Aeroporto do Luxemburgo, dia um, nove da manhã
Às nove da manhã estava sentada frente a um café e a um sumo de laranja, a fazer tempo para a abertura da porta de embarque. Atrás de mim, dois homens falam numa língua incompreensível para mim, talvez sejam de qualquer parte dos Balcãs. Vão olhando para os monitores sem parar de falar ao telefone, cada um com seu interlocutor. No meio do discurso percebo que vão para Munique mas não compreendo mais nenhuma palavra.
Uma mulher pede para sentar-se na mesa onde outra espera o seu marido. Esta aceita com delicadeza e simpatia. O poder destes pequenos gestos tem ecos gigantes em mim e não posso evitar sorrir por uns momentos.
Deve ter aterrado um avião porque passam por nós pequenos grupos de homens de gravata e sobretudo. Trazem apenas o computador às costas, parecem vir só passar o dia. Às vezes parece-me absurdo mas há mesmo quem vá e venha todos os dias de Londres. Imagino que muitos devem estar a desbravar caminho para a mudança de Londres para o Luxemburgo.
É estranha a sensação de ir a Portugal e não ver os meus pais nem ir a Lisboa mas o tempo é curto e a viagem é de trabalho. Gostava de lhes dar um abraço e confortá-los um pouco. Não têm sido tempos fáceis: esta semana morreu-lhes um amigo, na semana passada uma tia. E eu aqui tão longe, a entristecer quando penso na distância. Para as coisas boas e para as coisas más, para as celebrações em vida e para as exéquias no fim.
Um hamburguer de alheira ao almoço, um polvo à lagareiro ao jantar. Se mais razões não houvesse, a comida far-me-ia sempre voltar.
Um escritório no décimo quarto andar, com vista sobre a foz do Douro. Poder trabalhar assim, em dias como estes em que não há uma única nuvem à vista, a luz sobre as secretárias, o Porto lá em baixo cheio de vida, é um autêntico luxo. Não vai haver tempo para visitas, nenhum turismo, a não ser durante o jantar. Mas nestas viagens acabo sempre a trabalhar muito mais ou pelo menos até bem mais tarde (porque não tenho ninguém à minha espera como em casa) e o dia termina sempre mais para o lado da exaustão.
Acabamos a primeira noite num Uber, sem muita vontade de falar. O carro cheira tão bem e está tão limpo e o motorista não diz uma palavra. Cada um entra no seu quarto de hotel, eu fecho as cortinas para poder dormir à vontade. E, hoje que posso dormir à vontade, rebolo na cama vezes em conta, com a sensação que pairo sobre o sono e que não estou propriamente a dormir. Já são horas de acordar?
1 comentário:
Amei ler este post!
Pois deve de ser estranha a sensação de vires a Portugal e infelizmente não poderes visitar a familia. Contudo, não podemos ter o melhor dos dois mundos, cada vez acredito mais neste cliché. beijinhos!
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