julho 14, 2005

Aproveitando a onda religiosa, fica aqui a religião por mim fundada. Visto aqui, cortesia do meu amigo Henry (ler em francês sff) e gerado aqui.


O Novo Testamento segundo Marisa

Para grande surpresa de seu marido, a Virgem Tatiana estava grávida. Felizmente, um anjo explicou para Virgem Tatiana que seu filho era Daniel Cristo, Senhor do mundo, o glorioso Irmão de Deus (e Estudante nas horas vagas). No dia de seu nascimento, os anjos ordenaram que os pastores seguissem o brilho da Esmeralda para encontrá-lo. Além disso, três Sagazes Cachalotes vieram trazendo valiosos presentes: Relógios e Chinelos. Passado algum tempo, sucedeu que Daniel Cristo foi batizado, sendo submergido em Cerveja. Então proferiu o sermão da Lisboa. No sermão da Lisboa, Daniel Cristo ensinou: Bem-aventurados os Atentos, pois eles serão os Honestos; Bem-aventurados são os Preserverantes, pois deles será o Reino dos Céus. Daniel Cristo também fez muitos milagres, como quando transformou Livro em Caneca durante o casamento de um amigo; também fez um Eficaz recuperar-se com uma simples palavra. Infelizmente, os governantes ficaram muito bravos com a influência de Daniel Cristo, e então Ouviram e Caminharam e Sentaram Daniel Cristo, que apenas disse: perdoai-os, eles não sabem o que fazem. Mas algum dia ele retornará em glória e magnificência para o julgamento final, então prepare-se! Daniel Cristo retornará. O fim está próximo. Hah.
[Num dos aborrecidos e irritantes programas da manhã da televisão portuguesa]

Jorge-Gabriel-wanna-be: Sr. Padre porque é que a Igreja esconde tanto os exorcismos?
Sr. Padre-ainda-na-Idade-Média: Olhe sei lá. Isso tem que perguntar a ela.

Hum. E eu a pensar que o Sr. Padre era justamente um representante dessa tipa.

Ah. Quase me esquecia. Mulheres grávidas e/ou menstruadas não devem pisar cemitérios ou acompanhar funerais. Estão vulneráveis e com "espaços vazios que podem ser preenchidos pelo Demónio". As coisas que uma pessoa aprende nos programas da manhã...

[Depois admiram-se quando as pessoas preferem largar superstições e fenómenos ocultos que só enegrecem ainda mais a ideia de pecado, já absurda em si mesma, e se dedicam antes a viver com prazer, liberdade e a controlar o seu próprio destino. Bah]

julho 08, 2005

O meu almoço nos dias de trabalho, mais que ser importante pelo reconforto do estômago, é um momento privilegiado para desligar-me das obrigações. Por isso, levo o tupperware, sento-me assim

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debaixo da árvores num parque cheio de imigrantes ilegais, velhos prevertidos e marginais(ok, talvez não seja assim tão mau). Escolho o banco menos sujo pela praga nojenta que são os pombos da cidade, como a minha refeição frugal e atiro-me ao livro do momento

Quando venho a casa e quero descansar de miúdos mal educados e irritantes; velhos que não sabem para onde estão a ligar; pessoas insatisfeitas; pessoas arrogantes; pessoas com razão; pessoas que não têm mais nada para fazer e chateiam os outros; pessoas solitárias; pessoas que eu não compreendo - Pessoas no geral - , banho-me aqui

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Depois, é só estender-me na toalha, fechar os olhos ou olhar longamente os aviões que cruzam o céu incrivelmente azul. Imagino as pessoas que vão lá dentro, a comerem coisas embaladas e sem sabor, a olharem cá para baixo ou a combaterem o medo de voar. Os meus preferidos são os aviões que não deixam rasto. Mas os olhos fechados, só a gozar o momento, não me deixam olhar muitas vezes os aviões. Escondo a cara do Sol e fico ali a fingir que já não há mais Pessoas a precisar de mim.

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julho 07, 2005

Eu sei que, um dia, já não vamos precisar de sofrer assim.



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Pela quarta vez em 8 anos, mudei de casa em Lisboa. E agora mudei para onde nunca me imaginei a morar: sou menina de Telheiras, agora. O meu coração estará para sempre ligado à zona de Arroios e dos Sapadores, zonas que não são apreciadas por muita gente. Diz-se que são zonas escuras, sujas, pobres mas talvez sejam apenas mais reais. Mesmo a rebentar pelas costuras com os imigrantes que aparecem de todo o lado, aqui há lojas com fruta verdadeira, cafés bem tirados e esplanadas com caracóis dos bons. A zona que circunda a minha nova casa tem pastelarias mais finas, hipermercados e, desgraça das desgraças, o estádio do Sporting quase sempre no horizonte.


É claro que posso alegar que a casa é mais barata. E que, finalmente, moro numa vivenda (horrível mas vivenda). E que até tenho um super ginásio quase à porta. Mas este mundo é muito menos habitado que a Morais Soares. As pessoas moram aqui mas não estenderam aqui as suas raízes, só aqui estão porque há espaços verdes e as crianças podem andar no ballet e no inglês e na informática e porque o eixo Norte-Sul passa aqui ao lado. Quem nasceu verdadeiramente em Telheiras deve ter hoje 15 ou 16 anos, cabelo irritante a cair sobre a testa e gostar de frequentar essa epidemia chama Cup&Cino (ou lá como se escreve o nome desta cópia portuguesa do Starbucks). Mas não vou lutar contra isto tudo. Já lá estou, quero continuar a estar, vou só deixar que tudo me passe ao lado.

Outro mal das mudanças é que temos que agarrar (quase literalmente) na nossa vida e levá-la para outro lado. E quem, como eu, já está fora de casa há oito anos sabe como é difícil carregar toda a tralha que se junta numa casa, em duas casas, três casas... A fase de escolha do que se vai levar é sempre penosa: enchem-se sacos com roupa que já não nos serve, amarrotam-se bilhetes de cinema que não se sabe muito bem porque foram guardados, esvaziam-se gavetas empenadas com inutilidades. Depois é preciso contar com a ajuda masculina (que, além da força, oferece também aquela magnífica capacidade de se saber exactamente como devemos arrumar coisas na mala de um carro), com mais mulheres dispostas a limpar o rasto de destruição que vai ficando (porque uma mudança é um ataque terrorista a um pedaço de via que já estava a ser edificado) e uma certa capacidade de lidar com o Novo. Finalmente, recomenda-se uma boa capacidade de ignorar, com elegância e convicção, os momentos bons que se passaram na casa que vamos deixar (para não rebetarmos em lágrimas inúteis) e esperar apenas pelo bom que a nova morada pode trazer. E como quando saio de casa todos os dias o que vejo é isto, sei que vai de certeza ficar tudo bem.
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(Obrigada D.)