Desde que sou mãe pela segunda vez que me tornei (ainda mais) numa freak que tenta aproveitar da melhor maneira que pode todos os minutos que tenho livres. Já depois do nascimento do Vicente estava assustada com a possibilidade de não conseguir voltar a fazer as coisas de que gosto (principalmente ouvir música, ler e escrever) mas depois de nascer a miúda esse medo cresceu ainda mais. Afinal, agora há dois banhos para dar, dois jantares para dar, dois bonecos para pôr a dormir e há que entretê-los nos entretantos.
Para ser totalmente honesta, mesmo agora tendo dois filhos em vez de um, consegui recuperar e dedicar-me a algumas coisas de que gosto mesmo muito mais depressa. O segredo, se é que ele existe, é apenas um: ocupar todos os micro-momentos-livres com qualquer coisa que me dê prazer. Consigo ler uma meia hora antes de adormecer, consigo ouvir a Radar especialmente ao fim de semana de manhã enquanto tomamos o pequeno-almoço todos juntos, de vez em quando ouvimos uns vinis quando estamos todos na sala e ocupo todo o tempo em que estou a conduzir a ouvir podcasts.
Descobrir podcasts foi um prazer, pouco depois da miúda nascer. Quando saíamos para apanhar, primeiro ouvia música mas depressa fui subscrevendo um par de podcasts e agora estou quase que viciada nuns quantos. Há uns muito bons a contar histórias (o Serial ou Modern Love, por exemplo), há os super-hiper-divertidos que me fazem parecer uma tonta dentro do carro a rir (o Obrigado, Internet ou o Uma néspera no cu, por exemplo), há os que me satisfazem a curiosidade de conhecer outras pessoas através de conversas carregadas de intimidade (como o Fala com Ela ou o Até tenho amigos que são) e finalmente há os que falam sobre bebés e nascimentos e gravidezes em geral (como o Pregnancy Podcast ou o The Birth Hour). E é exactamente aqui que a porca torce o rabo.
Nunca achei (e continuo a não achar) que tinha aquela vocação para ser mãe, para ser aquele ser doce e paciente que ampara todas as quedas e que perdoa todas as traquinices sem sequer pestanejar mas acho que sempre soube que queria ter filhos. Houve uma altura - com quinze anos, talvez - em que quis ser mãe solteira, imagine-se, como se essa fosse uma decisão apenas minha, de um egoísmo que (reconheço agora) foi talvez próprio da minha adolescência. Nunca procurei um pai para os meus hipotéticos filhos mas ele lá apareceu, muito tirado a ferros, apesar de ele sempre dizer que era isso que ia acontecer um dia. Até ao dia em que realmente aconteceu.
Só que depois do nascimento da Amália comecei a debater-me com dois sentimentos contraditórios: parece que a nossa família está completa assim e, ao mesmo tempo, parece que falta mais alguém lá em casa. Se nunca me imaginei como aquela mãe, muito menos me imaginei mãe de três ou mais filhos - dois sempre foi uma espécie de barreira psicológica. Mas agora parece que essa barreira psicológica se esfumou, não sei bem como e estas conversas de mulheres só têm ajudado a que ela desapareça na sua totalidade. Tenho ouvido histórias incríveis de mulheres e da maneira verdadeiramente única como planearam as suas gravidezes e os seus partos. Ou de como inacreditavelmente nada correu como esperavam e lá se iam os planos de nascimento e os partos sem intervenção. O que têm em comum todas as histórias? A felicidade indescritível de ser Mãe, de albergar este projecto de vida durante nove meses para depois - mais intervenção, menos intervenção - trazermos essa vida ao mundo, a sensação de que se pode tudo quando se tem a sorte de parir au naturel ou a doce resignação de quem precisa de ajuda médica para poder finalmente abraçar o seu bebé.
De repente, este fascínio pela gravidez, mesmo depois dos nove meses mais ou menos miseráveis que nos trouxeram a Amália. De repente, esqueço-me das náuseas infinitas, das intermináveis dores nos ossos, da epidural que não tive tempo de levar... E um marido que queria ter dez ou onze filhos e um filho que queria ter mais cem irmãos (divididos entre bebés Vicentes e bebés Amálias, todos a dormir no mesmo quarto!). Esqueço-me do cansaço que quase, quase me derrubou, da falta que nos faz a nossa gente especialmente quando há um bebé novo no pedaço, das noites que ainda não consigo dormir, dos banhos, de de de de de... Tudo muda quando se escuta aquele bater do coração, quando a imagem mostra um ser humano em miniatura, quando eles se riem já cá fora e brincam juntos, quando querem os dois sentar-se no nosso colo ao mesmo tempo. O que seria de nós com um terceiro?
1 comentário:
Querida, foi com cogitações dessas que decidimos mandar vir um novo e lindo bebé, que se tornou no inteligente rapaz que hoje é!
Bom, mas o A faz 5 anos e meio de diferença do H e 9 da P!
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