abril 06, 2004

Às vezes sinto-me um bocado angustiada porque não consigo, como a maior parte das pessoas, expulsar devidamente a raiva que vai acumulando cá dentro. Não tenho nenhum saco de areia ou uma bateria em casa. Em ambos os casos ia desancar alguma coisa (se bem que as coisas não têm ancas). E como agora estou num desses momentos em que precisava de cuspir a raiva toda, lembrei-me de enumerar as 'coisinhas' (reparem na raiva com que digo isto, dentes cerrados) que mais me dão raiva.

a)Dentro do autocarro
. as pessoas que cortam as unhas na carreira 46 que vai até à Damaia
. as pessoas que trocam de lugar mais de uma vez numa viagem entre a Praça do Chile e a Alameda
. as pessoas que falam tão alto ao telefone que o autocarro inteiro se sente constrangido e tenta não incomodar
. as velhas que usam peruca (não só as dos autocarros mas em geral)
. todas as pessoas que manobram as chatices que acontecem nos autocarros para expulsarem demónios (aqueles que, não tendo sequer um amigo, acham que discutir por causa de um lugar sempre é uma maneira tão digna como outra qualquer de comunicar com alguém)

b) Na rua
. as pessoas que ficam a ver montras, longe do vidro, impedindo as pessoas de passar
. as pessoas que, em dias de chuva e levando chapéu de chuva, continuam a circular encostadas aos prédios, deixando as pessoas sem chapéu à mercê da intempérie ( já antes bem lembrado aqui)
. ter que olhar constantemente para o chão, de modo a não pisar nenhuma oferta simpática dos cães da minha rua
. o cheiro de muitas pessoas com quem me cruzo diariamente
. ter que passar mais que uma vez por dia pela montra da 'Foto Toni', que até tem lá uma fotografia daquele miúdo que faz novelas na TVI, que é tão giro, ai, como é que ele se chama, eu já vi as novelas todas que ele fez, sei o nome..

c) No café
. as pessoas que falam tão alto que é impossível não ficar a saber quem é que deve a quem e quem encornou quem
. os empregados que não nos ligam nenhuma só porque não temos pinta de estrangeiros
. empregados que usam diminutivos em todo o lado ( 'Aqui está a sandezinha e mais a minizinha' ou 'Quem vai comer o resto desse bifinho? Querem que apague a luzinha?')
. pessoas que comem de boca aberta e nos deixam vislumbrar em momentos o belo do bolo alimentar (contra a minha família falo)
. pessoas que deixam 10 cêntimos de gorjeta (faziam como eu, que não deixo nada e era bem mais digno para quem não recebe)

d) No cabeleireiro
. as mulheres que passam a sessão inteira a espreitar as outras pelo espelho para tentar adivinhar 'onde é que aquela ordinária comprou aquele casaco bem engraçado?'
. as cabeleireiras estagiárias (ou lá como lhes chamam), pela reconhecida inaptidão para todos os serviços de cabeleireiro. Ser cabeleireiro/a é um estado de alma com o qual se nasce já.
. as funcionárias a dizerem mal da patroa
. a patroa a descompôr as funcionárias
. não terem revistas cor de rosa actualizadas, é sempre tudo do mês passado, caramba! Uma pessoa quer saber da vida do jet-set e nem aí pode
. o facto de ser apenas (encoberto, é certo) um salão de escárnio e mal dizer

e) No geral
. pessoas que não concordam com a minha opinião
. pessoas que são demasiado felizes
. pessoas que não têm a mínima ideia de como se comportar em grupo
. a Avril Lavigne
. o chefe da cantina da minha faculdade
. pessoas que não gostam do mesmo que eu
. autocarros cheios, a cheirar a suor
. pessoas que me acham parva
. pessoas que pensam que podem brincar comigo e tentar manipular os meus sentimentos a seu bel-prazer

.tudo o que não me faz feliz.

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