Odeio-a. Tudo bem, não vou negar que fico sensibilizada enquanto vou a caminho do trabalho e os campos estão brancos até perder de vista e há assim um véu místico a pairar sobre a floresta que ainda fica longe da estrada. E sim, é estranhamente satisfatório ouvir aquele crunch que os nossos pés fazem sob neve acabada de cair.
Mas depois há que equipar os miúdos a rigor: tudo cheio de fatos da neve, cachecol, as luvas de lã porque nos esquecemos mais um ano de lhes comprarmos umas luvas a sério, as botas para manterem os pés secos. Há que limpar, por lei, a entrada de casa edifício e todo o passeio à sua frente para evitar que alguém escorregue e tenha um acidente num pedaço da nossa propriedade. É pegar na pá gigante e no saco de sal, trabalhar no duro mesmo antes de irmos trabalhar a sério, raspar a neve do passeio e atirá-la para onde ninguém se possa magoar e finalmente espalhar o sal por todo o lado para garantir que não sobra uma réstia de gelo. Acaba-se a limpeza suando em bica, guarda-se o material até à próxima manhã mas depois é ainda preciso limpar o carro se queremos conduzir. É preciso calçado adequado e resistente e também é preciso que nos descalcemos antes de entrar em casa, sob pena de espalhar a água e o sal por todo o lado.
Dias de neve são dias de pegadas em todas as divisões da casa. São dias em que muitas pessoas desistem mesmo de sair de casa, embora eu nunca tenha visto nevar mais do que uns centímetros. São dias em que os engarrafamentos são intermináveis, em que se demoram horas para fazer meia dúzia de quilómetros, em que talvez tivesse mesmo sido boa ideia não sair da cama. Eu invejo o sentido prático das pessoas que vivem no Norte da Suécia ou na Finlândia ou na Sibéria: a vida tem de continuar e todas essas pessoas conseguem viver e trabalhar mesmo com temperaturas dezenas de graus abaixo de zero e nevões que realmente impactam a vida normal. Aqui, caem três centímetros de neve durante a noite e as pessoas subitamente transformam-se, como se fosse a primeira vez que conduzem com neve na vida.
É preciso dizer que, a par da paisagem silenciosa e branca, há apenas outra coisa que faz a neve valer a pena: os gritinhos de alegria dos miúdos no recreio da escola, enquanto a campaínha não se faz ouvir. A excitação era evidente e também na nossa casa se perguntou logo se não podíamos ir fazer um boneco de neve - óbvio! De resto, acordem-me quando já estivermos na Primavera.
2 comentários:
Querida, não posso comparar a minha situação qd estava no Canadá, contigo, mãe de três!
Eu realmente o Inverno em Montreal...
Sim eu não gosto de frio nem do Inverno...acho que ele so foi mesmo feito para dar-mos valor ao Verão. Gosto do Outono, das cores, da brisa...mas quando chega o inverno, toda eu sou chata que reclama com tudo: das pegadas no chão de casa, do frio, do excesso de roupa, da conta o aquecimento, da chuva no meu cabelo...ufff... o que vale é que ja estamos a caminho da primavera!!!
Enviar um comentário