agosto 17, 2016

Saber ou não saber

Estou a breves instantes de escrever uma barbaridade mas preciso de a escrever/dizer: preferia ter vivido numa época com menor acesso a informação. Ou, pelo menos, em que não fosse tão simples qualquer pessoa espalhar uma notícia/um boato/um estudo, dando estes origem a um sem número de contraditórios.

Vem esta minha ideia a propósito de dois assuntos completamente diferentes que se cruzaram na minha cabeça nos últimos dias.  O primeiro tem a ver com as diferentes correntes dietéticas que concorrem entre si hoje em dia. Que o melhor é ser vegetariano. Que a carne nos faz muita falta. Que os adultos não devem beber leite. Que toda a gente precisa do leite. Que o glúten faz mal a tudo. Que o glúten não é o inimigo. Que comer como o homem das cavernas é que é. Que eliminar todos os hidratos de carbono é a única salvação. Às tantas, a pessoa normal e leiga em nutricionismo não sabe mesmo o que fazer. Os meus avós sempre comeram de tudo (pão com toucinho cru, massa com arroz ao pequeno-almoço, alho cru em todos os pratos...) sem pensar em todas estas restrições. No tempo dele, morria-se sem se saber muito bem do quê e é claro que também existia o cancro, as doenças neurodegenerativas, as intolerâncias... Mas não havia nome para nada disto e eles limitavam-se a comer o que havia, apenas com uma enormíssima vantagem sobre nós: comiam muito menos alimentos processados do que nós comemos hoje em dia. Eu, reconhecendo a necessidade de comer o melhor possível, evitando os produtos processados e dando prioridade a tudo o que é natural, não consigo abraçar nenhuma dieta, não consigo eliminar nenhum grupo alimentar, não consigo dar ouvidos a tantos especialistas.

O segundo tem a ver com a condenação de Carlos Cruz no processo Casa Pia. Estive a ouvir a participação dele na Prova Oral do Fernando Alvim, após a sua saída da prisão. Eu sou daquelas pessoas que admiravam imenso o Carlos Cruz (na verdade, ainda admiro) e que o consideravam numa figura incontornável da comunicação em Portugal, o que o obrigava (tacitamente) a altos padrões de moral e de ética. Vê-lo envolvido num escândalo de pedofilia foi um golpe difícil de encaixar porque não podia ser, o Carlos Cruz não podia participar dessas actividades - afinal, parecia que o nosso ídolo tinha pés de barro e não há pior momento do que aquele em que o descobrimos. Mas ao ouvir a participação dele na Prova Oral, ao escutar a calma e a confiança com que nega os factos e refuta os argumentos da acusação, ao deixar que ele conte também a sua versão dos factos, é-me impossível não ter dúvidas. É difícil não imaginar que parte da sua condenação se deve à voracidade da comunicação social e ao rápido julgamento em praça pública, é triste pensar E se ele esteve preso, e se lhe destruiram a vida estando ele inocente? Não sei se acredito nele ou na justiça portuguesa mas inclino-me para a precaução na análise dos factos.

A mesma coisa se passa com as diversas teorias da maternidade, do parto e da amamentação mas, ao terceiro filho, já me encontro vacinada contra todas as opiniões...

Hoje em dia somos bombardeados todos os dias com notícias, estudos, artigos, investigações sobre tudo e o seu contrário. Se não nos protegermos da quantidade de informação a ser disparada em todos os sentidos, parece-me fácil ceder à pressão e tentar viver em função de demasiadas teorias ao mesmo tempo. Eu lido mal com isso. Quero ser uma pessoa informada, isso é evidente. Só não quero viver a pensar nestas escolhas constantes ou que tudo é uma teoria da conspiração ou sem saber se escolhemos o caminho certo.

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