Não há volta a dar: todos os anos, desde 2010, sinto o mês de Setembro a insinuar-se desde o seu início e com ele aquela emoção, aquela alegria tremenda de festejar a data em que nasceu o meu primeiro filho.
Hoje o Vicente completa seis anos de vida. Seis anos tão cheios e tão desafiantes, a viver tudo de coração na boca, sempre tão pronto para um abraço como para uma birra irracional. Não tenho a pretensão de estar a criar as melhores crianças do Mundo mas mentiria se dissesse que não sinto um orgulho desmedido pela independência, teimosia, liberdade e capacidade de adaptação que o Vicente demonstrou até agora. Durante quatros anos (que me pareceram toda uma vida), o Vicente encheu-nos os dias (e a mim as noites também, que alguém tinha de ter o sono mais leve...) de alegria, curiosidade e daquela capacidade que ele tem de nos absorver todas as forças. Para o bem e para o mal. Ele foi filho único durante quatro longos anos, sempre debaixo da minha saia e do abraço protector do pai, sem dividir a atenção com mais ninguém.
Depois nasceu-lhe uma irmã. E o Vicente, apesar de ainda estar a aprender a gerir os ciúmes e a compreender as diferentes necessidades de atenção, soube crescer pacificamente. Ainda está a aprender a brincar com a irmã, que só agora começa a acompanhar os desafios dele, mas sente falta dela e não lhe falta carinho que distribui sem ter noção da sua força. Ele ajuda nas tarefas domésticas, desenrasca pacotes de fraldas ou aquela toalhita quando temos as mãos ocupadas, ele partilha conosco aquele segredo que é poder ir para a cama um bocadinho mais tarde. Agora desenvolveu um interesse desmedido pelo futebol (olá férias em Portugal, porque aqui em casa não é coisa que se consuma...), continua a fazer muitas perguntas e passou a ter medo que a sua família morra (o cenário mais habitual é chuva torrencial que inundaria a nossa casa e, puff, lá marcharíamos todos...). Já demonstra empatia mas também uma tendência natural para discriminação entre géneros (músicas para homens e músicas para mulheres... quem raio lhe ensinou tal coisa?) que nos vai ainda dar muito trabalho.
Não há manhã que não comece com ele a reclamar sobre lavar a cara e os dentes, nenhuma. Há muitas tardes a pedir para ir treinar com o pai (vulgo, dar um chutos na bola num campo com balizas reais) e todos os dias faz um esforço (que a ele parece sobre-humano) para se recordar do que fez na escola e do que comeu ao almoço. Não existem muitas coisas que me dêem mais prazer do que conversar com ele, como um adulto, obrigá-lo a raciocinar, a ponderar os prós e os contras, perceber como pensa e o que pensa. Seis anos de aventuras, de birras épicas, de abraços sentidos e orelhas moucas, de coragem e crescimento com poucos medos. Não quero ter filhos preferidos, é evidente, mas há sempre aquela ebolição cá dentro sempre que se pensa no primeiro e em como nascemos pais quando também ele nasceu. E, mesmo que tenha dúvidas, o meu coração acalma quando ele me diz, como ontem, Mãe, eu nunca me queria separar de ti. Feliz aniversário, meu filho maior, caracóis desalinhados e os olhos mais bonitos do Mundo.