junho 30, 2017

Crise de meia idade

Treze anos a blogar tem destas coisas. Já fiz muitos balanços neste blog, olhei muitas vezes para trás e surpreendi-me quase sempre: treze anos a escrever sobre a minha vida é muita, muita fruta, especialmente se pensarmos no que se encontra por aí (como neste site ou neste). Mudei tanto e a minha vida mudou tanto que às vezes parece que foram pessoas diferentes a escrever em meses (anos) diferentes.

Este blog chegou a uma crise de meia idade, (ainda) não fui eu. Questiono-me cada vez mais sobre o que é aceitável escrever aqui, sobre o que pode interessar aos outros, sobre o que me apetece revelar. Na maioria das vezes, acho que, não trazendo nada de novo ao Mundo, mais vale manter-me calada. Noutras, é a abundância de blogs pessoais com o seu próprio estilo, com a sua própria voz que me faz desistir de escrever: afinal, que interesse tem ser apenas mais uma? Porquê continuar, se a única coisa que posso oferecer é uma vida que, diga-se em abono da verdade, não está muito longe do banal? Depois há ainda outras vezes em que vejo como tudo isto se tornou num negócio para algumas pessoas, que confundem a sua vida com publicidade encapotada e lembro-me de quando comecei a escrever: um blogger não era um influencer nem um trend setter; muitos eram pessoas que escreviam genuinamente bem, muitas vezes tinham graça, sabiam contar a sua história. Sinto-me uma dinossaura da blogosfera, é o que é.

Não quer dizer que vá fazer uma pausa oficial ou que deixe mesmo de escrever aqui. Não me estou a despedir, até porque nem consigo: todas as vezes que pensei em acabar com este blog acabaram comigo a ficar triste, sem conseguir imaginar como seria se este espaço deixasse de existir. Mas, como nessa crise de meia idade, questiono-me sobre o meu lugar aqui, sobre os assuntos sobre os quais posso e quero escrever, sobre a voz que quero fazer ouvir. Não vos quero maçar com banalidades, especialmente agora que a minha vida se resume a tratar de três filhos e a manter a casa longe do caos. Não quero ser especialista em nada, nem escrever sem paixão. Por isso, regressarei assim que me sinta mais inspirada, quer isso seja daqui a umas horas, dias ou meses. Obrigada por não desistirem, mesmo nos dias menos interessantes e até já!

junho 11, 2017

Dia da Mãe para mim, que sou muitas mães diferentes

É amanhã que se comemora o dia da Mãe aqui no Luxemburgo. Como as escolas estiveram de férias esta semana, as prendas vieram antecipadas, porque os miúdos não quiseram perder tempo. Antes das férias, ainda fui uma manhã à escola do Vicente participar na tradicional actividade do dia da Mãe. Este ano assistimos a uma canção que eles ensaiaram durante umas semanas, tomámos o pequeno-almoço juntos e eu comecei a magicar no que vai acontecer quando os outros dois também tiverem actividades destas. Como vou multiplicar-me para participar em três celebrações diferentes?

Desejos de ubiquidade à parte, a verdade é que eu sou mesmo três mães diferentes. Sou a mãe mais paciente, melhor ouvinte e deslumbrada com o mais velho. Ele foi o único filho durante quatro anos, três dos quais passámos aqui, longe de tudo, apenas uma ilha de três. Ele teve muita da nossa atenção indisputada, ele teve brinquedos feitos de cartão inventados por nós, teve o nosso amor concentrado num ser pequenino e sempre de coração na boca. Ele teve direito a mil fotografias, a um blog só dele, ele foi o nosso primeiro teste de força.

Depois sou a mãe autoritária e disciplinadora com ela, que sofre da síndrome do filho do meio. Ela foi muito esperada e desejada: tínhamos o rapaz, ela vinha fazer o pleno e realizar aquele sonho banal de ter um casalinho. Ela esgotou-me as forças e fez-me bater fundo, obrigou-me a pedir ajuda e fez-me desejar estar sozinha. Ela é absorvente, insistente, ela é teimosa, ela desafia-nos a todos os minutos, ela quer e ela tem de ter. Dizem que é por ser menina, não sei. Só agora está a começar a conseguir expressar-se (em paralelo com o Português e o Francês, o mundo começa a fazer sentido naquela cabecinha dela) e só agora mostra algumas atitudes espontâneas de carinho. Ainda ontem fez uma birra tal que o empregado do hotel me sugeriu que podíamos esperar com os miúdos lá fora - é este o género. É a menina do papá e isso às vezes magoa-me

E finalmente sou a mãe do bebé, do pequenino que veio desequilibrar as contas. Do filho que dorme melhor, que é mais mansinho e que mais precisa de mim agora. Do bebé a quem beijo talvez mais do que ele gostaria mas é necessário porque ele é o meu último bebé e não vou poder mais beijar bochechas pequenas assim. Sou a mãe que o trata como porcelana, que ainda tem perguntas sobre coisas de bebés mas que já confia (um bocadinho) mais no seu instinto.

Também sou a mãe mais desequilibrada que conheço: tão depressa tenho dias em que sinto que consigo tudo - tratar da casa, resolver problemas, tratar dos miúdos sem pestanejar - , como tenho dias de nervosismo e exaustão, em que tudo me parece impossível e em que me sinto uma falhada em qualquer passo que dê. Se há coisa que os meus filhos me deram, foi a capacidade de olhar para as minhas conquistas e as minhas fraquezas com muita transparência e sentido auto-crítico. O que (infelizmente) não me deram foi a capacidade de perdoar os meus próprios erros, a habilidade para distinguir o que é obrigatório do que é supérfluo, a aceitação da realidade: é impossível estar em todo lado, o tempo todo, com as minhas qualidades intocadas.

