Comemorámos quatro anos de casamento no dia treze. Quando fomos à conservatória marcar a data, tínhamos alguma pressa: ele tinha que mudar-se para o Luxemburgo para começar a trabalhar e eu ficaria em Portugal à espera que as coisas se compusessem. A funcionária começou logo por dizer que no dia catorze já não havia vagas, toda a gente se queria casar nesse dia. Toda a gente menos nós, a quem apenas interessava oficializar a nossa união, não importava em que dia.
Ia mentir se dissesse que não sonhei com um casamento convencional e como convencional não entendo a cerimónia religiosa (que ambos dispensamos e à qual não damos especial importância) mas sim o tradicional copo d'água: os noivos a entrarem na sala ao som da sua música, distribuição das lembranças que perdemos noites inteiras a preparar, os convidados a baterem nos pratos para os beijos da praxe, aquele bêbado clássico a partir a pista de dança, o casalinho de bebés que imita os adultos com um abraço desajeitado, as torres de camarão e a mesa dos queijos, as senhoras à volta da pista com o casaquinho sobre os joelhos, os noivos cansados de beijar tanta gente mas felizes por estar a partilhar a sua alegria com essas mesmas pessoas. Em vez de tudo isto, petiscámos com os meus pais, o Vicente e os amigos que estavam por Lisboa e depois fomos comer sushi os dois. Não houve cá noite de núpcias e muito menos lua de mel - só se fingirmos que o Luxemburgo é aquele destino paradisíaco. Em suma, não foi o que sonhei em termos de dimensão, pleaneamento e convidados mas foi igualmente cheio de amor.
Costumamos dizer que casámos por interesse. Há quem se choque e há quem entenda que isto é apenas uma anedota que costumamos contar: é que precisávamos mesmo de nos casar por razões fiscais, para simplificar as burocracias que aí vinham e para, de certa forma, protegermos os nossos filhos. Mas é claro que o nosso interesse era outro: tínhamos encontrado a pessoa com quem nos vemos a envelhecer, a pessoa que nos compreende de tal maneira que podemos ser verdadeiramente nós próprios - o que mais há a dizer? O casamento, embora não essencial, era o passo natural para quem já tinha um filho de ano e meio, estava junto há três anos e se conhecia há outros vinte.
Não usamos alianças: porque não usamos anéis mas, principalmente, porque não precisamos disso para nos lembrarmos (e ao resto do Mundo) que nos prometemos a alguém. Também não mudámos de nome, o que me causa alguns dissabores aqui no Luxemburgo, já que muitos serviços insistem em chamar-me Sra. N. T. T., quando o meu nome é Sra. A. M.
O casamento, para mim, é um estado de alma. Acho que estou casada com o Mário desde que demos o nosso primeiro beijo porque não me imaginava a estar com outra pessoa qualquer. Não preciso de símbolos exteriores ou de documentos oficiais para provarem o quanto eu gosto dele e o quanto ele mudou a minha vida e a minha perspectiva sobre Mundo para melhor. Sinto-me ainda mais casada com ele quando brigamos porque vamos encontrar o perdão para estas discussões sabe-se lá onde. Eu acho que só pode ser no amor, porque ninguém suporta algumas inanidades e palavras azedas com base numa amizade ou na simples simpatia - é preciso amar. Mas mesmo que dispense alguns rituais associados ao casamento, houve um que me faltou e continua a faltar: estender a comemoração do nosso amor a mais família e a mais amigos. E os anos vão passando sobre esta data sem que esta comemoração possa tomar forma. E todos os dias treze de Fevereiro eu brindo com o meu marido e prometo a mim mesma que esse copo d'água um dia ainda há-de sair!
3 comentários:
Querida, que haja muitos, muitos 13 de Fevereiro com o amor que hoje vos liga!
Muitos parabéns.
Um Viva ao vosso amor, que sejam muito felizes.
Lamento que só tenhas referido a torre de camarões e não tenhas falado na mesa das sobremesas. Já não precisas de me convidar, sendo assim.
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