julho 20, 2018

O ano escolar está quase morto. Viva o ano escolar!

Não vou esconder o alívio quando, no próximo dia 10 de Agosto, terminar oficialmente o ano escolar lá em casa. O mais velho já terminou as aulas na semana passada mas os outros dois continuam, como de costume, na creche e só darei as hostilidades terminadas quando forem cinco da tarde do dia 10 e entrarmos finalmente em férias.

Vamos então por partes e comecemos pelo mais novo elemento da família. O Augusto começou na mesma creche da irmã em Setembro do ano passado. Naturalmente, e como é o terceiro filho, foi talvez a separação que menos me custou, embora tenha sido difícil na mesma. Afinal, ele é o nosso último bebé e deixá-lo numa creche foi reconhecer oficialmente que os primeiros meses estavam decididamente para trás. Como estava com a irmã, a adaptação foi menos penosa - para mim, claro, porque acho que ele não reparou em nada. Desde essa altura, acho que os dedos de uma mão chegam para contar as vezes que chorou quando lá o deixei. Normalmente corre para o colo de alguém, empina-se em cadeiras ou bancos ou sai disparado para explorar a casa de banho. É verdade que começa agora a demonstrar um pequeno mau feitio em potência mas foi sempre um bebé tranquilo e muito mimado pelas educadoras. Zero problemas durante o ano escolar.

Saltemos para o irmão mais velho. Terminou há uma semana a sua primeira classe. As notas aqui vão do A+ ao D e o menino Vicente terminou o ano na sua onda positiva, com um A como a nota mais baixa! Foi muito interessado,  aborreceu-se umas vezes um bocadinho porque sentia que podia aprender mais coisas e que a escola não ia à velocidade dele. Como diria a professora, academicamente falando um ás, o pior é o comportamento. Provocou muitas vezes os colegas, talvez porque ter demasiado tempo nas mãos. Chorou umas vezes desconsoladamente e deixou a professora sem saber como o fazer regressar à realidade. Trouxe alguns recados para casa ("O Vicente não obedece e não ouve a professora", "O Vicente baixou as calças ao Leo", "O Vicente não queria trabalhar"). Levou raspanetes mas e eu o pai rimo-nos das coisas que escreviam porque também não esperamos que ele seja uma criança sem sentido de humor ou sem vontade própria. Preocupámo-nos com a possibilidade de estar a sofrer bullying, explicámos-lhe que os meninos que lhe batem dificilmente podem ser chamados de amigos, pedimos que também ele não se comportasse assim. Acabou o ano a saber ler e escrever em Alemão, a ler apenas em Português e algum Inglês, a saber contar o dinheiro e a ver as horas. Às vezes pergunta-me se eu acredito em Deus e como é que Deus conseguiu criar isto tudo e eu não sei muito bem como lhe acabar com essa inocência e como lhe dizer que não, não acredito. O meu primeiro bebé faz perguntas e pensa sobre o Mundo, não há muito mais que queira para ele.

E terminamos com a pequena mademoiselle, com o terror e a doçura lá de casa. Prepara-se para entrar em Setembro para a escola, para o que aqui chamam Prècoce (ou pré-pré-primária) com o seu feitio e atitudes peculiares. Fez-me sofrer grande parte do ano: todos os dias, quando os ia buscar, as educadoras desfiavam o rol de maldades que tinha feito às crianças da sala (e até mesmo ao irmão), como tinha deitado a comida para o chão, entornado a água sobre a sua cabeça, passado mais tempo na cadeira do castigo do que a brincar. OK, talvez não tenha sido assim todos os dias, mas certamente a maior parte deles. E nessa maior parte deles estava eu, cansada do trabalho, das noites sem dormir decentemente, com um bebé ainda a precisar tanto de mim, a tentar perceber o que raio estávamos nós a fazer mal e a pensar que ela tinha realmente um problema. Depois, como se tudo isto não chegasse, soubemos pelas educadoras que alguns pais, preocupados com os seus filhos, pensavam mudá-los de creche para estarem longe da Amália. Creio que não consigo descrever realmente como isso me fez sentir: posso, ainda assim, dizer que me senti uma nulidade como mãe. Que, mesmo amando profundamente a nossa filha, não conseguia encontrar desculpas ou motivos para o comportamento dela. Que fiz todos os esforços para compreendê-la melhor e amá-la ainda mais, porque era isso de que ela precisava. Que baixei a cabeça de cada vez que me cruzei com outros pais porque não sabia se eram eles os queixosos. Que os compreendo também e não posso ignorar como se deviam sentir magoados pelos seus filhos. No fim, foi o pai da Amália a deitar água na fervura como sempre faz e a fazer-me relativizar (sem nunca esquecer ou menosprezar a situação) toda esta angústia.

O ano escolar está quase a chegar ao fim e eu estou quase a respirar de profundo alívio. O mais velho avança, destemido, para a segunda classe. O mais pequeno liberta-se da sombra (mas também de uma certa protecção da irmã) e avança na creche. Ela começa a escola a sério, a escola em que os educadores não simpatizam muito com crianças muito activas, quanto mais com crianças teimosas, provocadoras e irascíveis. A educadora dela será a mesma que recebeu o irmão, há cinco anos atrás e que me disse algumas vezes que era muito duro lidar com ele. Agora, só tenho de me rir interiormente: ela não sabe o que a espera!

3 comentários:

м disse...

é raro ouvir alguém falar dos filhos com tamanha sinceridade, contando as partes boas e as partes más dos mesmos. Parece que só existem pais de crianças educadinhas, quietinhas e super geniais, a contar com as descrições que os pais fazem dos filhos. São sempre os melhores, os mais inteligentes, os mais tudo, mas nunca ouço ninguém falar tão abertamente sobre características mais negativas dos filhos. Parabéns por ter esse discernimento e à vontade de partilhar. Isto sim é um relato ao estilo "mães reais com filhos reais".

Os miúdos têm as suas personalidades e vontades próprias que, por muito que os pais eduquem e tentem moldar, nem sempre conseguem. Deve ser frustrante como pai não saber muito bem como lidar com isso e aquela sensação de "eu já fiz de tudo e isto continua igual", ser o pai da criança da qual os outros meninos se queixam. Mas faz parte!

Espero que os seus filhos aproveitem muito as férias para descansar, para brincar e sair da rotina da escola e que, no próximo ano letivo, estejam preparados para darem o seu melhor.

Dalma disse...

Querida, o Vicente tem os teus genes da inteligência que o levam a ser dos melhores entre os pares, quanto ao resto é tudo normal e hoje em dia a grande maioria dos professores queixa-se por tudo e por nada, como sabes tenho netos na escola e esses foram sempre os queixumes relativamente a eles!
Não te preocupes o que é preciso é que eles sejam mesmo mt bons alunos...
😘

M. disse...

Obrigada pelo teu comentário M! Não acredito em famílias perfeitas, mas que as há, há! A verdade é que sou bastante consciente do comportamento dos meus filhos, talvez até demais. E posso continuar a amá-los, mesmo reconhecendo que às vezes conseguem ser umas pestinhas. A única coisa a fazer é continuar a educá-los o melhor que podemos e sabemos e esperar que estas fases menos boas passem depressa ;)

Obrigada professora Dalma. Penso muito nisso e fico contente por sentir que, pelo menos academincamente falando, as coisas vão. Não tenho pretensões e não espero que sejam génios mas pelo menos que entendam como é bom aprender e que o possam fazer sem ser por obrigação :)