Estas férias deixaram-me fragilizada, especialmente no papel de mãe. O cansaço, o desfasamento entre o comportamento que eu desejava nos meus filhos e aquele que eles realmente têm, uma alergia dos diabos a qualquer coisa que ainda não sei o que é levaram-me ao limite. A fragilidade teve o seu pico numa estação de serviço alemã, quando eu enfiei a chupeta da miúda no bebé e não conseguia encontrá-la. Chorei desalmadamente quando percebi a dimensão do meu cansaço, enquanto eles riam a bandeiras despregadas - afinal, aquilo era divertido! E descarreguei um valente pedaço de stress mas ainda não o suficiente para me sentir normal outra vez. Ter parido três filhos faz-me sentir uma super mulher mas educá-los traz-me de volta à realidade. Mesmo em silêncio, hei-de celebrar o dia da Mãe porque não há nada, mesmo nada na minha vida tão importante e tão difícil ao mesmo tempo.

junho 10, 2017

Os cinco na Dinamarca e na Suécia

Ah, a Escandinávia! Esse conjunto de países sempre nas listas dos mais felizes e mais desenvolvidos do Mundo, apenas separados do Luxemburgo pela gigante Alemanha. Sempre desejei conhecer esses quatro países e, no entanto, eles sempre me pareceram inalcançáveis. Não sei explicar bem porquê mas sempre senti que seria difícil ir lá, mesmo sabendo que estão aqui perto e fazem, ainda por cima, parte da Europa. Então decidimos que nestas férias de Pentecostes (uma semana entre Maio e Junho) pegaríamos no carro e visitaríamos pelo menos dois deles. Os escolhidos, por razões de mobilidade e tempo disponível, foram a Dinamarca e a Suécia. 


Depois de mais uma viagem medonha (fazer mil quilómetros num dia com três crianças no carro para pouparmos tempo foi, digamos, uma escolha arriscada...), chegámos a Copenhaga às nove da noite. Como agora somos cinco, torna-se difícil marcar apenas um quarto de hotel e, para poupar no alojamento, decidimos começar a recorrer ao Airbnb*: podemos ter uma casa só para nós, com todo o conforto, possibilidade de cozinhar, pelo preço de apenas um quarto de hotel.

De Copenhaga, vimos aquilo que a chuva nos deixou: a Pequena Sereia, cheia de turistas amontoados, que quase se empurravam para chegar mais perto; igrejas bizarras e imponentes; os quarteirões de prédios todos iguais; o que resta de um bairro de pescadores; a incrível zona de Amager Strand, onde passeámos junto ao mar, admirando o trânsito marítimo, os moinhos eólicos, a ponte de Orensund e onde, fustigados por um vento selvagem, três de nós se constiparam. O tempo foi curto para decidir se é daquelas cidades onde me imaginaria a viver mas considerando a proximidade do mar, o estilo de vida descontraído e saudável, os supermercados com horários decentes e as muitas crianças que vimos, mesmo à chuva, diria que sim. O contra? O cinzento dos dias, claro. Aquele cinzento opressivo que nos esmaga, o  vento, a chuva, o Verão nórdico.


Seguiu-se a Suécia. Atravessa-se a ponte de Oresund em menos de trinta minutos e estamos do outro lado da Escandinávia. Demos um salto a Malmö mas apenas para comer qualquer coisa e fazer tempo para chegar ao nosso destino final, Falsterbo, numa espécie de península que acaba num campo de Golfe mesmo à beira mar. Campos de golfe que, descobrimos depois, se multiplicam no pedaço de costa sueca que visitámos, o verde do green sempre a contrastar com o azul (nuns rasgos de sorte) ou o cinzento do céu (o que mais vimos). Subimos até ao farol de Kullaberg, almoçámos em Mölle, uma aldeia costeira perdida onde assistimos a uma valente trovoada, o restaurante apenas servia um prato e em que a dona do mesmo tinha trabalhado dez anos com um chef português. Ficou espantada de ver uma família portuguesa por ali (durante anos, apenas outros dois casais apareceram por ali) e, considerando-nos exóticos, pediu-nos para nos fotografar.

Comemos schnitzel à moda sueca (com pepino em pickle, anchovas e alcaparras), umas fatias de Prinsesstarta (melhor bolo de sempre!), provámos a verdadeiras Kannelbulle (as do Ikea não se ficam atrás). A tempestade alternou com o céu azul, os Suecos revelaram-se simpáticos, o Inglês fala-se por todo o lado.  Fiquei fascinada com a costa: a vegetação vai mesmo até ao mar, não vimos grandes areais, apenas praias de pedras bem grande e casas que ficam entre bosques frondosos e a beira mar.

O que fiquei a invejar deste dois países? A forma como as pessoas vivem a sua vida independentemente nas condições meteorológicas e a maneira incrível como o fazem em plena comunhão com a Natureza. Vimos tantas pessoas a caminhar, a correr, de bicicleta pelos quilómetros de caminhos junto à costa, crianças e bebés incluídos, enquanto chovia ou eram fustigados pelas fortes rajadas de vento. Estas pessoas aceitam a Natureza na sua magnificência e não deixam que nada os páre. Já eu, mesmo depois de cinco anos a viver aqui (bem sei que não é exactamente um país nórdico mas pronto), ainda vivo com aquela mentalidade sulista: epá, se não está Sol, não vou arriscar nenhuma actividade fora de portas.

Tenho meenos vontade de conhecer a Finlândia mas um desejo gigante de nos aventurarmos nos fiordes noruegueses. Escandinávia nos aguarde, que nós vamos voltar!