Não fiz nenhuma resolução de Ano Novo mas se tivesse feito seria simplesmente esta: aprender a fazer alguma coisa com as minhas próprias mãos. E, mesmo não tendo pensado nisso enquanto começava mais um ano, isso acabou por acontecer e eu comecei a aprender a tricotar.
Já tinha tido muita vontade no ano passado e até mesmo antes do Augusto nascer. Tinha comprado um kit (lãs, agulhas, instruções) para lhe tricotar um pequeno cobertor. Ia ser O cobertor do novo bebé, amarelo porque não sabíamos ainda o sexo e ele havia de se apegar ao dito cobertor e não poderia dormir sem ele. Mas entretanto aconteceu a vida e, mais do que isso, aconteceu que ele quis nascer um mês antes do tempo e eu não tive tempo de pegar nas agulhas. No Verão, ainda comprei mais material e esperava poder aprender com a minha avó mas não houve tempo para nos sentarmos com calma e para que ela me passasse esse conhecimento milenar. Voltei ao Luxemburgo desiludida comigo por não conseguir aprender sozinha e por deixar que o tempo leve sempre a melhor sobre todas as coisas que quero fazer.
Mas no princípio deste ano descobri esta associação (de que já falei aqui) e deu-se finalmente o click. Encontrei-me com a Miriam, uma americana que tem pouco de avozinha mas que tricota muito e bem, no café da Ouni (a primeira mercearia orgânica e sem embalagens do Luxemburgo). Começámos a sessão em Francês mas depressa mudámos para o Inglês em que ambas estávamos mais confortáveis. Partilhámos um pouco das nossas vidas (eu, três filhos e o caos que se conhecer; ela, sem filhos para poder viajar e fazer todas as asneiras do mundo) enquanto ela me ensinava o ponto mais simples do tricot (o point mousse ou garter stitch, em português não sei como se chama). Explicou-me o básico com muita calma, mesmo quando eu insistia em repetir o mesmo erro uma e outra vez, mostrou-me outros pontos, garantiu-me que mais mês menos mês estaria eu a tricotar sem ver, assegurou-me que o que era preciso era calma.
E foi mesmo assim. Fiz muitas provas, fui tricotando amostras depois de jantar, quando o cansaço não era tanto. Depois aventurei-me na primeira peça a sério: um cachecol para o Vicente. Saiu horrivelmente mal (comecei com quinze malhas, acabou com vinte e três!) mas a minha primeira peça completa existia e o meu filho podia sair à rua com ela! Depois vieram os cachecóis para a Amália, Augusto, Mário e esta semana acabei o meu, o último da saga dos cachecóis. Pude treinar o mesmo ponto, aprender com alguns erros. Percebi que ainda preciso de olhar muito para as mãos enquanto estou a tricotar para não me esquecer de malhas ou fazer malhas a mais mas de cada vez que acabei uma peça enchi-me também de orgulho.
Nos entretantos, fui aprendendo coisas sobre a lã (a espessura, os banhos, o peso, a
matéria prima), sobre as agulhas (circulares, direitas, gigantes para as
camisolas, minúsculas para as meias), sobre os erros mais comuns,
sobre os diferentes usos para os diferentes pontos. Depois de compreender alguns conceitos base, abriu-se-me o mundo do tricot sem que esperasse. É que há muitos termos que não se usam em mais lado nenhum e isso fazia com que eu sentisse que nunca iria perceber nada daquilo. Não percebo tudo, não percebo muito mas já percebo qualquer coisa!
Por enquanto não sou perfeitinha e todas as peças que fiz denunciam ter saído das mãos de uma principiante. Mas o entusiasmo cresceu e muito. Eu finalmente percebi que não se pode tricotar bem à primeira, só com um par de meses de experiência. As pessoas que vejo tricotar bem fazem-no há anos e provavelmente com mais tempo para se dedicar a isso. Eu só tenho podido tricotar ao serão, quando as três pessoas pequeninas cá de casa já se deitaram ou às vezes ao fim de semana à tarde, quando estamos todos juntos a ver um filme. Conto expandir esta actividade para outros momentos do dia (sempre que esperar num consultório ou outro serviço, em viagens mais longas em que não tenha de conduzir, durante as férias) e aprender muito devagarinho antes de cruzar os braços e achar que não tenho jeito nenhum. Nas minhas buscas por tutoriais e ajuda, encontrei muita gente nova que tricota maravilhosamente, contrariando aquela ideia de que tricotar é coisa de velhas! Há tantos, tantos bons recursos online, há projectos colaborativos em que todos tricotam a mesma peça ao mesmo tempo, há bons livros também de gente que começou na internet, há sítios onde as pessoas se encontram para comer e tricotar ou simplesmente para conversar e tricotar! É mesmo incrível!
Tricotar veio ainda lembrar-me que muitas vezes não é possível aprender coisas de uma hora para a outra e que também existem actividades em que, mais do que o talento, o que conta é o empenho e, acima de tudo, a persistência. Oxalá consiga também lembrar-me que o mesmo também se aplica na vida...
1 comentário:
Querida, obviamente que ias conseguir, não fosses tu uma pessoa resiliente!
O ponto dos teus “cachecóis” (agora sou eu que não sei a tradução de “cachecol”!) é “ponto de liga”.
Bjis e continua tricotando.
D.
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