui entender, obviamente. Nunca vou entender fanatismos, sejam eles religiosos, partidários ou clubísticos. Nunca vou entender pessoas que preferem morrer e levar consigo o maior número de inocentes possível em vez de aproveitarem o que a vida tem de bom.
Continuo com medo mas com menos ansiedade. Tento mentalizar-me que não há nada que possamos fazer, não está ao nosso alcance evitar e a única coisa a fazer é viver. Beijar os miúdos sempre que possa, ouvir quem nos quer bem, escolher o Bem todos os dias. A ideia do que está para vir é horrorosa mas, se eu não escolher este caminho, não vou suportar essa escuridão.
As palavras têm-me faltado mais do que nunca. Os pensamentos correm à velocidade da luz, especialmente antes de adormecer. O esforço para esvaziar a cabeça é redobrado, se quero descansar. Nunca pensei viver para ver algo assim e imagino que ninguém, ou pouca gente, esteja preparado. Que estejamos cá todos daqui a uns valentes anos, para contar a História como ela deve ser lembrada.
1 comentário:
Talvez este cantinho que dizem "pobre" e por estar na ponte do continente seja poupado a estas convulsões e sempre poderá ser um refúgio para os seus filhos semeados pelo mundo!
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